quinta-feira, 15 de maio de 2014

LIGA EUROPA - PERDIDA

Sevilha vs Benfica (Reuters)

Agora sim: o Benfica perdeu mais uma oportunidade de voltar a ser grande na Europa. Em Turim, no vale dos Alpes, a equipa percebeu que havia uma ligação direta ao céu e tratou de trepar a montanha até lhe tocar. Mas nunca o fez. 

Deixou enfim escapar a oportunidade por entre hesitações, receios e tremores. 

Nenhuma glória é suficiente heróica se não tiver um pouco, por muito pouco que seja, de sofrimento: e a noite Benfica, meus caros, teve muito sofrimento. Faltou-lhe a glória. 

A glória que fugiu nas grandes penalidades, depois de duas horas completas de jogo durante as quais o Benfica até foi melhor, mas não conseguiu ter o discernimento necessário para dar aquele passo no fim de tanto sofrimento: o passo para chegar ao céu. 

A formação de Jorge Jesus, é preciso dizê-lo desde já, não entrou bem no jogo. 

Pelo contrário. 

O favoritismo não é uma leveza, é um peso: ou então, se for uma leveza, é uma daquelas que tem um peso insustentável. Por isso, lá está, o Benfica acusou o peso do favoritismo. Tremeu, hesitou, duvidou até de si. 

Teve mais bola desde o início, é verdade, teve quase sempre mais bola, mas não conseguia com isso ser mais perigoso. Era um bem supérfulo, no fundo. Até porque o Sevilha, esse sim, era expedito. 

Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores 

O problema do Sevilha é que é uma equipa com demasiada consciência das limitações. Por isso, e embora saísse com rapidez e profundidade, saía com poucos jogadores. Criava mais sobressaltos ao adversário, mas pouco. 

A primeira parte foi por isso um longo e monótono bocejo. 

Animou nos minutos finais, quando Maxi Pereira apareceu na cara de Beto e desviou para grande defesa, ou quando Rodrigo atirou forte para outra bela intervenção do português do Sevilha, mas mesmo assim foi pouco. Por isso, e de primeira parte, estamos conversados. 

A segunda metade, essa sim, valeu a pena. Valeu a pena sobretudo pelo Benfica. 

Costuma dizer-se que não há segundas oportunidades para criar uma boa primeira impressão. A equipa sentiu que esse problema já tinha passado, a primeira impressão não tinha sido boa e ponto final, pelo que libertou-se dos temores e surgiu bem mais solto na segunda parte. 

Continuou a falhar passes, a perder bolas algo infantilmente e a atrapalhar-se nas saídas. Mas pelo menos teve mais nervo, teve mais vigor, teve mais entusiasmo, teve enfim mais substância. 

Cresceu muito à medida que Ruben Amorim cresceu também, e sobretudo à medida que teve mais espaço. Maxi Pereira, logo de início, serviu Lima e Rodrigo para boas oportunidades. Mais tarde o mesmo Maxi Pereira serviu Lima para um remate falhado. Depois houve outra vez Lima para grande defesa de Beto e houve duas vezes Garay por cima da barra. 

Destaques: Maxi a jogar e Beto a decidir 

Jorge Jesus já tinha trocado na primeira parte o lesionado Sulejmani por André Almeida, fazendo avançar Maxi Pereira para extremo, num daqueles acidentes felizes: durante muito tempo o uruguaio foi o melhor do Benfica. 

Infelizmente para o Benfica a equipa mostrava que era superior, mas falhava na finalização. 

Demasiado. 
Por isso, e perante um Sevilha que só criou uma oportunidade, o jogo foi para prolongamento. 

No prolongamento, é verdade, a única verdadeira oportunidade de golo foi do Sevilha, e de Bacca num remate ao lado. Jesus tirou Siqueira para meter Cardozo, recuando Maxi Pereira e o Benfica curiosamente perdeu outra vez capacidade de desequilibrar pelas alas. 

Há coisas difíceis de explicar, mas são factos: esta final foi muito de Maxi Pereira. 

O Benfica teve sempre a bola e o domínio, sim, apoiado por um público incansável, carregou, carregou e carregou sobre a defesa do Sevilha: mas não criou ocasiões de golo. 

Por isso teve tudo de se decidir nas grandes penalidades: no fim de um 0-0 que penalizava sobretudo na formação encarnada. Afinal de contas a que mais fez para ganhar este jogo. 

As grandes penalidades, já se sabe, são um jogo da sorte e o Sevilha tinha um trunfo: Beto. O guarda-redes português costuma ser decisivo nestas ocasiões. Voltou a sê-lo, para mal do Benfica. 

Defendeu os remates de Cardozo e Rodrigo, enquanto no Sevilha todos marcaram. 

O Benfica voltou assim a perder a oportunidade de conquistar uma prova internacional e recuperar um um apelido que só lhe fica bem. Grande na Europa. Numa época marcada por uma dinâmica de vitória, deve realmente custar muito. 

Se calhar o melhor é ir à bruxa: o que lhe acontece nas finais europeias é impressionante.
Sevilha vs Benfica (Lusa)

Injustiça


E para não variar, perdemos. Fomos a equipa que mais quis vencer o jogo, fomos aquela que mais o tentou fazer, mas apanhámos pela frente uma equipa que passou o jogo quase todo a defender e a jogar para os penáltis. Depois, como o futebol é tantas vezes injusto, é recompensada nessa lotaria. Podemos queixar-nos dos jogadores indisponíveis, do azar (temos dois extremos suspensos e logo nos primeiros minutos vemos outro sair lesionado), do árbitro que não quis marcar nenhum dos penáltis durante o jogo e que deixou o Beto defender um quando estava uns dois metros adiantado, mas acima de tudo a queixa maior é de nós próprios. Pela primeira parte fraca, pelas oportunidades desperdiçadas, ou até mesmo pela incompreensível escolha do Cardozo (falha sempre penáltis decisivos) ou do Rodrigo (que eu me lembre, falhou todos os penáltis que eu o vi marcar) para marcar penáltis.

Vitórias morais destas não servem de nada, nem me sabem a nada. Aprecio o esforço da nossa equipa, o facto de terem conseguido ser claramente a melhor equipa em campo apesar de todas as contrariedades, mas o que me deixa mais triste não é tanto perder, mas sim perder assim. Jogar duas finais seguidas, ser a melhor equipa dentro de campo em ambas, e não ganhar nenhuma é injustiça a mais.

Enfim, há que recuperar, que no próximo domingo temos uma dobradinha que nos escapa há muitos anos para tentar conquistar. Com a equipa toda.

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