Recital
Mais do que um festival, o Benfica esta tarde deu um autêntico recital de futebol bonito frente ao Nacional, que derrotou sem qualquer tipo de dificuldade ou problemas, tamanha foi a superioridade exibida. Se queixas tenho, só mesmo se for porque acho que o resultado merecia ser mais dilatado, e por a equipa se ter dado mais ou menos por satisfeita ao fim de uma hora de jogo.
Onze sem qualquer surpresa, onde o Lisandro ocupou o lugar do nosso capitão, a cumprir um jogo de suspensão. Nota de maior destaque para o regresso do fantástico Gaitán à equipa, que tanta falta nos fez contra o Rio Ave. Com ele a música é mesmo outra, e passa a ser uma sinfonia. Sobre o jogo, o que dizer? Foi praticamente um passeio triunfal do Benfica na primeira parte, perante um Nacional sem capacidade nem argumentos para montar qualquer tipo de oposição digna desse nome - zero remates feitos, e poucas mais devem ter sido as vezes em que sequer se aproximaram da nossa baliza. Os madeirenses até vinham com intenção de complicar, tentando exercer uma pressão a campo inteiro em que até colocavam três jogadores a tentar pressionar a nossa saída de bola. Mas como é que se consegue marcar e anular toda a gente quando temos Gaitán, Jonas ou Salvio como autênticos diabos vermelhos à solta sobre o relvado? Sempre em movimento, com constantes trocas de posição, e depois quase imparáveis com a bola nos pés, seja em iniciativas individuais ou em trocas de bola ao primeiro toque com os colegas, é quase impossível travá-los. Quanto a nós, que temos o privilégio de ter tais artistas na equipa, é relaxar, apreciar o espectáculo, e começar a ver as oportunidades a surgir umas a seguir às outras. O Gaitán deu o primeiro aviso, a seguir foi o Jonas, de cabeça, e o sufoco continuou até dar resultados com vinte minutos decorridos. Foi mais uma vez o Jonas, que aproveitou uma iniciativa do Salvio em que este ganhou a linha de fundo e fez o passe atrasado para o remate vitorioso. O recital continuou e foi com toda a naturalidade que chegou um segundo golo dez minutos depois. Desta vez foi o argentino da esquerda a fabricar o golo: o Gaitán entrou por ali, deixou o defesa para trás, e passou a bola para a cabeça do Lima facturar já na pequena área (a bola foi colocada com tanta precisão que aquilo para mim foi um passe e não um centro). Dois golos já davam uma certa tranquilidade, mas isso não significou um abrandar da parte do Benfica, que pouco depois ficou à beira do terceiro golo em mais uma fantástica jogada colectiva que deixou o Jonas na cara do guarda-redes, mas o toque para tentar desviar a bola acabou por deixá-la nas mãos dele. Tivesse o Jonas estado um bocadinho mais inspirado na finalização e não teria saído de campo apenas com dois golos marcados, porque mesmo antes do intervalo mais uma linda jogada de equipa deixou-o com tudo para marcar, mas o cabeceamento que fez levou a bola direitinha às mãos do guarda-redes. Face a tanto e tão bonito futebol mostrado na primeira parte, os dois golos de vantagem à saída para o intervalo até sabiam a pouco. Claramente, a elaborada táctica psicológica do Nacional ao escolher o campo ao contrário (isto anda a tornar-se um hábito entre as equipas que nos visitam) não estava a resultar.
Mas o massacre continuou na reentrada para o segundo tempo. Um tiro do Eliseu deu início às hostilidades e depois, num curto espaço de tempo, o Salvio teve duas perdidas flagrantes em cabeceamentos que não acertaram no alvo (a segunda foi particularmente má) e até um autogolo esteve muito perto de acontecer, numa tentativa desesperada para evitar o que seria com toda a probabilidade um golo do Lima. Nesta altura eu ficava entusiasmado de cada vez que o Benfica tinha a bola em seu poder, porque a sensação que tinha era a de que cada ataque poderia resultar numa ocasião flagrante ou em golo. Foi uma mão cheia de oportunidades em pouco mais de dez minutos, e o óbvio acabou mesmo por acontecer: golo do Benfica. O Salvio transportou a bola pela direita até à entrada da área, passou-a para o lado e o Jonas rematou de primeira e muito colocado, levando a bola a bater ainda na trave antes de entrar e deixando o guarda-redes Gottardi pregado ao relvado. Golaço. Só depois deste terceiro golo é que os nossos jogadores terão achado que já era suficiente e que já tinham dado motivos de sobra para justificar a ida à Luz dos quase 49.000 benfiquistas que lá estiveram hoje, tendo então abrandado finalmente o ritmo e entrado num registo mais relaxado. A saída do Jonas também terá contribuído um pouco para algum menor fulgor do nosso jogos, que continuava no entanto a ser pontuado aqui e ali por algum pormenor de classe da parte do Salvio ou do Gaitán. Mas o relaxamento do Benfica acabou por resultar num golo sofrido, numa jogada que começou numa entrega de bola infantil do Eliseu ao adversário, e que acabou num remate fantástico do Tiago Rodrigues de fora da área, sem qualquer possibilidade de defesa para o Júlio César. Foi pena o golo sofrido, que assim pôs termo à bonita série de jogos consecutivos sem sofrer golos em casa. Logo a seguir o Nacional ainda fez o seu segundo remate no jogo, que passou ao lado, e até se chegaram a ouvir alguns assobios, mas o Benfica depressa se recompôs e voltou a tomar conta do jogo. Estivemos até perto de dilatar o resultado, num cabeceamento do Jardel e posterior recarga do Lisandro, mas sobretudo numa jogada em que o Salvio faz uma finta fabulosa e depois remata para defesa do Gottardi (ou se calhar a bola ainda foi ao poste, porque no estádio nem consegui perceber).
É difícil escolher um jogador para melhor em campo, porque houve vários destaques. O Gaitán mostrou claramente que tudo é diferente para muito melhor com ele em campo. O argentino encheu o campo com pormenores de classe e fez jogar toda a equipa. Sinceramente, e a exemplo de outros jogadores que passaram pelo Benfica nas últimas épocas, este campeonato já é demasiado pequeno para um jogador como ele. O Jonas destacou-se com os dois golos que marcou (e como disse, poderia ter marcado pelo menos o dobro), mas tal como o Gaitán é também muito importante por aquilo que faz a equipa jogar. Tem uns pés de veludo, com os quais faz o que quer com a bola. A forma como se movimenta em campo é de uma inteligência enorme, pelas linhas de passe que proporciona e os espaços que cria para os colegas: ele é em 2014/15 aquilo que foi para nós o Saviola em 2009/10. Hoje assistimos também ao Salvio no seu melhor, e a quem faltou apenas mais acerto na finalização. Mas ficou com duas assistências na conta pessoal. Muitos outros destaques podia fazer, mas menciono apenas mais dois: o Samaris, que é cada vez mais importante nesta equipa e mostrou que estão cada vez mais longe os dias de adaptação às novas funções, e o 'patinho feio' Jardel, que na ausência do Luisão deixou bem claro que também temos nele um líder para a defesa.
Foi muito importante esta demonstração de força e classe depois da enorme desilusão da última jornada. Temos ainda muito trabalho e duras batalhas pela frente no caminho para a revalidação do título. E exibições deste calibre deixam uma certeza: se jogarmos assim, nenhuma equipa em Portugal consegue fazer-nos frente.
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