As relações fazem-se de reciprocidade. No início da semana, as notícias ditavam que o Benfica tinha segurado Tiago Gouveia, apesar de Tiago Gouveia jogar pouco e ter interessados. E dias depois Tiago Gouveia segurou o Benfica num momento de aflição: o extremo, jogador de características únicas entre os disponíveis no plantel neste momento, entrou, deu uma assistência e marcou um golo, numa altura em que os encarnados se debatiam novamente com falta de criatividade para superar o Casa Pia.

Depois do desaire em casa do Famalicão, uma derrota que não foi fortuita, o Benfica somou os primeiros pontos em casa, um 3-0 que não espelha as dificuldades que a equipa de Roger Schmidt voltou a sentir, principalmente na 1.ª parte. Ainda assim, foram as alterações do treinador alemão, ao colocar Gouveia e Kokçu - e, com preponderância diferente, Marcus Leonardo -, que agitaram as grilhetas auto-impostas pelos encarnados no seu ataque. Schmidt apostou praticamente no mesmo onze que caiu na primeira jornada, com Morato a ser o único cordeiro sacrificial - foi para o banco e António Silva voltou à titularidade.

As intenções do Benfica ficaram claras desde o início, com um corredor central agressivo e ponto nevrálgico do jogo encarnado. Florentino arriscava nos passes, Pavlidis tentava o que podia no apoio e Prestianni, rápido, agitador, procurava ser protagonista, surgindo um pouco em todo o lado. É do argentino que sai o cruzamento logo aos 3 minutos para Bah, no que seria uma das melhores oportunidades do Benfica até surgirem os golos, já nos últimos 25 minutos de jogo. Mas, no geral, as dificuldades em criar continuavam a emperrar os encarnados, que cedo perderam Beste, com uma lesão muscular.

Gualter Fatia

Sem conseguir quebrar as linhas defensivas do Casa Pia, foi de longe que o Benfica conseguiu criar algum perigo, primeiro com João Mário, para voo seguro do guardião Patrick Sequeira, e depois por Pavlidis, bem longe do coração da área, onde está o seu habitat natural.

O Casa Pia, sem grandes argumentos, ia assustando aqui e ali: aos 37’, Obeng podia ter respondido melhor a um cruzamento de Larrazabal que merecia golo. O nulo ao intervalo parecia cair bem a um espectáculo que era, até então, pobre.

Voltou mais incisivo o Benfica dos balneários, com boa parte da reação a vir das botas de Carreras, que entrou para substituir Beste e tornou-se rapidamente um dos mais esclarecidos entre os encarnados. Prestianni, sempre ele, esteve perto do golo aos 51’, numa jogada em que uma bola lançada por Aursnes para a área criou um caos que só terminou com a defesa de Sequeira. Pavlidis, agora na área, quase marcou de cabeça na sequência de um canto. O Benfica continuava sem jogar bem, mas as oportunidades começavam a aparecer.

O jovem argentino seria um dos sacrificados por Schmidt para mexer na equipa. Os adeptos não gostaram, os assobios foram muitos, mas as alterações e entradas de Tiago Gouveia, Kokçu e Marcus Leonardo dariam razão ao treinador alemão. Com mais apoio na frente, Pavlidis permitiu-se a preocupar-se mais com o seu ofício, o de fazer golos, e cinco minutos depois de entrar Gouveia cruzou para a área, com o grego a responder bem ao segundo poste, numa jogada criada por Carreras, curiosamente pelo meio e não na ala esquerda.

Aos 70 minutos, o Estádio da Luz respirava de alívio.

FILIPE AMORIM

Não por muito tempo porque logo de seguida o Casa Pia quase empatava. Nuno Moreira viu-se sozinho do lado esquerdo do ataque e parece ter-se deslumbrado com tamanha oferta, com o cabeceamento a sair-lhe mal. Seria um dos últimos suspiros do Casa Pia.

Aos 80’, e já com o Benfica bem lançado no ataque, Tiago Gouveia salvou uma bola que parecia ter o destino da linha lateral, foi por ali fora, combinou com Aursnes e rematou cruzado e rasteiro de primeira, fazendo o 2-0. O Benfica fecharia as contas já a entrar nos descontos, com Aursnes a responder com um belo remate cruzado a um não menos impressionante passe de Kokçu, o homem que trouxe a criatividade que tanto faltou ao Benfica na 1.ª parte.

Se a derrota em Famalicão não fez luz nas opções de Roger Schmidt, talvez a 2.ª parte frente ao Casa Pia faça. A vitória por 3-0 não mascara os problemas coletivos que o Benfica trouxe da época passada: há jogadores redundantes no onze, alguns a jogar demasiado sozinhos, outros em posições em que não rendem. Os últimos 25 minutos trouxeram um Benfica, pelo menos, mais objetivo. E um miúdo que quer muito mostrar o porquê de o terem segurado.