Óscar
Nem sei o que escrever sobre este jogo. Talvez tenha sido um grande jogo, daqueles com muitos golos de que toda a gente gosta. Eu não me diverti nada, como é habitual nesta situação: não gosto de jogar contra esta gente, detesto tê-los em minha casa, e fico demasiado enervado durante todo o tempo que tenho que os aturar. Ainda estou, aliás, enervado. Estou satisfeito porque ganhámos e nos vimos livres deles, mas insatisfeito por não termos resolvido o jogo de forma mais convincente, em noventa minutos, e por termos desperdiçado uma vantagem de dois golos voltando a sofrer golos perfeitamente imbecis no seguimento de bolas paradas. O Benfica tem a obrigação de fazer muito mais frente a uma equipa com uma fracção do nosso orçamento, e que dispõe de menos qualidade e opções, posição por posição, no plantel.
Uma única mexida no onze de Atenas, mas sem alteração da táctica: André Almeida em vez do Maxi na direita da defesa. O jogo foi disputadíssimo e equilibrado desde o apito inicial, com a bola a andar longe das balizas, mas da primeira vez que o Benfica rematou à baliza, marcou. Foi um livre directo na zona preferida do Cardozo, perto da área e descaído para a direita, e o remate rasteiro deste passou sob a barreira sem deixar possibilidade de reacção ao guarda-redes. Quase de seguida ficámos perto do segundo golo, num lance em que o Enzo amorteceu para o remate de primeira do Cardozo, que foi correspondido com uma grande defesa do guarda-redes. Continuou o jogo na mesma toada, intensamente disputado, jogado a um ritmo elevadíssimo, mas com muito poucas ocasiões de remate para qualquer uma das equipas. Isto mudou no período louco que foram os últimos dez minutos da primeira parte. Primeiro sofremos o golo do empate, num grande cruzamento vindo da esquerda da nossa defesa que encontrou um jogador adversário solto do lado contrário para uma boa finalização de primeira, que não deu qualquer hipótese ao Artur. Depois foi uma boa reacção do Benfica ao golo sofrido, respondendo com dois golos de rajada, aos quarenta e dois e quarenta e quatro minutos. Ambos, inevitavelmente, da autoria do Cardozo. O primeiro numa jogada em que o Enzo desmarcou o Gaitán na esquerda, que com um cruzamento perfeito enviou a bola para o segundo poste, onde o Cardozo apareceu solto a cabecear de forma certeira. O segundo em novo cruzamento da esquerda, desta vez rasteiro, do Rúben, que o Cardozo se encarregou de finalizar com uma bomba de pé esquerdo. O jogo parecia (e deveria) ter ficado resolvido naquele momento. Mas muito mais estava para vir.
Entrou bem o Benfica na segunda parte. A vantagem dava confiança e o adversário parecia afectado por aqueles dois golos sofridos logo a seguir a ter chegado à vantagem. Era o Benfica quem tinha mais bola e se acercava mais da baliza adversária, deixando no ar a possibilidade de poder ampliar o resultado. Mas a situação alterou-se num instante, passados os primeiros quinze minutos. Primeiro, um remate muito perigoso ainda bem de fora da área obrigou o Artur a uma intervenção difícil, e no canto que se seguiu sofremos o segundo golo, com um dos centrais adversários a surgir na zona do primeiro poste para um cabeceamento cruzado. O golo relançou a incerteza no vencedor do jogo, o nosso adversário ganhou confiança, e o Benfica pareceu-me ter decidido arriscar menos no ataque, optando por tentar reter a bola e desacelerar o ritmo do jogo. A substituição forçada do Rúben, a vinte minutos do final, também não nos favoreceu, pois o Gaitán, que foi deslocado para o centro, não tem a mesma capacidade de luta e como tal perdemos alguma força nessa zona do campo. Mas de qualquer forma o tempo ia correndo a nosso favor, e a verdade é que ameaças às balizas (e nomeadamente, à nossa) eram quase inexistentes. Mais uma vez, tudo mudou nos minutos finais. Primeiro o Markovic, de cabeça e após livre do Gaitán, enviou a bola à barra; logo de seguida foi o Cardozo, depois de mais um grande cruzamento do Gaitán, que tirou o defesa da jogada e viu o quarto golo ser-lhe negado por uma grande defesa do guarda-redes; finalmente, e quase na resposta, foi o nosso adversário quem viu a bola ser devolvida pelo poste numa jogada em que o seu jogador se isolou frente ao Artur. E foi já no tempo de compensação que em mais uma bola parada consentimos o empate. Num livre marcado sobre a direita da nossa área o Garay não conseguiu cabecear e nas suas costas surgiu um adversário a cabecear para o golo e a levar o jogo para prolongamento.
E no prolongamento a sorte acabou por sorrir-nos. O jogo parecia estar de volta à toada de equilíbrio, mas um lançamento de linha lateral do Sílvio, na esquerda, resultou numa embrulhada entre o Luisão e um adversário, e já no chão o nosso capitão ainda conseguiu cabecear a bola, que de forma frouxa e enrolada passou por debaixo da pernas do guarda-redes, que já não conseguiu evitar que ela ultrapassasse a linha. Foi um frango enorme de um guarda-redes que durante o jogo já tinha evitado o nosso golo num par de ocasiões, e ainda viria a evitá-lo novamente até final. Este golo fez o jogo pender para as nossas cores novamente. Durante o prolongamento voltámos a ganhar alguma serenidade (a entrada do André Gomes sobre os noventa minutos e o regresso do Gaitán à esquerda trouxeram mais algum equilíbrio à equipa), o adversário foi obrigado a expor-se mais, e nós aproveitámos os espaços para criar algumas situações que poderiam ter resolvido o jogo mais cedo - as mais flagrantes nos pés do Ivan Cavaleiro e do André Gomes, que atirou ao poste. Do lado adversário, uma grande ocasião também, num cabeceamento que passou muito perto da nossa baliza quando quase parecia ser mais fácil marcar. Nos minutos finais, beneficiámos ainda de superioridade numérica após a expulsão de um dos centrais adversários.
Oscar Cardozo, indubitavelmente, o homem do jogo. Marcou um hat trick dos verdadeiros. O terceiro golo foi muito bom, pois o remate de primeira foi indefensável, mas gostei particularmente do segundo, pois toda a jogada foi bonita e o Cardozo apareceu no sítio certo a cabecear de forma exemplar e certeira - ainda para mais quando o jogo de cabeça até nem é um dos seus pontos mais fortes. Gostei muito, para não variar, do Enzo, que trabalhou imenso e saiu esgotado, e do Gaitán, que foi o nosso jogador mais criativo (ele por norma costuma jogar quase sempre muito bem contra o adversário desta noite). O Garay não esteve ao seu nível no seu centésimo jogo com a nossa camisola. Os dois golos sofridos de bola parada são prova disso.
Ganhámos, como devíamos ter ganho e era expectável que o fizéssemos. Mas podia ter sido melhor. Devia ter sido melhor. Eram dispensáveis o prolongamento e o sofrimento. O jogo estava ganho ao intervalo. Não podemos continuar a cometer erros estúpidos nas bolas paradas. Temos o mesmo treinador e os mesmos jogadores. Não há justificação para que de um momento para o outro tenhamos desatado a sofrer golos desta forma em catadupa.
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