sexta-feira, 15 de março de 2013

BORDEAUX- 2 BENFICA - 3 - CLASSE

Classe

Parece que o Bordéus ia em dez vitórias consecutivas em casa, em jogos europeus. É natural; ainda não tinha jogado contra o Benfica. Com concentração, personalidade, empenho e pinceladas de classe, o Benfica conquistou a vitória em Bordéus, deu uma grande alegria à maré vermelha que o apoiou em França, e passou aos quartos-de-final com relativa tranquilidade - mas apesar da passagem na eliminatória nunca ter chegado a estar em causa, o jogo em si foi muito pouco tranquilo.


Até nem foram muitas as supostas poupanças neste jogo. Dada a ausência da dupla de centrais titular, a escolha recaiu, sem surpresa, no Jardel e no Roderick. É verdade que o André Almeida jogou no lugar do Maxi, mas tal como já tinha escrito na eliminatória com o Leverkusen, o André Almeida tem sido, na prática, o lateral direito titular na Liga Europa. Na frente de ataque jogou o Rodrigo, apoiado mais de perto pelo Gaitán, com muita liberdade de movimentos. O Bordéus entrou forte, conforme esperado, mas após alguns sobressaltos durante o primeiro quarto de hora, resolvidos pelo Artur, o Benfica conseguiu acalmar o jogo e começar a jogar o seu futebol. Com o Gaitán muito activo, inclusivamente a auxiliar na recuperação da bola, o Benfica começava a dar sinais positivos nas saídas rápidas para o ataque, e a criar situações perigosas também. Na melhor de todas colocou o Salvio isolado, mas o remate foi defendido pelo Carrasso. Só que o guarda-redes francês já não esteve tão bem à meia hora de jogo, quando numa saída disparatada a punhos num canto acabou por permitir ao Jardel um cabeceamento para a baliza vazia, que aumentou a vantagem do Benfica na eliminatória para um nível que parecia ser inalcançável para o Bordéus. Os franceses acusaram o golpe, e foi sem grande dificuldade que o Benfica geriu o jogo até ao intervalo.


Voltou o Bordéus para a segunda parte com nova alma, correndo muito e tentando obter algum golo que pudesse lançar uma ínfima esperança na discussão da eliminatória. O Benfica nunca passou por grandes apertos, é verdade, mas o jogo não foi propriamente o ideal para fazer grande gestão de esforço. É que o Bordéus, sem nunca ter estado sequer perto de poder evitar a eliminação, e mesmo em momentos em que tudo parecia estar mais do que decidido, numa demonstração de brio nunca virou a cara à luta e os seus jogadores correram até ao último segundo, disputando cada bola. Talvez tenha sido para defender o referido registo vitorioso na Europa, ou para responder às críticas do presidente, o que é certo é que isto obrigou também os nossos jogadores a correr bastante e a esforçarem-se para ganhar este jogo - a parte positiva é que se, supostamente, a equipa do Benfica está em défice físico, então eu não notei nada disso neste jogo. Durante a segunda parte, aliás, apesar do esforço dos jogadores do Bordéus, fiquei sempre com a sensação de que seria muito provável o Benfica voltar a marcar, pois o Bordéus ia descuidando cada vez mais a defesa e sujeitava-se aos nossos contra-ataques. Quando faltavam pouco mais de vinte minutos para o final o Benfica trocou de avançados, e entrou o Cardozo, que acabou por se revelar absolutamente decisivo. O Bordéus, de forma um pouco inesperada, conseguiu chegar ao golo do empate quando ainda faltavam quinze minutos para o final, num lance em que o Diabaté aproveitou um corte defeituoso do Jardel, mas nem teve tempo para festejar, porque no lance seguinte o Gaitán fez uma óptima assistência para o Cardozo, que com toda a calma evitou o defesa e sentou o guarda-redes, para depois voltar a colocar o Benfica em vantagem. A eliminatória estava mais do que resolvida, e o que me interessava agora era mesmo vencer o jogo. Mesmo a finalizar os noventa minutos parecia que não iríamos consegui-lo, porque o Jardel desta vez marcou na baliza errada quando tentava aliviar uma bola defendida pelo Artur para a frente, mas no período de descontos o Cardozo voltou a entrar em cena e aproveitou uma bola longa para, mais uma vez com classe, sentar o defesa e colocar a bola rasteira fora do alcance do guarda-redes.


Inevitavelmente o Cardozo é o homem do jogo. Jogou apenas vinte e cinco minutos, mas fez dois golos com finalizações de grande classe que nos garantiram a vitória. Gostei bastante do Gaitán, nosso capitão esta noite. Esteve muito activo durante todo o jogo, e ao contrário do que muitas vezes é habitual, trabalhou bastante no auxílio às tarefas defensivas. Fez ainda o passe para o nosso segundo golo - hoje a braçadeira assentou-lhe muito bem. O Matic foi enorme no meio campo, bem ajudado pelo Pérez. O Roderick cumpriu sem comprometer, e até acabou por ser o Jardel a ficar mais directamente ligado aos golos do adversário.

Com toda a naturalidade, estamos nos quartos-de-final da Liga Europa. Desde que o Jorge Jesus é treinador, esta fase das competições europeias tem sido o mínimo todas as épocas (quartos-de-final da Liga Europa em 2009/10, meias da mesma competição em 2010/11, quartos da Champions em 2011/12). O campeonato terá que continuar a ser a grande prioridade, mas depois de tantas presenças seguidas nestas fases, não custa muito ambicionar a chegar um pouco mais longe.

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