A ironia de Pinto da Costa, ironicamente, não é ironia
QUAL é a melhor maneira de credibilizar um Parlamento abalado pelo episódio do ministro que fez corninhos na direcção de um deputado? Talvez tentar restituir-lhe o prestígio convidando para almoçar um dirigente desportivo que cumpre pena de suspensão de dois anos por tentativa de corrupção. Foi o que fizeram algumas dezenas de deputados. A ideia é excelente, claro, mas apesar de tudo não é original. O almoço anual de Pinto da Costa na Assembleia da República já é uma tradição. Sabia-se que as escutas tinham sido ignoradas pelo tribunal, agora sabe-se que também foram ignoradas pelo Parlamento. Só espero que os organizadores tenham tido o bom senso de retirar da ementa da patuscada a fruta e o café. Podiam ser pretexto para conversas embaraçosas.
No fim do almoço, houve a «habitual ironia» de Pinto da Costa. Sempre que o presidente do Porto abre a boca, a imprensa regista-lhe a «habitual ironia». A «habitual ironia» de Pinto da Costa é extremamente curiosa, sobretudo porque, sendo habitual, raras vezes é ironia. E é frequente que as suas declarações escarneçam mais do próprio do que do alvo que pretendem atingir. Recordo o dia em que, depois de uma derrota do Porto por 4-0, o jornalista perguntou a Pinto da Costa se era caso para dizer que o Porto não tinha estado presente naquela noite europeia. Pinto da Costa, cuidando estar a zombar do jornalista, disse que não, uma vez que, se o Porto não estivesse estado presente, o resultado teria sido 0-0. Acabou, como é óbvio, por troçar de si próprio, porque pelos vistos a equipa que ele dirige consegue melhores resultados quando não joga. Normalmente, quando Pinto da Costa julga que está a fazer figuras de estilo, está na verdade a fazer figuras tristes.
Entre Maio de 2003 e Julho de 2009, o Porto facturou 322,64 milhões de euros em transferências de jogadores. As contas do clube, apresentadas no mês passado, indicam que o passivo subiu para 144,8 milhões de euros (aumento de mais de três milhões em comparação com o ano anterior), e que a SAD teve um prejuízo de 6,4 milhões de euros. É a equipa que mais factura no Mundo, e ainda assim dá prejuízo. Ora aqui está (até que enfim) uma ironia — e das grandes. É possível que seja esta a celebrada ironia de Pinto da Costa. À atenção dos jornalistas.
ONTEM, o Sporting perdeu com uma equipa da segunda divisão inglesa. Estamos ainda no princípio, evidentemente. O treinador é novo, os reforços são mais que muitos, e por isso é natural que esta equipa ainda não funcione. Mais cinco ou seis anos de trabalho e julgo que este Sporting poderá mesmo começar a cilindrar equipas de escalões secundários. Rochemback bem avisou que o Sporting era o mais forte do campeonato. O problema é que, com Rochemback, nunca sabemos se forte significa potente, ou se estamos perante aquele eufemismo que se usa para não dizer gordo, como na frase «A tia Fernanda era uma senhora magra, mas agora é a mais forte do prédio».
Por Ricardo Araújo Pereira, Edição 12 Julho 2009 - Jornal "A Bola"
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