Desolador
Um Estádio da Luz com as bancadas preenchidas por um vazio desolador acolheu a triste despedida de uma campanha europeia igualmente desoladora. E a exibição da nossa equipa neste jogo não quis destoar deste cenário, tendo como resultado mais uma derrota, que significa um registo perfeitamente negativo para esta nossa participação.
Muitas mudanças no onze - que já tinham sido anunciadas. Apenas dois jogadores repetiram a titularidade do último jogo, o Jardel e o Pizzi. O resto foram regressos e novidades: Svilar, Douglas, Lisandro, Eliseu, Samaris, João Carvalho, Zivkovic, Diogo Gonçalves e Seferovic. Se havia alguma expectativa em ver algo diferente para melhor neste jogo, depressa ficou gorada. Bastaram cinco minutos e o Basileia subir à nossa área pela primeira vez para nos vermos atrás no marcador. Um cruzamento largo e um adversário a surgir completamente solto na área onde nunca poderia estar, ou seja, no espaço entre o lateral direito e o central, para cabecear com sucesso (acho que nem precisou de saltar). E pouco mais o Basileia precisou de fazer durante a primeira parte. O Benfica naturalmente que tentou reagir, mas raramente mostrou saber como fazê-lo. Perante os três centrais adversários, foi preciso esperar algum tempo para vermos a equipa parar de tentar exclusivamente jogar pelo centro e começar a tentar explorar as faixas. E conseguimos de facto criar alguns lances mais perigosos, mas a finalização/decisão foi sempre exasperantemente má. O Basileia limitava-se a manter a organização defensiva e a esperar por nós, para depois aproveitar alguma asneira para sair rapidamente. E causar perigo: acho que perto do intervalo, na segunda vez em que desceram com perigo à nossa área (depois de um corte patético do Lisandro, que deixou a bola nos pés de um adversário) só não marcaram porque o jogador que se isolou preferiu tentar a assistência para um colega e o Jardel fez o corte já na pequena área.
Os nossos jogadores entraram decididos para a segunda parte, a pressionar alto, mas a repetir os erros da primeira parte. Má finalização, más decisões (não só no ataque, mas em todo o terreno, com perdas de bola sucessivas na saída para o ataque) e pior de tudo, a desconcentração defensiva que foi a norma nesta edição da Champions, e que explica em muito a prestação conseguida. O Basileia não precisou de fazer grande coisa para garantir a vitória. Uma vez mais, simplesmente manter a organização e esperar pelas asneiras. O segundo golo foi básico: um livre a meio do nosso meio campo, balão para a área, um jogador ganha ao segundo poste e coloca no primeiro, onde aparece alguém solto de marcação a empurrar para a baliza (com o Svilar a hesitar na saída ao cruzamento, Samaris a marcar com os olhos). Depois do segundo golo a equipa continuou a tentar como melhor podia, mas foi um desnorte quase total, com muita gente a jogar para si mesma e erros de principiante a resultarem em perdas de bola comprometedoras. O Benfica teve mais de 60% de posse de bola e fez mais de vinte remates, mas ter mais bola de pouco serve quando como equipa não sabemos o que fazer com ela - e os números da posse de bola foram uma constante nesta campanha europeia. Em apenas meia dúzia de remates o Basileia marcou dois golos, e poderia ter marcado outros tantos. Entre tantos números negativos para recordar (sim, para recordar e não para esquecer) como a nossa pior prestação de sempre na Champions League - e pior cabeça de série de sempre - há mais um que é exemplificativo do quão mal estivemos: neste momento estamos há 518 minutos sem marcar um golo na Champions. São oito horas e trinta e oito minutos de futebol sem conseguirmos marcar um golo para amostra. Desde que o Seferovic, ao minuto cinquenta do jogo contra o CSKA na primeira jornada, marcou, mais nada. Quando se ataca assim tão mal e se defende ainda pior numa competição deste nível, o resultado só pode ser o que vimos.
É difícil elogiar alguém num jogo destes. Sim, houve jogadores que mostraram vontade, como o Seferovic ou o Zivkovic, mas houve outros que foram um desastre e não aproveitaram a oportunidade. O Douglas, se for embora em Janeiro, já vai tarde. Não podemos ter um lateral que parece desconhecer as noções mais básicas de como defender. O Lisandro pode ter muito boa vontade, mas é outro desastre a defender. Os miúdos Diogo Gonçalves e João Carvalho passaram completamente ao lado do jogo, e no caso do segundo até acho que esteve tempo a mais em campo, porque quando começou a aparecer mais em jogo na fase final, em que só jogávamos com dois médios, somou um disparate a seguir ao outro. O Samaris foi tenebroso, o Svilar quase conseguiu somar mais um lance ao anedotário desta Champions, quando passou a bola para os pés de um adversário, o Pizzi quis tanto mostrar serviço que quase só fez asneiras, incluindo uma mão cheia de passes inacreditavelmente maus, e podia continuar.
Fechado este capítulo negro na nossa história, temos agora que saber limpar a cabeça e mostrar já no próximo sábado, contra o Estoril, o nosso empenho na conquista do campeonato. E por limpar a cabeça quero dizer não deixar que esta péssima prestação europeia, totalmente indigna dos nossos pergaminhos, afecte o nosso desempenho nas provas internas. Esquecê-la é impossível
Sem comentários:
Enviar um comentário