Desconcentração
Podíamos ter entrado no campeonato com uma goleada, tamanha foi a superioridade sobre o Guimarães durante mais de uma hora. Mas bastou um curto período de excessivo relaxamento nos últimos minutos para permitir ao Vitória reentrar num jogo onde nunca tinha estado, e manter a incerteza no resultado até final.
Apresentámos um onze inicial bastante familiar, com apenas três jogadores que não estavam no plantel a época passada: o Vlachodimos na baliza, o Gedson no meio campo, e o Ferreyra na frente. As equipas do Luís Castro normalmente tentam jogar futebol e são pouco amigas do antijogo, mas desde os minutos iniciais que o Benfica deu muito poucas possibilidades para que o Vitória jogasse. Depressa empurrámos o adversário para dentro do seu meio campo, com uma pressão agressiva que nem sequer dava espaço para grandes oportunidades de contra-ataque. A atacar, muita liberdade de movimentos para os laterais e médios centro, com os laterais a aparecer frequentemente em zonas anormalmente centrais, o Gedson a cair frequentemente na frente e o Pizzi em zonas perto da área. O Vitória foi literalmente atropelado durante toda a primeira parte, e a marcha do marcador reflectiu isso mesmo. O primeiro golo surgiu logo aos dez minutos, com o Pizzi a aparecer no centro da área para aproveitar uma bola solta depois de um centro do Gedson na direita. Cinco minutos depois uma oportunidade enorme para aumentar a vantagem, quando o Salvio foi derrubado na área. O Salvio seria o marcador natural mas deixou que fosse o Ferreyra a fazê-lo, só que o nosso novo avançado rematou de forma denunciada e permitiu a defesa ao guarda-redes. Este momento poderia ter sido decisivo no desenrolar do jogo, porque logo a seguir uma desconcentração do Fejsa resultou numa perda de bola que só não acabou em golo porque o Vlachodimos defendeu o primeiro remate e a recarga acabou no poste da nossa baliza. Mas o Benfica continuou a ser imensamente superior e à meia hora de jogo o Pizzi bisou. Mais uma vez na zona central da área, finalizou uma jogada fantástica entre o Salvio e o André Almeida pela direita, com a assistência a pertencer a este último. Nesta fase o Benfica criava perigo quase em cada ataque que fazia e a sete minutos do intervalo, sem qualquer surpresa, chegou o terceiro golo. O Pizzi a ser o improvável autor de um hat trick, com um remate colocado à entrada da área a aproveitar uma boa simulação do Ferreyra, que deixou passar entre as pernas o passe do Grimaldo. Três golos de vantagem ao intervalo que até eram escassos para tanto domínio, e o jogo parecia mais do que resolvido.
Na segunda parte, e com toda a naturalidade, o Benfica abrandou o ritmo. Mas continuou completamente por cima no jogo, mesmo depois do Luís Castro ter tentado estancar a avalanche do Benfica pela direita, trocando o extremo esquerdo Ola John para colocar naquela posição um jogador mais agressivo a acompanhar as subidas do André Almeida (Davidson). Até achei que as coisas estavam a ser bem feitas. Gestão de esforço e do resultado mantendo a posse de bola, com o quarto golo a parecer muito mais próximo do que qualquer tipo de reacção da parte do Vitória - a verdade é nem sequer me consigo lembrar de qualquer situação de ataque por parte do nosso adversário durante este período. A parte pior veio nos minutos finais. A nossa equipa adormeceu demasiado e as substituições não resultaram. Primeiro começou a ser notório que o Gedson estava a perder gás, e com isso começámos a perder o meio campo. Depois, a troca do Cervi pelo Rafa significou uma muito maior liberdade para o lateral direito adversário, e o Grimaldo começou a sentir cada vez mais dificuldades ao ser frequentemente confrontado com sucessivas situações de inferioridade numérica. E quando já estávamos a perder o meio campo, tirar o Fejsa era arriscado. O que é certo é que a quinze minutos do final o Vitória marcou e começou a acreditar. Logo a seguir trocámos o Salvio pelo Zivkovic (eu teria preferido que o Zivkovic tivesse entrado para o lugar do Gedson) e o Vitória voltou a marcar, num lance em que me pareceu haver demasiada apatia dos nossos jogadores e um buraco enorme do lado esquerdo. Felizmente, este segundo golo adversário pareceu servir de despertador para a nossa equipa, que até final não voltou a permitir que o o Vitória tivesse qualquer situação de perigo. No final fica a vitória e os importantes três pontos, mas também uma sensação de frustração pelo facto do resultado não espelhar o quanto melhores fomos neste jogo.
O homem do jogo tem que ser o Pizzi pelos três golos que fez mas os destaques vão, na minha opinião, para o Salvio, Grimaldo e Gedson como os maiores dinamizadores do nosso jogo. O Fejsa, André Almeida e Cervi também estiveram bastante bem, mas no geral durante a excelente primeira parte que fizemos todos estiveram bem, talvez com a excepção do Ferreyra, que ainda parece um corpo estranho na equipa.
Era importante começar a ganhar, e isso foi conseguido. Era também importante resolver cedo o jogo para permitir a gestão de esforço a pensar no jogo na Turquia, e isso também foi conseguido. Pena apenas aquele curto período de desconcentração que acabou por colocar em causa uma vitória que até então era mais do que indiscutível.
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