domingo, 10 de abril de 2016

ACADEMICA - 1 BENFICA - 2 CUMPRIDA

Crença

Mais um jogo de grande sofrimento contra um aflito desesperado por pontos. A Académica jogou um futebol de antanho, com toda a gente metida em cima da sua área, jogadores a simular lesões para perder tempo com assistências ainda na primeira parte, e para piorar marcou um golo no único remate que fez em noventa e nove minutos de jogo. Só mesmo um Benfica muito persistente e lutador, mesmo depois do esforço de Munique, conseguiu arrancar os mais do que merecidos três pontos.


E foi mesmo praticamente a mesma equipa de Munique aquela que iniciou o jogo de hoje, com apenas uma alteração: Samaris no lugar do Fejsa. E sem querer estar a exagerar, ao fim de cinco minutos de jogo já estava a prever que a tarefa seria muito complicada. É que a Académica não saía da defesa, juntava uma multidão de gente à frente da sua baliza, e o Benfica não revelava arte ou velocidade para encontrar soluções, insistindo em tentar entrar pelo meio, obviamente sem grande sucesso. Demorámos mais de um quarto de hora até fazer o primeiro remate do jogo, o que é completamente atípico na nossa equipa. E esse remate até foi uma boa situação, na qual o Gaitán deixou a bola para o Mitroglou, que rematou para as nuvens. Claro que quando defrontamos uma equipa a jogar assim, não fico muito nervoso logo nos primeiros minutos, porque sei que bastará marcarmos um golo que toda a estratégia adversária ruirá. O problema é que se por vezes marcar esse golo é difícil, então se por acaso o adversário marca primeiro, então a tarefa torna-se difícil a dobrar. E para nosso azar, foi precisamente isso que aconteceu. Praticamente na resposta ao nosso primeiro remate, a Académica rematou também e marcou, após um mau alívio do Eliseu que deixou a bola à entrada da área à mercê de um adversário. Foi aí que comecei a sentir-me realmente nervoso, porque o Benfica continuava a revelar-se pouco rematador perante um adversário que deve ter batido o record negativo de posse de bola neste campeonato. A única coisa que os jogadores da Académica faziam era destruir jogo e deixar-se cair no chão - o Benfica é que jogou a meio da semana para a Champions, mas os jogadores da Académica é que já conseguiam ter cãibras com pouco mais de metade do jogo decorrido. Só depois da meia hora é que o Benfica pareceu conseguir acelerar mais e variar mais o seu jogo, começando finalmente a produzir situações de maior perigo, o que acabou por resultar no golo do empate. Marcou o Mitroglou a cinco minutos do intervalo, num cabeceamento muito colocado ao poste mais distante depois de um centro largo do Pizzi (um minuto antes tinha falhado um outro cabeceamento após um canto). E só não saímos a ganhar para o intervalo porque o Pizzi, depois de uma das melhores jogadas que fizemos, ultrapassou o guarda-redes e conseguiu de forma incrível embrulhar-se com a bola e permitir o corte de um defesa sobre a linha de golo.


Esperava que o Benfica conseguisse manter a dinâmica na segunda parte, mas tal não aconteceu. O segundo tempo foi desesperante de ver, porque era simplesmente ver o tempo a passar e o Benfica a tentar encontrar uma aberta na muralha adversária, mas com muitas dificuldades para fazê-lo, regressando ao estilo de jogo do início da primeira parte. Muita circulação de bola, mas pouca capacidade para criar ocasiões de golo, porque a Académica tapava todos os caminhos para a sua baliza, e os seus jogadores continuavam a padecer das piores maleitas imagináveis. O pobre guarda-redes da Académica, imagino, deve ter saído do estádio directamente para o hospital, tantas foram as vezes que teve que ser assistido. Perante um adversário que abdicava completamente de atacar, o Benfica foi naturalmente assumindo mais riscos e apostando cada vez mais declaradamente no ataque. Entrou o Carcela para o lugar do Pizzi, o Talisca para o lugar do Samaris - o que deixou o Renato Sanches a fazer o meio campo quase sozinho. À medida que arriscámos cada vez mais, os remates e ocasiões de perigo começaram a surgir mais frequentemente, em especial através de investidas pela esquerda do Gaitán ou do Eliseu. Numa jogada de risco quase total, a dez minutos do final trocámos o Eliseu pelo Jiménez, ficando o Gaitán a fazer o lado esquerdo todo. Com tanta gente na frente, pelo menos agora as bolas metidas para dentro da área já eram mais vezes ganhas pelos nossos jogadores - às vezes até parecia ser tanta gente lá que eram os nossos próprios jogadores a atrapalharem-se uns aos outros, como aconteceu entre o Carcela e o Jardel num canto. A persistência acabou recompensada a cinco minutos do final. Mais um centro largo vindo da direita, desta vez do André Almeida, e o Jiménez com um toque colocou a bola à sua frente e a seguir fuzilou autenticamente a baliza. Explosão de alegria num estádio quase completamente pintado de vermelho, mas ainda foi preciso esperar mais uns longos treze minutos (cinco de tempo regulamentar, mais seis de compensação, mas dois de compensação sobre a compensação) até podermos celebrar a vitória - e como tínhamos a equipa completamente descompensada, algum azar poderia acontecer. Mas nem mesmo com os seus jogadores a ficarem miraculosamente curados de todas as mazelas de que padeceram durante todo o tempo até ao nosso segundo golo a Académica conseguiu somar um remate ao único que tinham feito até então.


Mais uma vez no final fico com a sensação de que jogámos sobretudo como equipa, e que não houve jogadores a destacar-se muito. Não foi um jogo de grande brilho artístico, mas sim de muito suor derramado e de luta do primeiro ao último minuto. E já que falamos de luta, uma menção para o Renato Sanches, que trabalhou que se fartou durante todo o jogo. Chegou a ser, praticamente sozinho, o meio campo do Benfica, e na fase final do jogo até como uma espécie de defesa esquerdo actuou, já que o Gaitán estava nas últimas e foi ele quem andou a fechar o lado esquerdo da defesa. E um elogio especial para o Jiménez, que no pouco tempo que esteve em campo conseguiu resolver uma situação muito complicada com um grande golo. Continuo a achar que ele marcaria muitos mais se jogasse mais tempo na zona de finalização, em vez de se perder demasiado em movimentações noutras zonas do campo. Para isso temos o Jonas.

E pronto, mais um obstáculo superado. O número continua a diminuir, e a nossa vantagem a manter-se. Vai ser assim até final; todas as equipas querem ter a glória de serem eles a travar o Benfica e eventualmente a impedir o tri. Mas esta nossa equipa tem uma alma gigantesca, e a onda vermelha que a acompanha suporta-a do primeiro ao último minuto. Hoje, a minutos do final do jogo, empatados, o que se ouvia constantemente eram cânticos a incitar a equipa. Nem um assobio, apenas uma crença imensa de que estamos tão perto de poder fazer história mais uma vez. E agora, podemos voltar a pensar em continuar a dignificar o nome do Benfica na Europa. Porque hoje, nem por um instante que fosse me pareceu que a cabeça dos nossos jogadores estivesse nesse jogo. Entregaram-se à luta e deram tudo o que tinham. Como tem sido em todos os jogos.
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