Mitroglou vira o dérbi e a liderança para o Benfica
Por João Paulo Godinho sapodesporto@sapo.pt
O Benfica foi a Alvalade vencer o Sporting, por 0-1, e é o novo líder da Liga. O golo de Mitroglou permitiu a Rui Vitória somar o seu primeiro triunfo em jogos com os rivais e os encarnados fizeram a festa.
A partida da 25ª jornada da Liga arrancou sob o signo do equilíbrio e do grande ambiente no recinto leonino. Com o estádio completamente cheio, os encarnados tentaram mostrar-se logo no arranque, estendendo o jogo até à área de Rui Patrício, mas sem acutilância. O Sporting, por sua vez, apostava em controlar a posse de bola e tentar explorar as costas da defensiva do Benfica, onde esta noite o último homem é Ederson, face à lesão de Júlio César.
Com um ritmo algo baixo no encontro, as duas equipas mostravam-se encaixadas e pouco capazes de criar ruturas no adversário. A primeira exceção surgiu aos 16’, com Slimani a fugir no flanco direito e a cruzar rasteiro, mas Lindelof surgiu primeiro a cortar e a evitar a chance de golo do líder do campeonato.
Contudo, a resposta do Benfica chegou pouco depois e com a eficácia que nenhuma equipa havia ainda demonstrado. Aos 21’, Mitroglou finalizou isolado frente a Rui Patrício, depois de um primeiro remate de Samaris que foi travado pelo próprio avançado. O grego aproveitou a bola perdida e a escorregadela de William Carvalho para voltar a marcar em Alvalade, como já havia feito no jogo da Taça de Portugal.
O Sporting tentou reagir e cresceu claramente na partida. Com mais posse de bola, clarividência e uma maior intensidade no meio-campo, os leões foram empurrando os encarnados para a sua área. Aos 40’, Jefferson protagonizou mesmo a melhor chance leonina, ao atirar de fora da área à trave da baliza de Ederson. O guardião do Benfica estava batido.
No entanto, o resultado de 0-1 não se alterou e foi com esses números no marcador que Artur Soares Dias apitou para o intervalo.
No segundo tempo, o filme não mudou muito. O argumento que já se estava a escrever após o golo do Benfica teve direito a uma sequela, com uma reação ainda mais forte do Sporting. Os leões voltaram com outra dinâmica, maior agressividade e intensidade. Essa alteração estratégica ditou um ritmo mais elevado da partida, mas também algo caótico, com mais perdas de bola e passes falhados.
O meio-campo do Benfica caia a pique nesta fase, incapaz de segurar o caudal ofensivo do Sporting. Bryan Ruiz aparecia cada vez mais no jogo, tal como Slimani, mas encontraram forte oposição de Ederson na baliza encarnada. No entanto, Jorge Jesus queria mais da equipa e lançou Téo Gutierrez para o lugar de Bruno César.
Porém, a maior ocasião de golo do Sporting só chegaria aos 72 minutos. A escassos dois metros da baliza deserta, Bryan Ruiz não conseguiu encostar para o golo num cruzamento do flanco direito e atirou por cima, deixando os quase 50 mil adeptos leoninos incrédulos. Já Rui Vitória via a sua equipa a tornar-se inexistente no ataque e mexeu no jogo, lançando primeiro Raúl Jiménez para o lugar de Mitroglou e mais tarde Fejsa e Salvio para as posições de Pizzi e Jonas, que passou ao lado do desafio e continua assim sem marcar aos rivais.
Nos últimos minutos, o Sporting tentou quase tudo, mas a falta de clarividência e os nervos tomaram conta do encontro. De tal forma que após uma falta de Renato Sanches a meio-campo, Adrien foi expulso do banco de suplentes, onde já estava após ter dado o lugar a Gelson (entretanto, também João Pereira tinha saído para ceder o lugar a Schelotto).
Os últimos minutos passaram sem grande relevância, uma vez que o Benfica procurou de forma ‘matreira’ fazer passar o tempo do relógio, para desespero dos leões. O filme não mudou, o Benfica resistiu e assim venceu o primeiro dérbi da época. A equipa de Rui Vitória quebrou finalmente o jejum e sai de Alvalade na liderança
.Está feito. Sem gritarias, sem arrogância, sem faltas de educação ou de respeito. Com humildade, união, espírito de sacrifício e muito trabalho. À Benfica.
Já sabíamos que o miúdo Lindelöf iria ter mais uma prova de fogo esta noite (se é que ele precisa de prestar mais alguma prova) mas pouco antes do jogo ficámos a saber da lesão do Júlio César, que implicava lançar o Ederson para a titularidade. Acredite quem quiser, mas não fiquei minimamente preocupado, e disse-o aos que me acompanharam nas bancadas de Alvalade. O Ederson tem dado sempre excelente conta de si sempre que foi chamado, e se formos ver bem as coisas, apesar do Júlio César ser um dos esteios da equipa, a verdade é que os jogos contra o Sporting nem foram dos que lhe correram melhor (teve peso na eliminação da taça, por exemplo). Aliás, confesso que já há muito tempo que não ia a Alvalade ver o Benfica sentindo-me tão tranquilo. Para além de uma inexplicável confiança de que iríamos sair de lá com um bom resultado (quanto maior a fanfarronice e as sucessivas faltas de respeito vindas daqueles lados, maior era a minha confiança), desde o empate do nosso adversário em Guimarães que praticamente deixei de me preocupar com este jogo. Simplesmente tinha a convicção de que mesmo em caso de derrota, face aos calendários de ambas as equipas até final, quatro pontos não seriam suficientes para o Sporting conseguir segurar a liderança. O jogo começou a ser jogado de forma relativamente aberta, o que até é habitual nestes jogos até que ambas as equipas encaixem uma na outra. Surpreendeu-me um pouco ver o que me pareceu ser uma maior insegurança do Sporting na defesa do que aquilo que esperava, já que logo nos instantes iniciais os defesas deixaram várias vezes passar bolas ou fugir os nossos jogadores, e revelando uma pouco usual permeabilidade pelo meio. Era notória a preocupação do William com as movimentações do Jonas, usando quase sempre até os braços para o agarrar em cada bola que disputava, mas hoje o Jonas revelou-se mais móvel do que tem sido habitual nestes jogos e por diversas vezes caiu para as faixas ou recuou muito no terreno para conseguir libertar-se e combinar com os colegas. A acção do Mitroglou na frente também era importante, ganhando bolas aos defesas e segurando-a para dar maior profundidade ao nosso jogo.
O jogo andou neste figurino durante a fase inicial, e achei mais uma vez que o primeiro golo seria determinante - na primeira volta o início de jogo também foi semelhante, e depois o nosso adversário marcou na primeira ocasião que teve e foi o que se viu. Mas durante esta fase do jogo o Benfica era a equipa mais perigosa e estava por cima no jogo, conseguindo ignorar e até controlar a euforia quase incontida com que os adeptos da casa encaravam este jogo, e por isso não me surpreendeu que fôssemos nós a conseguir esse importante primeiro golo, com vinte minutos decorridos. O lance começa no Jonas, que sobre a esquerda centra largo para o Pizzi. A defesa do Sporting consegue aliviar para a entrada da área, onde o Samaris tenta o remate de primeira. A bola bate no William e sobra para o Mitroglou, que se voltou mais rápido (enquanto o William foi para o chão) e na cara do Patrício fez aquilo que um matador sabe fazer. Um a zero para o Benfica. Pouco depois o Jesus fez uma alteração táctica, passando o Ruiz, que até então estava a jogar como segundo avançado, para a esquerda, o Bruno César para a direita, e colocando o João Mário mais no meio como apoio ao avançado. Com isto o Sporting começou a ter mais frequentemente superioridade numérica no meio campo, até porque hoje o Pizzi esteve muito mais preso à faixa direita, já que tinha que ter em atenção as subidas do Jefferson. O Sporting passou a ter mais bola e a jogar mais tempo no nosso meio campo, mas felizmente quase sempre sem conseguir criar grandes ocasiões de perigo frente a uma equipa quase sempre muito certinha a defender, que conseguia manter as linhas muito juntas e dar pouco ou nenhum espaço para o Sporting jogar entre a defesa e a linha média, e onde o miúdo Lindelöf chegava e sobrava para o melhor avançado do mundo e arredores que os malvados benfiquistas tentaram à viva força arredar deste jogo. A excepção a esta quase constante tranquilidade (e que excepção) surgiu a cinco minutos do intervalo, quando o Gaitán ficou a ver o Bruno César progredir à vontade pela direita e fazer um passe atrasado para a entrada da área, onde a bola acabou por sobrar para o Jefferson que atirou com estrondo à barra.
Na segunda parte o Benfica pareceu querer entrar mais ou menos como o tinha feito no início do jogo, e ainda teve um par de remates nos minutos iniciais, do Renato Sanches e do Gaitán, que não passaram longe do alvo, mas depressa se tornou evidente que a preocupação maior era mesmo jogar com segurança e manter a vantagem no marcador. Manter a maior parte da equipa atrás da linha da bola, a defesa organizada (mesmo sem o Luisão em campo, hoje a linha do fora de jogo esteve quase sempre bastante bem coordenada) e mesmo quando a bola era recuperada, sair para o contra-ataque com poucos jogadores. O Benfica recuou linhas, o Sporting instalou-se definitivamente no nosso meio campo, e a partir do primeiro quarto de hora desta segunda parte o Sporting teve a sua melhor fase no jogo, e consequentemente foi aquela em que passámos mais dificuldades. Foi nesse período que o Sporting teve as suas melhores ocasiões de golo na segunda parte, ambas nos pés do Ruiz. Na primeira, com a baliza completamente aberta e a dois ou três metros da linha de golo, atirou inacreditavelmente por cima. Muita sorte para o Benfica neste lance. Na segunda, tentou fazer a bola passar sobre o Ederson mas este evitou o golo com a ponta dos dedos. Foi por altura desta segunda ocasião, quando faltava pouco mais de um quarto de hora para jogar, que o nosso treinador trocou o Pizzi pelo Fejsa e começou a resolver o problema da superioridade do Sporting no centro do campo. Minutos depois o treinador do Sporting deu a machadada final quando fez uma dupla substituição, na qual trocou de laterais direitos mas, mais importante, retirou um médio (Adrien) para colocar um extremo (Gélson). O Sporting praticamente morreu nesse momento, pois o Benfica ganhou superioridade total no meio - pouco depois ainda a reforçámos, pois trocámos o Jonas pelo Salvio e passámos a jogar em 4-3-3. Daí até final, incluindo os cinco minutos de tempo adicional dados pelo árbitro, apenas num remate desferido bem de longe pelo João Mário é que o Sporting conseguiu dar alguma ideia de perigo e foi, pelo menos de forma aparente, extremamente fácil ao Benfica levar a vantagem no marcador até ao apito final.
Foi uma exibição muito solidária da nossa equipa, e uma vitória que exigiu muito trabalho. É certo que mostrámos muito pouco no ataque, mas para conseguir limitar as ocasiões de golo de uma equipa treinada pelo Jesus apenas às três que mencionei no texto foi preciso um grande trabalho. E apesar da equipa num todo estar de parabéns, o primeiro que quero destacar é o Ederson. Repito, não me senti minimamente intranquilo por saber que ele iria jogar, e no jogo confirmou que não tinha mesmo razões para tal. Esteve sempre seguríssimo, e começou nele esta vitória. Destaque também para a exibição dos nossos centrais, e em especial para o nosso puto sueco, que voltou a revelar uma frieza e lucidez impressionantes, boa colocação em campo e boa leitura do jogo. Acho que durante os noventa minutos deve ter tido um erro, em que falhou um cabeceamento. O Slimani praticamente não rematou à nossa baliza, e isso em muito se deveu à actuação da nossa dupla central. Menciono em mais uma crónica, e não me vou cansar de o fazer, o 'patinho feio' da nossa equipa, o Eliseu. Sim, não é um dos mais virtuosos do plantel. Mas dá sempre o que tem e o que não tem, e a sua experiência é cada vez mais importante. É benfiquista e sente a camisola. Para mim já merecia uma proposta de renovação. A dupla de avançados trabalhou muito, o Jonas não marcou mas ao contrário de outros jogos deste calibre, em que parece apagar-se, hoje esteve bastante em jogo, mesmo com a carraça do William a agarrar-se a ele o tempo todo. O Mitroglou teve a importância que já referi, e na altura certa mostrou o instinto de matador. Uma oportunidade, um golo. Não se lhe pode pedir mais. O Gaitán esteve apagado, tal como o Pizzi, ambos mais preocupados em fechar as alas e menos influentes pelo centro, como é mais habitual. O Renato Sanches foi importante na ocupação dos espaços e na batalha táctica no meio campo, mas perdeu-se demasiado em iniciativas individuais. O Samaris foi importante a destruir jogo e cortar linhas de passe, mas continua a ser demasiado perigoso nos passes que faz.
Com o Ederson, o Lindelöf e o Renato Sanches no onze, que não tiveram que nascer sequer duas vezes, quanto mais dez, fomos a casa do campeão auto-anunciado desde Julho passado conquistar a liderança e passar a ser a única equipa que agora depende apenas de si própria para conquistar o título. E fizemo-lo bem nas trombas do ordinário que anda a brincar aos presidentes de clube. Temos agora mais nove finais pela frente, que há que encarar com a mesma seriedade e humildade para que possamos, em Maio, ter mais uma vez a satisfação do dever cumprido.
P.S.- É algo que o Benfica já fazia a época passada, mas não deixa de merecer elogio a acção motivacional fantástica de preparar o balneário nos jogos fora para ficar como vemos na foto inicial que ilustra este post. Ninguém diria que se trata de um dos balneários do estádio de Alvalade
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