Escassa
Não sei se já consegui acalmar suficientemente a irritação que senti a ver este jogo para estar a escrever muito sobre ele. Fica o mais importante, que foi a conquista da Supertaça, e a confirmação do Benfica como o actual detentor de todos os quatro principais troféus domésticos, facto inédito no futebol português.
A irritação que senti ao ver este jogo deve-se ao facto de achar que uma vitória nos penáltis foi demasiado escassa e injusta para a produção do Benfica no mesmo. Com os regressos de jogadores fulcrais como o Luisão e o Enzo, o Benfica foi bem diferente para melhor daquilo que tinha mostrado nos jogos da pré-época. Fiquei algo surpreendido com a aposta no Talisca para jogar nas costas do avançado, mas durante a primeira parte vimos o melhor Benfica desde que regressámos ao trabalho. O maior lamento foi mesmo a falta de eficácia na finalização, o que fez com que saíssemos para intervalo com um nulo no marcador incrivelmente lisonjeiro para o Rio Ave, cuja produção ofensiva foi praticamente nula e pode agradecer ao Artur o facto de ter conseguido criar alguma sensação de perigo por uma vez. A segunda parte foi mais do mesmo, com o Benfica sempre muito por cima no jogo (a posse de bola raramente se afastou muito dos 70%), embora a conseguirmos criar menos ocasiões flagrantes de golo. O discernimento também foi faltando, até porque o ritmo de jogo ainda não será naturalmente o melhor, mas mais uma vez fizemos mais do que o suficiente para merecermos conquistar o troféu no tempo regulamentar.
Durante o injusto prolongamento que fomos obrigados a disputar notou-se muito a progressiva falta de pernas dos nossos jogadores, que no entanto nunca deixaram de tentar chegar ao golo que evitasse a lotaria dos penáltis, tendo lutado até a exaustão. Mas quase quarenta remates feitos não foram suficientes para marcar um golo que fosse, quer por inspiração do guarda-redes e defesas do Rio Ave, quer por falta de pontaria ou inspiração dos nossos jogadores, a verdade é que o jogo se foi arrastando teimosamente para o o risco daquilo que seria uma injustiça tremenda, a exemplo do que aconteceu na final da Liga Europa. O Rio Ave, esse, parecia satisfeitíssimo com a perspectiva de levar o jogo para essa lotaria e tudo fez ao seu alcance para que isso acontecesse. E podia até ter tido um prémio mais injusto já muito perto do final, quando mais um disparate do Artur, no seguimento de um pontapé de canto, quase resultou em golo já que o Jardel, de forma atabalhoada, acabou por chutar a bola contra a barra da nossa baliza. Chegada a tal lotaria, o Artur, que tinha sido o pior jogador do Benfica durante o jogo, teve a oportunidade de se redimir e acabou por ser o herói, defendendo três penáltis.
Não é que fosse necessário qualquer tipo de esclarecimento, mas depois do jogo de hoje terá ficado bem claro o peso que o Enzo e o Gaitán têm no nosso jogo, e o enorme rombo nas nossas ambições para esta época que poderá significar a perda de qualquer um deles. O regresso do Luisão (e do Jardel) deu logo muito mais solidez à nossa defesa, que praticamente apenas nos deslizes do Artur passou por alguma situação mais complicada - gostei de ver o Eliseu jogar. Por falar no Artur (que, repito, foi o pior jogador do Benfica esta noite), espero que a proeza de ter defendido três penáltis sirva para lhe devolver a confiança de que parece andar tão em falta. Não sei se vamos conseguir contratar mais algum guarda-redes ou não, mas é importante termos o Artur a num bom nível, e o que ele mostrou nos últimos jogos tinha sido mau demais. Parece-me também que a necessidade de um avançado ficou clara, já que estivemos mal na finalização e em diversas alturas fiquei com a sensação de que houve falta de presença na área adversária.
Apesar de apenas ter ficado decidida na lotaria dos penáltis, a mais do que justa conquista da Supertaça pode ter sido muito importante no lançamento de uma época em que todos desejamos conseguir defender os títulos conquistados há poucos meses atrás. Independentemente da enorme superioridade do Benfica durante os cento e vinte minutos do jogo em Aveiro, não custa nada imaginar o vendaval de críticas que se abateriam sobre a equipa caso a vitória nos fugisse. Assim, ganhamos um pouco de fôlego para a semana que antecede o início da Liga (e seria muito bom contrariar a péssima tendência dos últimos anos, começando a competição com uma vitória), e os nossos jogadores recebem uma injecção de confiança para ajudar a esquecer a má imagem deixada nos jogos de preparação.
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