Respeitinho
Não foi uma exibição tão exuberante como a última (também seria muito difícil igualá-la) mas vencemos tranquilamente o Aves e até poderíamos ter voltado a golear caso não jogássemos a última meia hora reduzidos a dez - pelo menos todos os indicadores até à expulsão apontavam para que tal acontecesse. Ms pronto, para sossegar os lesados do dez desta vez resolvemos respeitar o adversário e não marcámos mais golos, tendo até acabado o jogo com com menos um para equilibrar as coisas. É que o respeitinho pelo futebol é muito bonito.
Nova revolução no onze com o regresso à fórmula que bateu o Nacional por dez golos sem resposta. E nova entrada a todo o gás do Benfica, que se colocou em vantagem ainda não tinham decorrido três minutos de jogo. O golo nasce de um passe do Samaris para as costas da defesa do Aves, onde o inevitável Seferovic matou no peito e depois finalizou fazendo a bola passar sobre o guarda-redes quando este lhe saiu aos pés. Uma finalização com muita calma e classe de um jogador que está cheio de confiança. Desta vez o VAR não se lembrou de ir ver se ele tinha jogado a bola com a mão. Alguma surpresa por ser o Samaris o autor do passe e não o Gabriel, mas nesta primeira parte o Samaris até foi frequentemente mais atrevido no ataque do que o seu parceiro do meio campo. Perante uma equipa que certamente estaria apostada em segurar o nulo, tendo-se apresentado de início com três centrais, nada melhor do que começar a fazer ruir essa estratégia o mais cedo possível. Não é que perante isto o Aves tenha imediatamente arriscado vir para o ataque, mas aposto que pelo menos nos poupou a um festival de antijogo, coisa habitual nas equipas treinadas pelo Inácio sempre que defrontam o Benfica. Já sabemos que este Benfica joga sempre à procura de mais golos mesmo quando está em vantagem. O que é interessante é a forma como o faz, adaptando o modelo de jogo consoante o adversário - o nosso treinador já o tinha afirmado na antevisão a este jogo, e vimos isso mesmo hoje. Por exemplo, perante um esquema de três centrais vimos frequentemente o Rafa a fugir da esquerda e a aparecer na zona central para obrigar os defesas adversários a jogar em 1x1. E acima de tudo, muita mobilidade dos três jogadores da frente para baralhar a organização defensiva do Aves - o João Félix foi tudo menos um avançado fixo, deambulando no espaço entre a defesa e o meio campo. Continuámos muito por cima no jogo e a procurar rapidamente o segundo golo. Mas curiosamente foi num período em que a pressão do Benfica até parecia ter abrandado um pouco, já na fase final da primeira parte, que fizemos o segundo golo. Um bonito golo do Rafa, que dentro da área tirou um adversário da frente e rematou cruzado, depois de uma jogada em que a bola passou pelo Pizzi, Grimaldo e João Félix. Os dois golos de diferença já era uma expressão mais ajustada à superioridade que o Benfica mostrou durante toda a primeira parte. O Aves apenas por uma vez causou perigo, num livre lateral que quase fazia a bola entrar na nossa baliza, tendo-nos valido uma boa intervenção do Vlachodimos - mas nem sequer percebi se o livre foi intencionalmente marcado daquela maneira ou não.
Se alguém esperava uma entrada mais atrevida do Aves na segunda parte, de forma a conseguir um golo que os recolocasse na discussão do resultado, depressa terá ficado desiludido. Porque na segunda parte só deu Benfica mesmo, numa busca quase incessante pelo terceiro golo. Que esteve muito perto de acontecer em diversas ocasiões, sendo de lamentar o pouco acerto dos nossos jogadores quer na finalização, quer na decisão (optarem pelo remate quando tinham colegas em posição de marcar), quer no último passe. Mas tamanho caudal ofensivo só poderia acabar em mais um golo, que surgiu através de um autor improvável. Depois de uma confusão na área no seguimento de um canto, o Ferro acabou por conseguir enviar a bola para a baliza e deixar-nos a antecipar mais uma goleada. Não por qualquer questão de excesso de confiança ou arrogância, apenas porque parecia ser o desfecho mais lógico para aquilo a que assistíamos no campo. Até porque logo na jogada seguinte só não marcámos mais um porque o Pizzi, em posição privilegiada, não conseguiu acertar com a baliza - isto quando até tinha dois colegas no meio a quem podia ter passado a bola. Só que a seguir a isto o Ferro agarrou o Derley quando ele se ia isolar, e foi justamente expulso. Uma pena sobretudo para ele, porque é um golpe duro num jogador que estava a aproveitar a oportunidade para se afirmar. O Benfica reorganizou-se sem sequer fazer qualquer substituição: o Pizzi passou para o meio, o Samaris recuou para central e o João Félix passou a fechar a direita. Quanto ao resultado, nem deu para ficar preocupado. A jogar com mais uma unidade o Aves conseguiu equilibrar um pouco a posse bola, mas nunca conseguiu ser uma equipa perigosa. Apenas nas bolas paradas despejadas para a área se aproximava da nossa baliza. A confiança na equipa é tanta que até me esquecia facilmente que estávamos a jogar em inferioridade numérica e parecia-me que a qualquer momento o Benfica iria conseguir voltar a marcar - e não esteve assim tão longe de o fazer, pelo João Félix, mas o remate saiu um pouco ao lado. A expulsão terá no entanto condicionado a gestão de esforço que o nosso treinador certamente quereria fazer, já que acabou por guardar as substituições todas para os últimos minutos.
Tenho dificuldades em escolher quem terá sido o melhor jogador esta noite. Acho que foi mais um jogo sólido da equipa num todo, com cada jogador a fazer aquilo que dele se esperava e a contribuir para uma vitória sem espinhas. Gostei do jogo do Rafa, não só pelo golo que marcou mas também porque está com uma atitude fantástica a defender. Por mais de uma vez o vimos a vir recuperar bolas que ele próprio tinha perdido no ataque, coisa que não era habitual nele. Pena pela expulsão do Ferro, que estava a fazer um jogo cheio de confiança.
Missão cumprida e três pontos conquistados que nos deixaram mais folgados no segundo lugar, mantendo a perseguição ao primeiro. Segue-se uma segunda mão da Liga Europa que me parece que será bem mais difícil do que a vitória no primeiro jogo pode fazer crer. Mas confio que o nosso treinador saberá gerir algum eventual excesso de confiança. Para a liga, ficámo-nos pelos três golos para não ofender ninguém e não sermos acusados de estar a faltar ao respeito a quem quer que seja. A última coisa que queremos é ser ultrajar a gente que acusa os nossos adversários de facilitarem contra nós, ou insinua que os nossos jogadores estão dopados. Esses é que são os guardiões do respeito pelo futebol em Portugal.
Sem comentários:
Enviar um comentário