quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

BENFICA - 1 GIL VICENTE - 2 - VERGONHA

 

Lastimoso

O Benfica perdeu hoje em casa com o Gil Vicente. Perdermos em casa com o Gil Vicente é mau, mas dramático mesmo é quando pensamos que a vitória do Gil Vicente já nem sequer é um escândalo: é normal. O Gil Vicente ganhou de forma quase fácil, isto porque o Benfica não joga quase nada.

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Quando vi a constituição da equipa, com quatro alterações no onze em relação ao último jogo, a satisfação por ver o João Mário fora da equipa, por troca com o Paulo Bernardo, foi de imediato abafada pela constatação da titularidade do André Almeida. As outras duas alterações foram o Otamendi e o Gonçalo Ramos em vez do Morato e do Yaremchuk. Mas de uma forma mais racional, estar a querer individualizar e a achar que jogar este ou aquele jogador fará alguma diferença é estar a simplificar demasiado a situação. Tenho obviamente embirrações pessoais com certos jogadores, mas elas acabam por ser mais uma válvula de escape para a frustração. O problema é mais geral, com a equipa num todo e também fora do campo, na estrutura que nos devia liderar. E digo 'devia', porque neste momento o que eu vejo é um vazio de liderança. Não é um assunto no qual eu goste de me meter, porque prefiro falar de futebol, mas quero apenas dizer uma coisa que me está atravessada (e que julgo que estará também a muitos outros): é absolutamente incompreensível para mim que o nosso presidente assuma publicamente que houve jogadores que literalmente despediram o anterior treinador, e que esses mesmos jogadores não tenham saído pela mesma porta no próprio dia. Se não se arranjava colocação para eles, ficavam afastados do plantel. É assim que se começa a limpar a casa. O que nunca pode acontecer é assobiar-se para o ar e deixar tudo na mesma, porque então quem quer que venha a seguir - neste caso, o Veríssimo - tem o trabalho minado logo à partida. Depois, há lacunas no plantel e deixámos passar a janela de transferências de Janeiro mais uma vez não fazendo absolutamente nada, como se vivêssemos uma situação idílica. A imagem que passa para fora é de uma completa inacção perante o estado lastimoso a que chegámos. Ou, por outras palavras, de uma total ausência de liderança e, consequentemente, de rumo. Navegar à vista nunca deu grande resultado, e então quando navegamos em cima de recifes e parecemos querer continuar por essas águas, é ainda pior. Neste momento qualquer um se sente à vontade para desrespeitar o Benfica em toda a linha, dentro e fora dos campos. São os incessantes ataques da Cofina, a tentar manter uma constante instabilidade. São as nomeações e consequentes arbitragens quase sempre em nosso prejuízo, porque basta ler os nomes dos nomeados para adivinhar o que aí vem - e depois, como o Benfica joga pessimamente, varrem-se para baixo do tapete os autênticos roubos a que temos assistido sobretudo desde a época passada porque 'o Benfica tem obrigação de fazer muito melhor'. E até nas pequenas coisas se nota a falta de respeito: por exemplo, esta noite o Gil Vicente entra na Luz e escolhe o campo 'ao contrário'. Isto era uma coisa que quase nunca acontecia na Luz, agora é uma constante, o que a mim me provoca a sensação de que qualquer um chega a nossa casa e se sente como se estivesse em casa dele, à vontade para pôr os pés em cima da mesa, cuspir no tapete e apagar a beata no braço do sofá.

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Quanto ao jogo, mais do mesmo. O Benfica joga muito pouco. E tendo eu hoje regressado ao estádio ao fim de algumas semanas, observando o jogo sem ser através da televisão, que só nos mostra aquilo que querem mostrar, é ainda mais visível o profundo abismo no qual nos encontramos. É que se nós já jogamos mal quando temos a bola, quando não a temos é ainda pior. Não é por acaso que vemos os nossos adversários ganharem quase sempre as segundas bolas, ou surpreenderem-nos nas transições. É que a nossa equipa não sabe sequer como posicionar-se sem bola. Não estamos preparados para reagir à perda de bola, não sabemos pressionar como um bloco, e quando temos a bola os jogadores que não a têm raramente sabem como se movimentar entre linhas, atacar o espaço e proporcionar opções de passe ao colega que tem a bola. Depois os jogadores estão a jogar completamente sobre brasas e os níveis de confiança são inexistentes, por isso perdem quase todos os duelos individuais, precipitam-se nas finalizações e falham passes fáceis ou recepções de bola simples. E como se tudo isto não bastasse, tudo o que puder correr mal em cima disso, corre, e se for necessário as tais nomeações cirúrgicas ainda ajudam à festa. Caso em questão, esta noite o Benfica colocou-se em vantagem logo aos seis minutos de jogo, o que poderia ter ajudado muito a equipa a tranqulizar-se e se calhar as coisas teriam corrido melhor. Mas na marcação do livre lateral que levou a bola à área, o sabujo do Artur Soares Dias inventou uma falta fictícia e apitou antes que a bola tivesse entrado, invalidando assim qualquer possibilidade de revisão do lance pelo VAR (embora, com o Hugo Macron no VAR, não apostasse nas nossas possibilidades de sucesso). Já revi o lance quando cheguei a casa. Não houve obviamente absolutamente nada. O jogador do Gil Vicente encosta-se ao Vertonghen, deixa-se cair, e o pasteleiro bufou no apito. Trabalhinho feito - e a má intenção da criatura ficou por demais evidente. A mesma pessoa que, como VAR, na final da Taça da Liga não conseguiu ver um puxão evidente sobre o Henrique Araújo, neste lance conseguiu ver o que mais ninguém viu. Depois, para continuar na senda de tudo correr mal, no primeiro remate que o Gil Vicente fez no jogo, marcou. Foi aos onze minutos numa transição ofensiva após o Benfica perder a bola no ataque, claro, conduzida apenas por dois jogadores. Um deles correu quase dois terços do campo com a bola, tabelou com um colega, e já dentro da área fez um remate pífio que passou entre as pernas do Vertonghen sem que o Vlachodimos tivesse reacção. E fiquei logo com a sensação de que o caldo estava entornado.

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O Benfica continuou a jogar aquele seu futebol sem objectividade, cheio de lateralizações e hesitações quando chegamos perto da área - as excepções foram uma ocasião do Gonçalo Ramos na qual a bola passou muito perto da baliza, e uma iniciativa individual do Vertonghen na qual o guarda-redes fez uma grande defesa - com o Paulo Bernardo a ter um posicionamento algo incompreensível durante quase todo o jogo, actuando quase como segundo avançado. Se é para o promover à equipa principal para depois o meter constantemente a jogar fora de posição, como a médio esquerdo ou segundo avançado, então acho que me verei obrigado a pedir desculpa ao JJ por o ter criticado depois de o ter experimentado a lateral direito em alguns jogos de preparação. Ao intervalo adivinhei logo que entraria o João Mário para o lugar do Meïté, para ajudar a lateralizar e a engonhar ainda mais, o que veio a verificar-se e ele não me desiludiu. Também entrou o Rafa para o lugar do Diogo Gonçalves, que de início ainda teve algumas arrancadas entusiasmantes pelo meio, mas que depois se foi encostar à esquerda quando o Everton saiu e se foi progressivamente apagando até quase desaparecer. Apesar da pressão estapafúrdia do Benfica, o que se começava a adivinhar era mais um golo do Gil Vicente (que o Vlachodimos evitou duas vezes) e isso aconteceu mesmo aos sessenta e quatro minutos, na altura em que o Benfica se preparava para para fazer mais duas trocas (Everton e André Almeida por Henrique Araújo e Lázaro). Mais um exemplo que nos deixa a pensar se o Benfica fará algum tipo de trabalho defensivo nos treinos, porque o golo foi quase a papel químico do primeiro golo da lagartagem no último jogo: pontapé de canto do lado direito da nossa defesa e bola para a zona da pequena área, onde um dos centrais adversários apareceu a antecipar-se para marcar de cabeça. Embora, verdade seja dita, o golo tenha parecido um bocado às três pancadas, aparentando ter sido a bola a bater mais nas costas do que na cabeça dele e depois a descrever uma trajectória estranha em balão para o segundo poste. Onde, mais uma vez, não estava ninguém - é uma coisa que me faz confusão, porque era uma situação clássica quando jogava futebol que nos cantos se colocassem os laterais a defender os postes, mas suponho que isso tenha caído em desuso. O Benfica continuou a tentar pressionar sobre brasas, nos minutos finais trocámos o Vertonghen pelo Radonjic (recuou o Weigl - péssimo jogo - para central) e o sérvio ainda dinamizou um bocado a ala direita, embora tenha sido tão desastrado como os restantes colegas. Conseguimos reduzir a um minuto do final, num cabeceamento do Gonçalo Ramos após cruzamento do Rafa a partir da esquerda, mas o Gil Vicente tinha o jogo na mão e facilmente queimou os míseros cinco minutos de compensação (o crime do antijogo compensa sempre nos jogos contra o Benfica) para segurar a vitória. Acho sempre estranha a quantidade de cãibras que os adversários do Benfica parecem sofrer, porque certamente que elas não serão resultado do ritmo alucinante que o Benfica impõe no seu futebol.

 

Mais uma vez, não consigo fazer destaques no meio de tamanha mediocridade.

 

Honestamente, não sei como será possível sairmos desta espiral negativa. Existe valor no plantel para fazer muito mais e melhor. Mas não estou a ver de onde virá a liderança e o pulso firme necessários para conseguir pegar nestes jogadores e puxá-los na direcção certa, porque essa tarefa é hercúlea. Os níveis de motivação estão num mínimo, quer da parte dos atletas, quer da parte dos próprios adeptos - o Estádio da Luz esta noite teve um ambiente quase fúnebre. Seja como for, alguma coisa tem que acontecer. Não é possível deixar as coisas irem andando como se nada de anormal se estivesse a passar. Não fazer nada é morrer por suicídio.

 

P.S.- Entretanto, vi que também ficou por assinalar um penálti sobre o Otamendi. Mas se assinalar penáltis a favor do Benfica já é normalmente muito raro, então com o pasteleiro a apitar e o Macron no VAR isso torna-se numa impossibilidad

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