sábado, 2 de março de 2019

BENFICA - 4 CHAVES - 0 - NATURAL

Natural

Creio que diz muito sobre o estado actual da nossa equipa quando chegamos ao fim de um jogo com um resultado de quatro golos sem resposta e mesmo assim ficamos com a sensação que foi pouco. Foi mais uma vitória sem discussão e nem sequer pareceu que a equipa tivesse forçado muito, porque tudo parece ser feito de forma tão natural.


Não havia André Almeida nem Ferro para este jogo, por isso jogou o Corchia na direita (estreia na liga) e o Samaris recuou para central, ficando o Florentino a fazer dupla com o Gabriel no meio campo. Os primeiros minutos deram logo para ver ao que o Chaves vinha. Simplesmente, não vinham para jogar futebol. Uma equipa extremamente defensiva, a acumular gente junto à área e a tentar queimar tempo sempre que possível - ao fim de dez minutos de jogo já o guarda-redes do Chaves era o homem mais odiado sobre o relvado da Luz, e provavelmente assim teria continuado caso o árbitro de serviço não tivesse feito um esforço notável para arrecadar essa distinção. Normalmente até tenho uma certa simpatia pelo Chaves, mas a jogar desta forma e com este treinador não me parece que fique com grande pena se acabarem por descer de divisão. A resistência do Chaves durou dezanove minutos, altura em que o Rafa aproveitou um ressalto na área para inaugurar o marcador - mas o melhor pormenor do lance foi a recepção do João Félix, que deixou o seu marcador directo completamente fora da discussão do mesmo. Mas nem a perder o Chaves abandonou a postura defensiva. O Benfica ia construindo ocasiões para ampliar o resultado, com o Rafa a desperdiçar por falta de pontaria e o João Félix a ver o guarda-redes negar-lhe o golo, seguindo-se um falhanço incrível do Seferovic na recarga. Mas era apenas uma questão de tempo, e aos trinta e sete minutos o golo inevitavelmente acabou por surgir. Grande passe do Seferovic para uma ainda melhor desmarcação do João Félix, remate de primeira de pé direito defendido pelo guarda-redes e recarga imediata e fulminante de pé esquerdo para o fundo da baliza. A perder por dois o Chaves lá deu um ar da sua graça e saiu um bocadinho lá de trás, tentando pressionar a saída de bola do Benfica. E foi imediatamente punido por isso. O lance do terceiro golo foi simples e eficaz: começa num alívio de bola do Vlachodimos, que a faz chegar ao Gabriel. Toque para o João Félix, que rodeado por três adversários liberta de calcanhar para o mesmo Gabriel. Segue-se um passe de primeira para a desmarcação do Seferovic, que mesmo empurrado ainda consegue rematar e fazer o golo. Tudo isto feito de forma rápida e quando os nossos jogadores estavam pressionados por adversários.


Já nos habituámos a ver o Benfica nunca tirar o pé do acelerador mesmo quando está com uma vantagem confortável, por isso todos nós antecipámos o que a segunda parte traria. Afinal de contas, com o Nacional também estávamos a vencer por três ao intervalo e depois foi o que se viu. E o Benfica não desiludiu, pois veio para a segunda parte como se o resultado ainda estivesse em branco. O Chaves não foi deliberadamente defensivo como na primeira parte, foi sim remetido para a defesa por não ter capacidade para atacar. É que os nossos defesas nem sequer tiveram grande trabalho porque era quase impossível ao Chaves conseguir ultrapassar o Florentino e o Gabriel no meio campo, que recuperavam tudo o que era bola que lhes passasse ao alcance. Sinceramente, face ao número e qualidade de ocasiões criadas este jogo poderia muito facilmente ter acabado com um resultado ao nível do do Nacional. Posso estar a esquecer-me de alguma, mas assim de repente menciono um remate do João Félix para a bancada logo a abrir a segunda parte, quando estava completamente à vontade no interior da área, duas ocasiões do Pizzi negadas por defesas incríveis do guarda-redes, mais uma grande defesa do guarda-redes a um remate do Grimaldo (teria dado um golo parecido ao que ele marcou contra o Boavista) ou um penálti que ficou por marcar sobre o Pizzi. Sobre este lance, achei fantástico que mesmo após indicação do VAR de que tinha de facto sido penálti, o árbitro tenha ido ver as imagens e nem assim foi capaz de assinalar o mesmo. Para variar, o VAR fez um trabalho competente mas o desta vez foi o árbitro que não conseguiu ter coragem para fazer o seu trabalho. O jogo estava mais do que ganho, mas todas estas ocasiões desperdiçadas iam contribuindo para a tal sensação de que era pouco. Num jogo em que assistimos à estreia do Jota na liga (já tinha jogado para a taça), só sobre o minuto noventa é que finalmente marcámos o mais do que merecido quarto golo. O Jonas, que tinha substituído o Rafa, tinha que picar o ponto e fê-lo aproveitando um grande passe do João Félix, que o deixou isolado para marcar, ainda que pressionado por um defesa.


Escolho para melhor do Benfica o Gabriel, mas podia muito facilmente escolher também o Florentino. Qualquer um dos dois foi um recuperador de bolas incansável no meio campo, mas o Gabriel destacou-se como habitualmente nos passes, tendo feito a assistência para o terceiro golo. De mencionar também o João Félix, porque esteve nas jogadas dos quatro golos do Benfica. Uma palavra também para o Corchia, que foi mais um exemplo que neste momento todos contam e é por isso uma opção válida para a posição de lateral direito.

Em tempos não muito distantes uma equipa que viesse jogar à Luz como o Chaves se apresentou teria fortes probabilidades de nos causar sérios problemas. Nos tempos que correm, o táctica ultra-defensiva e voltada para o antijogo resistiu dezanove minutos e foi destroçada com uma facilidade e naturalidade que até nos parece normal. Há muito tempo que não via o Benfica jogar desta forma e que não sentia tanto prazer em ver-nos jogar. É uma equipa onde todos querem jogar e mostram uma enorme alegria em fazê-lo. Cheia de portugueses e de gente nova que já está no Benfica há muitos anos. A minha expectativa é mesmo ver se seremos capazes de segurar todos estes jogadores e consolidar isto, porque se o conseguirmos o futuro será radioso.

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