sábado, 8 de março de 2014

A.VISEU

Do matadouro a melhor jovem da Liga2 Cabovisão: eis Bruno Loureiro


Nem há dois anos, trabalhava num matadouro de dia, enquanto calçava as chuteiras à noite, misturando relva do gramado e terra do pelado. Hoje, é um dos jovens em destaque no segundo escalão do futebol português. Ambição, sonho, desejo, tudo faz parte da crença de Bruno Loureiro, se bem que, mais do que tudo, a ponderação é a principal característica do médio do Académico de Viseu, que contou ao zerozero.pt a magia do típico jovem que vai subindo no futebol degrau a degrau.

Foi no verão de 2012 que, após quatro temporadas no Penalva do Castelo, clube que, quando chegou, estava na antiga II Divisão B, mas que, nos últimos três anos, atuou na extinta III Divisão Nacional, chegou ao Académico de Viseu, muito por 'culpa' de Carlos Agostinho, técnico que já o conhecia e que também rumava nessa data para os academistas, acabados de obter a promoção à II B.
As dificuldades foram algumas, até porque Filipe Moreira entrou no clube pouco tempo depois, numa mudança técnica que mudou também os hábitos de um clube que só treinava à noite, mas que, segundo ordens do novo chefe de equipa, passaria a trabalhar de manhã, numa opção pelo profissionalismo naquele que era o terceiro escalão do futebol nacional. O resultado foi bem visível, já que, no final da época, nova subida de divisão foi alcançada, desta vez ao segundo escalão, um regresso 14 anos depois da queda dos viseenses, que passaram por graves problemas financeiros no início do milénio.


Bruno Loureiro tem subido a pulso ©Rui da Cruz
 Por tudo isso passou o resistiu Bruno Loureiro, que teve que largar o seu curso profissional de informática quando faltavam oito meses para a sua conclusão, isto para que o sonho de fazer rolar a bola ao mais alto nível tivesse mais um passo rumo à realidade.

«Voltarei a estudar porque isso faz parte dos meus planos, considero que é fundamental para o meu desenvolvimento, independentemente de continuar a jogar futebol», explicou ao zerozero.pt o vencedor dos prémios de melhor jovem dos meses de janeiro e de fevereiro na Liga2 Cabovisão, num registo simples e alegre, de quem vai vendo o esforço ser recompensado, numa carreira, hoje em dia, com um percurso pouco usual.

«Sempre fiz a minha carreira a pulso e sem a ajuda dos chamados 'padrinhos' e não deixa de ser curioso que, há duas épocas, andava eu a lutar para não descer na III Divisão Nacional», avaliou o número 23 do Académico de Viseu, que viu os treinadores passarem e o seu estatuto na equipa solidificar-se. Na lógica, estará a chegar mais uma subida na carreira, desta vez ao convívio dos grandes: «No futebol, sempre achei que os meus passos deveriam ser dados de forma sustentada. Estou muito bem no Académico, vivo a dois minutos do estádio e estou em casa, embora claro que ambicione a Primeira Liga. Se fosse com este clube, melhor ainda!»


Em baixo, à esquerda, o 23 é escolha habitual ©Rui da Cruz
 Cafú e João Alves «cinco estrelas» e um clube com condições para mais

O clube de Viseu tem tido um trajeto ascendente neste regresso ao futebol profissional, depois de 14 anos de ausência. No início, ainda 'beijou' os últimos lugares, mas seguiu-se um sopro de afastamento, a que a chegada de Ricardo Chéu veio confirmar.

«O novo treinador veio acrescentar algumas coisas. Não gosto muito de falar sobre isso, mas talvez tenha trazido mais ambição e mais união do grupo, que tem um dos melhores plantéis do campeonato. Com outra primeira volta, estaríamos lá em cima. Tivemos a sorte de alguns jogos até agora, mas também é justo dizer que a procurámos bastante», analisou o médio, que garante que, «com a manutenção praticamente assegurada», a equipa não irá «jogar para aquecer», pelo que o desejo é «a melhor classificação possível».

Afinal, o Académico de Viseu é um dos históricos do panorama português e foi no Fontelo o jogo com maior assistência da época, segundo dados da Liga, um pormenor importante para o jovem premiado em janeiro e agora em fevereiro.

«Há muita gente do Académico de Viseu que liga muito ao facto de eu ser um jogador da terra. Esta questão do prémio é um exemplo, já que, para chegar à eleição final, é preciso ter boas notas nos jornais, mas depois são os cibernautas que votam e aí se vê a força deste clube, que tem o jogo mais visto da Liga2 Cabovisão [3 031 espectadores frente ao Benfica B]. No Ac. Viseu, existem todas as condições para que o clube se torne de Primeira Liga, pois é uma referência da região Centro e de todo o distrito», explicou Bruno Loureiro, ao zerozero.pt.


Defrontou Carlos Martins no jogo com maior assistência na Liga2 Cabovisão ©Rui da Cruz
 Para isso, o clube conta com jogadores jovens, como é o seu caso ou o de Luisinho, «que também poderia ter sido o vencedor destes prémios», mas também com a experiência de atletas outrora na ribalta, tal como o central Cláudio, o médio internacional português João Alves, ou o avançado Cafú.

«São nomes que já estiveram a brilhar na Primeira Divisão, portanto é com jogadores como eles que me identifico, como o João Alves ou o Cafú, que falam imenso comigo e que são 'cinco estrelas', apesar de termos um plantel espetacular, como jogadores e pessoas», rematou.

Já longe dos pelados e perto dos grandes holofotes, passeia Bruno Loureiro pelos relvados da Liga2. Medindo as palavras, sopra o murmúrio dos sonhos do futebol, ainda que pautados pela humildade que faz o sucesso. É ele, o 'Bruninho' do Fontelo, para aqueles que, domingo a domingo, se sentam no banco ou na pedra do estádio de Viseu.

Portugal BRUNO LOUREIRO
Bruno Filipe Santos Loureiro
Portugal Portugal
1989-09-23 (24 anos)
Médio
70 kg
173 cm

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