Sombra
Um empate comprometedor e arrancado no último suspiro do jogo, já nos descontos sobre os descontos, mas que acaba por ser um castigo lógico face ao que se assistiu durante os noventa minutos. Hoje fomos uma sombra da equipa que nas últimas semanas nos chegou a deslumbrar com a qualidade do futebol que produziu.
Uma primeira parte praticamente deitada fora, níveis de desperdício inaceitáveis na segunda e uma progressiva perda de lucidez à medida que o tempo avançava ajudam muito a explicar este resultado. Este jogo era o primeiro teste à ausência do Krovinovic e a avaliação que se pode fazer não é positiva. O escolhido para o seu lugar foi o João Carvalho, e a dinâmica da equipa durante a primeira parte depressa mostrou que a mudança se fazia notar. Não conseguimos fazer a pressão alta com a qualidade do costume, e a dinâmica a atacar foi quase inexistente: praticamente não criámos ocasiões de golo, e quando conseguíamos construir alguma coisa mais bem feita, a decisão deitava tudo a perder. Ou os centros quando se entrava na área e ganhava a linha de fundo iam sempre direitinhos para um adversário, ou então demorava-se demasiado para fazer o remate e este acabava interceptado - um exemplo flagrante foi uma situação em que o Pizzi tinha o Salvio ao lado completamente isolado, mas nem levantou a cabeça e acabou por rematar contra um adversário. De uma forma geral, fomos quase sempre demasiado previsíveis no ataque e uma presa demasiado fácil para um Belenenses preocupado sobretudo em defender e queimar tempo, com os seus jogadores a parecerem particularmente empenhados em entrar em discussões e arranjar quezílias com os jogadores do Benfica.
Exigia-se muito melhor na segunda parte e esta foi de facto melhor do que a primeira, parecendo-me que a atitude foi melhor. Mas neste período o que começou infelizmente a evidenciar-se foi o tremendo desperdício das ocasiões que se iam criando. A primeira alteração feita pareceu-me uma boa opção: a troca directa do João Carvalho pelo Zivkovic. Foi dos pés do sérvio que saiu o passe que desmarcou o Cervi, para este ser derrubado dentro da área do Belenenses. Mas o Jonas marcou-o pessimamente, com um remate denunciado e para o lado oposto daquele que lhe costuma ser mais habitual, deitando assim fora a melhor ocasião que tivemos para passar para a frente do marcador. Pouco tempo depois vimos o Cervi a correr isolado em direcção à baliza, mas a finalização foi simplesmente desastrosa: com o corpo completamente inclinado para trás, atirou a bola para a bancada. Num jogo em que até nem estávamos a jogar particularmente bem, desperdiçar ocasiões destas só podia ser um péssimo presságio para o que estava para vir. Até porque voltámos a assistir a um cenário relativamente familiar: à medida que o tempo passa e o golo não surge, a equipa vai perdendo lucidez e a resposta vinda do banco não ajuda, pois consiste quase sempre em colocar cada vez mais avançados em campo por troca por jogadores com capacidade para criar e construir. E o que começou a tornar-se previsível aconteceu mesmo. Já perto do final, e praticamente no primeiro remate que acertou na baliza, o Belenenses marcou. O remate até nem foi nada de especial e o seu autor escorregou na altura em que o fez, mas a bola saiu muito colocada para o poste mais distante e o Varela só conseguiu ficar a vê-la entrar. Parecia que era a confirmação de uma derrota, mas a equipa ainda encontrou forças para lutar e já para lá do tempo de compensação atribuído, no último lance da partida, o Jonas redimiu-se parcialmente do penálti falhado e na marcação de um livre à entrada da área fez o empate.
Não o responsabilizando directamente pela quebra de qualidade do futebol da equipa neste jogo, o João Carvalho terá que fazer bastante melhor do que aquilo que fez hoje para confirmar ser a opção mais válida ao Krovinovic. Em particular no que diz respeito à agressividade e trabalho defensivo, que foi o aspecto em que fiquei menos satisfeito hoje. É preciso lutar pela bola, e ir buscá-la aos espaços vazios oferecendo linhas de passe - é sobretudo isso que tem evidenciado o Krovinovic. Não dá para se ficar quase parado à espera que a bola chegue aos nossos pés. Mas toda a equipa em geral esteve abaixo daquilo que se espera deles. O Pizzi, por exemplo, fez um jogo lamentável sob todos os aspectos, e no entanto manteve-se os noventa minutos em campo. Talvez o Cervi tenha sido dos melhores, mas aquela ocasião flagrante desperdiçada com um chuto para a bancada é uma mancha indelével na sua exibição.
Foram dois pontos que não podíamos perder, porque era importantíssimo manter o bom momento e acima de tudo mostrar que a perda de um jogador que estava a ser fundamental não abanava a equipa. Infelizmente não conseguimos dar a resposta que se exigia, e agora tudo ficou muito mais complicado.
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