Estocada
Não foi, longe disso, a final, mas o Benfica esta noite desferiu certamente uma valente estocada na disputa pela conquista do título de campeão desta época. Para tal, venceu em Alvalade e beneficiou da derrota do segundo classificado em casa frente ao Braga, passando agora a ter sete pontos de vantagem sobre o Porto.
Estou habituado a sair satisfeito da casa do Sporting. Desde a primeira vez que fui a Alvalade ver o Benfica, na já longínqua época de 1988/89 (vitória por 2-0 com golos de Valdo e Abel Campos) que não falho um jogo nosso lá, e foram muitas mais as vezes em que o Benfica saiu de lá com um resultado positivo (não fui verificar, mas acho que então no novo estádio a vantagem do Benfica é ainda mais notória). Somando isto à incrível sequência de resultados positivos do Benfica, em particular nos jogos fora de casa, obviamente que as minhas expectativas eram as melhores para este jogo. Antes do mesmo começar, uma notícia motivadora com a derrota do Porto - isto obviamente que não retirava ao Benfica a obrigação de vencer, mas certamente que deve ter ajudado a confiança saber que no caso de uma eventual derrota a vantagem no topo da tabela manter-se-ia. Para o nosso onze, a minha dúvida era apenas saber qual seria a dupla do meio campo, com três candidatos para duas posições. Ficou o Taarabt no banco e jogaram o Weigl e o Gabriel. De resto, o esperado. O Benfica entrou muito bem no jogo. Durante quase toda a primeira parte o Benfica conseguiu ter sempre uma linha de pressão muito alta, a perturbar a saída de bola do Sporting. Duas situações de perigo logo nos primeiros dois minutos foram um bom mote (remate do Cervi já com o guarda-redes fora da baliza que foi interceptado pelo Ilori e remate do Vinícius que passou pouco por cima). A verdade é que qualidade é coisa que não abunda na equipa do Sporting. Bruno Fernandes, Acuña e Mathieu (e não consigo incluir o grande ausente Coates neste grupo; acho-o péssimo) apesar do peso da idade, são as excepções, mas o resto é quase confrangedor. Mas no meio desta falta de qualidade, ainda assim um jogador como o Doumbia consegue destacar-se por ser ainda pior. É inacreditável que um jogador destes consiga ser titular no Sporting. Acho que só no primeiro quarto de hora deve ter perdido a bola para jogadores do Benfica em posições comprometedoras uma meia dúzia de vezes - quando não era ele, era o Wendel a fazer o mesmo. Os nossos médios caíam em cima dos jogadores do Sporting logo no seu meio campo defensivo e o Sporting revelava grandes dificuldades para construir jogadas. Mesmo assim, tinha a sensação de que o Benfica não estava a jogar com o prego a fundo no ataque, parecendo até que havia aquela atitude que por vezes acontece de achar que mais cedo ou mais tarde o golo acabaria por aparecer. É perigoso num jogo destes. O Sporting, apesar de adeptos e equipa (nem vou falar das claques) parecerem de costas voltadas - acho que poucas foram as vezes que fui a Alvalade e senti uma tão grande resignação da massa adepta, que ficou longe de preencher as bancadas - quereria certamente dar uma demonstração de brio e mostrar que os dezasseis pontos que separam as duas equipas na tabela eram exagerados. E foi quase do nada que o Sporting criou a melhor ocasião de golo da primeira parte: uma bola longa metida pelo Bruno Fernandes ainda do seu meio campo que o Ferro não conseguiu interceptar, permitindo ao Camacho rematar ao poste de ângulo apertado. Estava dado o aviso, mas o cariz do jogo pouco se alterou. O Benfica mais por cima no jogo, ainda que sem criar grande volume de situações de perigo e o Sporting incapaz de pegar no jogo e a responder em situações esporádicas. Pelo Benfica, um remate do Pizzi que foi bem defendido pelo Maximiano para canto, uma bola cruzada pelo André Almeida a que o Vinícius ficou a centímetros de chegar e um remate do André Almeida às malhas laterais foram as melhores situações, e pelo Sporting um cabeceamento do Camacho à figura do Vlachodimos, mas que ainda o obrigou a empenhar-se. Nos minutos finais o Benfica abrandou um pouco, mas achei que o amarelo mostrado ao Gabriel (justo pela reacção, mas num lance em que para variar o sempre impune Bruno Fernandes conseguiu não ser amarelado também, apesar de ter feito falta para isso) teve alguma influência, já que fez com que ele se retraísse um pouco na pressão agressiva que vinha exercendo sobre os médios do Sporting.
A segunda parte começou por ser interrompida durante cinco minutos devido ao arremesso de tochas para o relvado por parte das claques do Sporting. Talvez ajude a compreender o porquê do Bruno Fernandes, tendo ganho o sorteio no início do jogo, ter estranhamente escolhido não atacar para aquela baliza na segunda parte, ao contrário daquilo que é tradição em Alvalade. O Benfica veio para a segunda parte com menor intensidade do que na primeira, já não pressionando tão alto. Parecia até que alguém tinha informado os jogadores da derrota do Porto e que portanto até um empate já seria um resultado positivo. O Sporting aproveitou isto para começar a ter melhor saída de bola, e a partir da hora de jogo teve o seu melhor período, conseguindo empurrar mais o Benfica para dentro do seu meio campo. Não me recordo de nenhuma ocasião flagrante de golo (houve um remate mais perigoso do Doumbia de fora da área e um outro do Ilori que acabou por ser mais um passe para as mãos do Vlachodimos) mas durante uns bons dez ou doze minutos o Benfica quase não saiu para o ataque e foi o Sporting quem pressionou mais. As coisas voltaram a mudar quando aos setenta e três minutos o Chiquinho cedeu o seu lugar ao Rafa - que foi mesmo jogar como segundo avançado. O nosso jogo estava a precisar de um desequilibrador como ele, que logo na primeira vez que tocou na bola deixou dois adversários pelo caminho e levou a bola até à area adversária. E não foi preciso esperar muito tempo para o Rafa deixar a sua marca. Aos oitenta minutos, depois de um lançamento lateral a bola foi para dentro da área do Sporting, onde depois de uma série de ressaltos o tanque Vinícius, a meias com o Ilori, deixou a bola no Rafa que finalizou com um remate rasteiro e colocado para o primeiro golo do jogo. Aproveito para dizer que é simplesmente inadmissível que o jogo tenha ficado interrompido durante uns bons três minutos para que o VAR confirmasse a legalidade do golo - a funcionar assim o VAR em nada contribui para melhorar o espectáculo. Ainda faltava muito tempo para o final do jogo, até porque o árbitro deu dez minutos de tempo de compensação (completamente justificados) mas este golo matou completamente o Sporting. Ainda para mais porque todas as substituições operadas pelo Silas falharam rotundamente e ainda pioraram as coisas, enquanto que as substituições do Lage resultaram - para além do Rafa, a entrada do Taarabt para os minutos finais deu ao Benfica uma superioridade bastante evidente no meio campo, remetendo o Sporting para o pontapé para a frente. O Benfica ficou de tal forma confortável no jogo que nem quando foram anunciados os tais dez minutos de compensação deu para me sentir nervoso, mesmo sendo a vantagem no marcador mínima. E claro, deu para fechar com chave de ouro com mais um golo do Rafa. Para reforçar o acerto das alterações feitas pelo Bruno Lage, o Seferovic entrou a três minutos do final e ainda foi a tempo de assistir o Rafa para uma bela finalização de trivela, isto depois de um mau alívio do Ilori.
Homem do jogo, evidentemente, o Rafa. É confortável pensar que o Benfica está na posição em que está mesmo tendo estado privado durante meses de um dos melhores e mais desequilibradores jogadores do nosso plantel e da Liga Portuguesa. O Gabriel fez um jogaço, apesar de por vezes me parecer sentir-se tão à vontade que caiu em exageros individuais em vez de soltar logo a bola de forma mais simples. Se calhar não se falou ou falará muito do Weigl, mas eu gostei da actuação dele e achei que esteve muito bem tacticamente. A forma como lê o jogo e ocupa os espaços que deve ocupar foi o motivo pelo qual o contratámos, e tenho enormes expectativas para ver o que poderá fazer quando já estiver mais familiarizado com os colegas (faço desde já o disclaimer que sou parcial em relação a este jogador, que já admiro há anos desde que ele chegou ao Dortmund). Mas para já, vendo o jogo de hoje, quem é que poderia adivinhar que ele só chegou há um par de semanas? Por último, uma palavra para o Rúben Dias: centralão.
Os nossos adversários mais directos depositavam enormes esperanças para esta jornada, alimentando a expectativa de verem reduzida a diferença que nos separa para um único ponto (ou na pior das hipóteses para uma diferença que pudesse ser recuperada quando nos receberem). Em vez disso acabam a jornada a sete, e pior do que isso, sem matéria para o insolvente vir perorar e tentar intoxicar a opinião pública. No jogo deles, dispuseram de dois penáltis que se encarregaram de falhar. No nosso, nem sequer um lancezinho para conseguirem chamar à primeira página do Nojo a unanimidade do sempre imparcial Tribunal Dourado. Foi uma boa jornada, obviamente, mas a procissão ainda só vai a meio. Isto está longe de estar resolvido e nós próprios somos o melhor exemplo que sete pontos são perfeitamente recuperáveis. Vão continuar a combater-nos com todas as forças dentro e fora do campo (basta ver as nomeações para os dois jogos de hoje para se perceber quanta força está a ser feita fora do campo). Não podemos relaxar ou perder o nosso foco nem por um instante que seja.
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