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Acordar do pesadelo a horas de ir trabalhar
Que chatice é ter um compromisso importante de manhã e o despertador não tocar, não é? Há a obrigação de chegar a horas à reunião ou, imaginemos, de ganhar para continuar na frente do campeonato. Mas o despertador não toca, a bola não entra. O pior de tudo é estar a ter um pesadelo e perder-se noção do tempo por causa dele. O Benfica que o diga. Muito sofreu mas, cinco minutos depois dos 90′, houve grande penalidade assinalada, Lima marcou o único golo da partida e os encarnados voltaram a dar a mão ao Porto.
Sem Matic e Cardozo, Jorge Jesus foi obrigado a mexer, e o esquema táctico dos encarnados mudou. André Almeida substituiu o sérvio, viu Enzo Pérez ocupar terrenos um pouco mais adiantados. Nas asas, Salvio e Ola John tentavam fazer a águia voar – algo que aconteceu poucas vezes. Tudo isto, no apoio ao inevitável Lima e a Rodrigo, que voltou a sair frustrado depois de outra oportunidade não aproveitada para singrar.
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Do outro lado, Pedro Emanuel tinha anunciado que não ia à Luz jogar com o autocarro à frente da baliza. De facto, o treinador da Briosa não mentiu porque não se viu nenhum autocarro no sentido literal. Mas viu-se um bloco baixo, muito compacto, sempre muito cínico a cortar as asas ao Benfica, enquanto, nas poucas vezes que tinha a posse de bola, tentava apostar no contra-ataque.
Numa descida a pique sem travões
Que comece o pesadelo. Umas vezes tem-se pesadelos em que se vai a conduzir e o carro fica sem travões. Ora, o que aconteceu na Luz foi que os encarnados não conseguiam era marcar golos. Logo aos 6′, Rodrigo rematou às malhas laterais, mas o jogo começava mole, sem grandes motivos de interesse. O Benfica pressionava, a Académica contava com Salim Cissé quase sempre sozinho na frente.
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Aos 26′, o travão continuava a não funcionar e o carro não parava. Primeiro, Ricardo defendeu o cabeceamento de Lima. Depois, o remate cruzado de Enzo Pérez. Chegava o intervalo, Ricardo reagia bem, os adeptos benfiquistas ainda não estavam impacientes mas começavam a temer que o despertador não tocasse para acordarem do pesadelo.
Refrescadas do descanso, as águias voltaram decididas a desbloquear o marcador mas o poste impediu Ola John de festejar, momentos depois de o público afecto ao Benfica ter pedido grande penalidade por alegada mão de Hélder Cabral. Seguiu jogo. O jogo voltaria a adormecer, a Académica fechava-se que nem uma tartaruga e os encarnados nada conseguiam fazer.
Entrou Kardec. Entrou Gaitán. Entrou Carlos Martins. Nada mudava. Muita insistência, muito volume ofensivo, poucas oportunidades concretas. O desespero benfiquista atingiu o seu ponto mais alto quando Ricardo brilhou e desviou um remate potente de Melgarejo para a trave. Era um daqueles dias. O despertador não tocava mesmo e o sol começava a aparecer.
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Lusco-fusco com gosto canarinho
A diferença no volume de ataque era gigantesca, Luisão e Garay jogavam no meio-campo da Académica, que tentava surpreender numa jogada de ataque rápido. Mas o despertador ia tocar mesmo. A bola voou para a grande área dos estudantes, Gaitán cai embrulhado com João Dias e Nuno Almeida aponta para a marca de grande penalidade.
Aí estava o pesadelo supostamente a acabar. Ou será que ia ficar ainda mais negro? Não. O brasileiro Lima esteve muito calmo e, mesmo na hora de acordar, bateu com propriedade e deu uma vitória absolutamente fundamental aos encarnados.
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Os desacatos no final foram despropositados, mais uma vez a manchar o nome do futebol português, mas, no final de contas, o que fica na ficha é que o Benfica volta a colar-se ao Porto com 49 pontos. O despertador tocou. O Benfica não faltou à reunião. O pesadelo acabou. Pelo menos no amanhecer de hoje
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