domingo, 25 de agosto de 2013

BENFICA - 2 GIL VICENTE - 1 - DESCONTOS

Tangente

Foi à tangente que o Benfica arrancou, já em período de descontos, uma vitória inteiramente merecida. O Gil Vicente nada fez durante os noventa minutos que justificasse merecer o que quer que fosse deste jogo, e caso a vitória tivesse fugido ao Benfica só poderíamos queixar-nos de nós próprios. É que o Gil Vicente limitou-se a entrar em campo e a ficar a ver-nos falhar, quer na defesa, quer no ataque. E foi por muito pouco que esta 'estratégia' não deu resultado.


Apenas uma das novas contratações no onze inicial: Cortez. A aposta para este jogo foi na dupla Lima/Rodrigo para o ataque, algo que, confesso, nunca me deixa particularmente convencido. Não tenho especial embirração com o facto de jogarmos com dois avançados, é apenas a coexistência destes dois jogadores no ataque que me costuma deixar pouco confortável. É 'mobilidade' a mais, e depois muitas vezes na altura certa não está nenhum deles no sítio onde queríamos que estivesse um avançado. O jogo foi aquilo a que já estamos todos habituados, com o Benfica a ter que assumir as despesas do jogo, e o Gil Vicente enfiado na defesa. Nestes jogos o problema costuma ser marcar o primeiro golo. Sabemos que quanto mais tempo ele demora a aparecer, maior é o nervosismo da nossa equipa, e maior é também a confiança do adversário. Mas esta tarde nem foi preciso o factor tempo para evidenciar o nervosismo. A sensação com que fiquei a ver o jogo é a de que a nossa equipa estava com uma enorme falta de confiança em si própria. Os jogadores falham recepções fáceis e deixam a bola fugir, falham oportunidades, ou quase nunca arriscam um passe de primeira, e no tempo que perdem a controlar a bola e a decidir é suficiente para a ocasião se perder, o colega ficar fora de jogo ou o adversário antecipar a jogada. O domínio do Benfica na primeira parte foi total, mas notei uma enorme desinspiração nos jogadores das alas, onde quem acabou por se evidenciar mais foi o Cortez, com várias iniciativas individuais no ataque. Desinspirado também esteve, e de que maneira, o Lima, que desperdiçou mais ocasiões de golo do que eu consegui contar, algumas delas clamorosas - em particular uma na fase final da primeira parte, altura em que o Benfica pressionou bastante e esteve sempre muito perto do golo. O mais perto que o Benfica esteve do golo foi num livre do Gaitán, que levou a bola ao poste, mas infelizmente o intervalo chegou mesmo com um nulo no marcador que era claramente lisonjeiro para o Gil Vicente.


Sem alterações na entrada para a segunda parte, o que vimos foi um Benfica para pior. Houve mais dificuldades em criar oportunidades de golo e menos velocidade no nosso jogo, pelo que o nulo continuava a arrastar-se penosamente no marcador. Com meia hora para jogar, o Salvio - que não esteve particularmente inspirado - deu o lugar ao Markovic, e o jogo do Benfica espevitou um pouco com a maior velocidade e mobilidade que ele trouxe ao jogo - até então o que víramos diversas vezes eram aquelas situações exasperantes em que um jogador conduz a bola e o resto dos colegas estão parados a olhar para ele, em vez de se movimentarem e criar linhas de passe. Foi a centro dele que o Luisão quase marcou de cabeça, e pouco depois foi o Rodrigo, também de cabeça, quem fez a bola passar muito perto da baliza. O Benfica estava agora melhor, e alguns minutos depois entraram o Djuricic (que eu, sinceramente, preferiria sempre ver jogar nas costas do avançado em vez do Rodrigo ou mesmo do Markovic) e o Sulejmani para os lugares do Rodrigo e do Gaitán, mas quase de seguida um erro grotesco do Maxi Pereira, que deixou fugir a bola ao tentar controlá-la, isolou um adversário na cara do Artur e o Gil Vicente apanhou-se a ganhar literalmente sem saber como. O Benfica tinha agora pela frente vinte minutos para tentar corrigir uma enorme injustiça, que no entanto era resultado apenas e só da sua própria incompetência. E o Benfica não baixou os braços, verdade seja dita, nem o público da Luz o fez, já que o apoio à equipa foi constante mesmo nestes momentos mais difíceis. A bola rondou sempre a baliza adversária, o golo ameaçou por mais do que uma vez, mas chegámos aos quatro minutos de compensação com o Benfica a perder. E de repente, tudo aconteceu. O Enzo foi por ali fora com a bola, entregou-a ao Djuricic à entrada da área, e este desmarcou o Markovic à sua esquerda - 1-1 aos 92 minutos. Bola a meio campo, o Luisão pressiona imediatamente no meio campo adversário (já andava a jogar a avançado), a bola acaba por sobrar para o Markovic, que anda ali a correr com ela quase de um lado ao outro do campo, deixa-a no Maxi na direita, segue ainda mais para a direita para o Sulejmani, centro largo, cabeça do Lima, e 2-1 quarenta e cinco segundos depois. Em menos de um minuto, o Benfica corrigiu mais de noventa de incompetência e falta de jeito.


Não houve exibições propriamente brilhantes hoje, mas julgo que o Cortez se exibiu a um nível agradável. Mesmo sem estarem nos seus melhores dias, é sempre difícil para mim não gostar de ver o Enzo, o Matic ou o Garay jogar. Os três sérvios que entraram acabaram por ser decisivos, pois estiveram envolvidos nos golos: o primeiro foi da autoria do Markovic, com assistência do Djuricic, e o Markovic também teve intervenção na jogada do segundo, com a assistência a sair dos pés do Sulejmani. Não tenho muitas dúvidas de que o Markovic deverá ser normalmente titular, e fará parte do onze ideal na cabeça do JJ, mas eu gostaria que o Djuricic fosse também uma aposta habitual para o onze. Sobretudo se a alternativa for colocar outro avançado nas costas do ponta-de-lança (ou mesmo o Markovic). O Lima esteve desastrosamente perdulário, e só se redimiu com o importante golo da vitória.

Desta vez o período de descontos não foi amaldiçoado para o Benfica. Espero que o que hoje se passou possa contribuir para afastar essa ideia da cabeça dos nossos jogadores. Espero também que esta reviravolta devolva confiança aos nossos jogadores, e a crença que parece andar alheada deles desde o último terrível final de época. Gostei de ver a forma como a equipa festejou os golos, e a reacção no final. Pelo menos deu-me confiança de que existe da parte dos jogadores vontade para inverter o clima negativo que parece afectar a equipa, e dissipou-me dúvidas sobre algum eventual afastamento entre a equipa e o treinador. Eu reconheço que valor não lhes falta, é preciso que acreditem em si mesmos e mostrem aquilo que valem.

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