Perseverança
Uma vitória alcançada no último suspiro de um jogo muito complicado, mas que se deve sobretudo à perseverança com que o Benfica a perseguiu e continuou sempre em busca da felicidade. Mesmo perante um adversário que à medida que o tempo corria se ia fechando cada vez mais na defesa de um ponto, o Benfica lutou literalmente até ao último segundo pela vitória e foi justamente recompensado pelo esforço.
Apesar de estarmos no início da época, nesta altura já conseguimos prever facilmente qual é o onze base do Benfica. Benefícios da estabilidade. Jogaram exactamente os mesmos que tinham defrontado o Braga, e provavelmente apenas o Grimaldo e o Júlio César, quando recuperados, entrarão na equipa. A primeira parte correspondeu às dificuldades que se esperavam à partida neste jogo. O domínio foi muito repartido, sem que o Benfica fosse capaz de impor a pressão alta que tinha dado tão bons resultados nos dois primeiros jogos, e consequentemente sem conseguirmos estabelecer um domínio territorial claro. A posse de bola foi dividida, mas numa coisa levámos vantagem: é que com a bola conseguimos ser sempre bastante mais perigosos no ataque do que o Chaves. Enquanto que o nosso adversário praticamente não criou uma ocasião clara de golo, o mesmo não se pode dizer de nós. O Salvio foi o nosso jogador mais perigoso e foi dos pés dele que saíram quase sempre as melhores ocasiões para marcar, mas a finalização voltou a não ser a melhor e quando não era esse o caso aparecia o guarda-redes Ricardo ou o defesa central Nuno André Coelho a negar o golo no limite (fizeram ambos um grande jogo). No Benfica pareceu-me que vimos pouco Jonas e Pizzi, o que obviamente afecta muito a nossa produção ofensiva, e o Seferovic jogou quase à Jiménez: participativo no jogo da equipa mas a maior parte do tempo longe das zonas de finalização. Numa das raras ocasiões em que vimos uma jogada típica dele, onde se desmarcou nas costas da defesa e correu para a baliza, apareceu o inevitável Nuno André Coelho com um corte providencial a evitar que o remate acabasse em golo. O empate ao intervalo era preocupante porque o jogo estava partido e nós já tínhamos desperdiçado daquelas ocasiões que normalmente se costumam lamentar no final de jogos assim.
Mas o preço de dividir um jogo com o Benfica e acompanhar o nosso ritmo é alto, e na segunda parte depressa se começou a ver o Chaves a ter que o pagar. Se nos primeiros minutos ainda pareceu que o jogo continuaria dividido e muito partido - duas boas situações para o Benfica, incluindo uma bola ao poste pelo Jonas, e a resposta do Chaves na sua ocasião mais perigosa de todo o jogo, que proporcionou ao Varela uma boa defesa - depressa foi visível a progressiva falta de pernas do Chaves para manter o ritmo, recuando cada vez mais para junto da sua área e acabando por passar a maior parte da segunda parte dedicado exclusivamente a defender o empate. O Pizzi e o Jonas foram aparecendo cada vez mais, o jogo pelas alas também, com o Cervi em destaque, e a pressão foi-se intensificando. Mas a floresta de pernas em frente à baliza do Chaves e o acerto que se mantinha das duas unidades que já referi pareciam ser capazes de ir evitando o nosso golo. O Benfica fez um alteração a vinte minutos do final que até nem pareceu muito lógica, trocando o Cervi pelo Rafa - e não me pareceu muito lógica porque, conforme disse, o Cervi estava a ser um dos jogadores em destaque na segunda parte - e dez minutos depois fez uma aposta ainda mais deliberada no ataque total com a entrada de um terceiro avançado (Jiménez) por troca com o Salvio, passando o Rafa para a direita. Entre estas duas alterações, uma pausa para descanso que o Chaves bem deve ter agradecido, porque muitos dos seus jogadores já quase não pareciam aguentar-se de pé. Um deles foi o lateral esquerdo Furlán, que depois de um jogo todo a levar com o Salvio e o André Almeida em cima cedeu de vez, e depois de estar dois minutos estendido com cãibras acabou mesmo por ser substituído. E foi precisamente por aquele lado que, em período de descontos e quando já muitos acreditariam que o nulo se manteria até final, surgiu a jogada do golo. A própria jogada parecia já que já não daria em nada: o passe do Pizzi para as costas do lateral foi muito bom, mas o Rafa acabou por fazer o cruzamento em esforço já perto da linha final e nem acertou bem na bola, que saiu rasteira e com pouca força para a zona do primeiro poste. Mas o Seferovic acreditou, antecipou-se ao defesa e com um desvio também sem grande força fez a bola passar entre as pernas do guarda-redes. Game over.
Na minha opinião o Pizzi voltou a ser um dos melhores. A qualidade de passe e visão de jogo dele está cada vez melhor, e então quando o Chaves recuou para junto da sua área e lhe permitiu ter mais espaço para jogar e pensar abriu o livro. Fez diversos passes a rasgar para as costas da defesa que só não tiveram melhor resultado porque o André Almeida não estava muito virado para os aproveitar, hesitando quase sempre os centésimos de segundo suficientes para já não chegar à bola em condições. O Jonas acordou na segunda parte e foi outro dos responsáveis pelo assalto á baliza do Chaves. Bom jogo dos nossos centrais (pena que não tivessem tido melhor finalização nos lances aéreos na área do Chaves, em particular o Jardel) e do Cervi até ser substituído. O Salvio foi ao mesmo tempo o jogador mais perigoso do Benfica na primeira parte e o mais exasperante também, com mais algumas daquelas jogadas em que se esquece que tem colegas com quem jogar.
Na antevisão da Liga já tinha previsto que este seria um dos obstáculos mais complicados par o Benfica na fase inicial da época, e isso confirmou-se. Mas com uma atitude competitiva louvável conquistámos os três pontos e superámos mais este desafio, com a equipa a exibir uma saúde física impressionante tendo em conta o alto ritmo mantido durante os noventa minutos - e isto foi, sem dúvida, uma das chaves para o sucesso, pois foi evidente a incapacidade do nosso adversário para nos acompanhar. Vontade de vencer é o que não falta aos nossos jogadores, e não foi o tetracampeonato que os tornou sobranceiros. É com jogos e vitórias como esta que poderemos sonhar com a conquista de um inédito penta.
P.S.- O fantástico vídeo-árbitro, herói da 'verdade desportiva', não foi suficiente para evitar que ficassem dois penáltis por marcar a favor do Benfica. Em relação a um deles, acho particularmente cómico assistir aos números de contorcionismo da chusma de avençados e cartilheiros para justificar que não senhor, aquilo é um 'choque normal entre dois jogadores que disputam a bola' e completamente diferente do lance do holandês mergulhador que permitiu aos crónicos campeões da pré-época e vencedores antecipados de todos os campeonatos sacar três pontos do jogo com o Setúbal. Quanto ao outro, a mesma chusma considera que 'era um lance impossível para o árbitro ver'. Pois, eu pensava que era precisamente para lances desses que existia um vídeo-árbitro...
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