Nulo
Parece-me que o resultado do jogo de hoje é o reflexo exacto daquilo que se passou dentro do campo. Ninguém pode sequer querer reclamar para si uma qualquer vitória moral. Foi um jogo entre duas equipas com mais receio de perder do que desejo de ganhar, com pouquíssimas ocasiões de golo ou jogadas de grande perigo, e portanto o nulo no marcador foi a consequência lógica.
O maior problema para o Benfica para este jogo foi a ausência do Salvio. O nosso treinador acabou por optar por uma solução que não me agradava, que foi a chamada do Talisca para actuar sobre uma ala. No Porto, o treinador também mostrou muitas cautelas e mexeu bastante na equipa que costuma ser mais habitual. Para além da mudança na baliza, alterou o 4-3-3 para um 4-4-2 em losango, com quatro médios de raiz, o que causou um sobrepovoamento no centro do terreno. Até porque, na ausência do Salvio e com a tendência do Talisca e do Gaitán em vir para dentro, nunca tivemos verdadeiros flanqueadores neste jogo, e houve alturas em que só se via um aglomerado enorme de jogadores no centro do terreno, com a bola a andar muito pelo ar de um lado para o outro e as equipas raramente a conseguirem fazer mais de três ou quatro passes sem perderem a posse de bola. Foi, essencialmente, um jogo feio, muito disputado, com imensas faltas de parte a parte, mas sem grandes motivos de interesse. Durante a primeira parte o Porto teve mais bola, sobretudo com posse na sua zona defensiva, mas foi quase inexistente no ataque. Tal como o Benfica, aliás, que nunca conseguiu fazer as típicas saídas rápidas para o ataque quando recuperava a bola, fruto também da pressão alta que o Porto exerceu. Em toda a primeira parte contei apenas uma verdadeira ocasião de golo, e foi para o Porto, numa bola que sobrou para o Jackson após um canto e que ele rematou demasiado por alto.
O Benfica nada mexeu para a segunda parte mas o Porto fez uma alteração, que pouco alterou a estrutura táctica da equipa. O jogo, esse, continuou praticamente no mesmo registo. Feio, disputado e pouco emotivo. Achei que o Benfica conseguiu melhorar um pouco no segundo tempo: na primeira parte o Porto esteve ligeiramente melhor, e na segunda foi o Benfica. Mas as diferenças foram mesmo muito poucas entre as duas equipas. A ligeira melhoria do Benfica esteve, para mim, ligada à troca do quase inexistente Talisca pelo Fejsa. Não achei que o Fejsa tivesse feito um jogo por aí além, mas veio dar mais presença ao Benfica na zona central e permitiu a deslocação do Pizzi para a direita, enquanto que o Talisca não estava a ser carne nem peixe: nem dava grande ajuda no meio, nem conseguia dar largura ao nosso jogo na ala. À medida que o jogo caminhou para o final o Porto alterou a forma de jogar para um modelo mais próximo do que lhe é familiar, fazendo entrar o Quaresma e o Hernâni e passando finalmente a jogar com extremos, mas à parte exigir mais umas corridas ao Eliseu - que depois avançou no terreno para médio esquerdo quando o André Almeida substituiu o Pizzi - poucos resultados práticos teve. Mais uma vez as ocasiões de perigo escassearam, tendo eu contado três para o Benfica e uma para o Porto. No Benfica houve uma cabeçada do Talisca que passou muito perto do poste, com o Hélton a desviar a bola com os olhos, e um remate do Pizzi à entrada da área que deveria ter saído muito melhor, na sequência de uma das raríssimas vezes que o Benfica conseguiu construir uma boa jogada de contra-ataque. Mas o remate saiu com pouca força e o Hélton defendeu facilmente. E depois houve uma ocasião muito semelhante à do Jackson na primeira parte, com a bola a sobrar para o Fejsa, que também finalizou da mesma forma, ou seja, demasiado por alto. Pelo Porto, um cabeceamento do Jackson depois de um canto, com a bola a não passar muito longe da nossa baliza. Foi, honestamente, um dos jogos entre Benfica e Porto menos emocionantes a que eu me lembro de assistir.
É difícil fazer um destaque num jogo destes. Achei que os nossos centrais estiveram seguros (com o Jardel a mostrar novamente que cresceu imenso como jogador desde que agarrou a titularidade), tal como o Samaris, que teve um jogo de muito trabalho. Os nossos artistas Jonas e Gaitán não tiveram grande possibilidade de mostrar grande serviço (como, aliás, os jogadores mais talentosos do outro lado - hoje não foi jogo para artistas). O Eliseu teve uma primeira parte fraca mas conseguiu melhorar ao longo do jogo. Não terá sido alheio a isso o facto de ter frequentemente o Talisca a jogar à sua frente, que perdeu inúmeras bolas e foi quase sempre incapaz de dar grande ajuda a defender, perdendo quase todos os duelos individuais contra qualquer um dos laterais do Porto e não os conseguindo acompanhar quando subiam no terreno.
O empate deixa quase tudo na mesma (mas o Porto deixou de depender de si próprio) e a conquista do título fica bem encaminhada. Temos quatro jogos para disputar e margem de manobra para errar. Mas é imperioso manter a concentração máxima e não facilitar nem um pouco. Para mim o passo decisivo para vencermos a liga é já no próximo fim-de-semana. Não tenho duvidas de que a grande aposta do Porto neste momento será que o jogo do Benfica em Guimarães, na penúltima jornada, seja decisivo. Mas para isso será necessário que o Benfica perca pontos até lá. O próximo jogo é fora contra o Gil Vicente, penúltimo classificado, e não duvido que se não encararmos este jogo como absolutamente determinante, passaremos um mau bocado. Certamente haverá muito jogo fora das quatro linhas, como talvez incentivos extra para os nossos adversários, e fico à espera de saber as nomeações (Artur Soares Dias, Hugo Miguel ou Marco Ferreira são as minhas apostas). As próprias declarações do treinador do Porto no final deste jogo quase me soaram a ameaça velada. A maior parte do trabalho está feito, agora não podemos facilitar absolutamente nada.