sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

BENFICA - 1 DORTMUND - 0 - FELIZ

Jogámos a primeira metade da eliminatória claramente para o resultado e acabámos por conquistar uma vitória feliz, beneficiando de uma noite muito inspirada do Ederson e muito desinspirada do Aubameyang. Há jogos assim, e hoje tivemos que lutar muito para sermos felizes no final.


Tendo em conta a forma que tem apresentado nos últimos jogos, o Benfica tinha logo à partida uma baixa de peso para este jogo no Zivkovic. A que se juntou outra horas antes do seu início, quando se confirmou a indisponibilidade do Jonas. Para o lugar do sérvio entrou o Salvio, e para o do Jonas o Rafa. Já escrevi anteriormente que sou também adepto do Dortmund há vários anos (desde uma final da Taça UEFA que perderam em 1993 contra a Juventus, para ser mais preciso) e sigo todos os seus jogos, por isso não tinha quaisquer dúvidas sobre as dificuldades que enfrentaríamos neste jogo. Aquilo que jogaria a nosso favor seria alguma intranquilidade dos alemães devido aos últimos resultados negativos. Mas apesar de internamente estarem a atravessar uma fase menos boa, o valor do plantel do Dortmund somado à motivação adicional de disputar a Champions eram mais do que suficientes para saber a enorme tarefa que tínhamos pela frente. O que depressa se confirmou - efectivamente, pouco tenho a dizer sobre a nossa primeira parte em termos ofensivos porque muito pouco aconteceu. Embora os primeiros minutos até tenham dado a impressão enganadora de que seria um jogo aberto de parada e resposta, durante os quais o Salvio teve uma boa ocasião mas resolveu (sem surpresa) optar pela iniciativa individual até rematar de ângulo fechado para a bancada, depressa caiu para o cenário que me parecia mais provável. O Dortmund tomou conta da bola e começou a fazer o estilo de jogo em que se sente mais confortável, de construção lenta e trocas de bola em zonas mais recuadas à espera de alguma aberta para uma das três setas da frente (Reus-Aubameyang-Dembelé). O Benfica por sua vez cerrou linhas atrás, com a defesa e meio campo muito juntas, procurando bloquear todas as possíveis linhas de passe e possibilidade de jogo entre linhas. Fizemos uma coisa bastante positiva, que foi conseguir secar muito do jogo para o Weigl, que apesar de ser o médio mais defensivo é o jogador por onde se costuma iniciar quase toda a construção de jogo do Dortmund (estive em Alvalade em Outubro e foi por aí que eles começaram a ganhar o jogo). Mas se fizemos relativamente bem o trabalho defensivo, já não fomos capazes de construir jogo ofensivo de forma eficaz. Quase nunca conseguimos sair com critério para o ataque, entregando a bola rapidamente ao adversário e muitas vezes perdendo-a mesmo em zona proibída - a pressão do Dortmund era imediata, e os nossos jogadores insistiam em querer sair a jogar logo à entrada da área. As ocasiões de golo escassearam mas as poucas que houve foram todas do Dortmund, e quase sempre nascidas de erros individuais dos nossos jogadores. Uma perda de bola infantil do Pizzi acabou com o Aubameyang isolado a atirar por cima, na primeira grande perdida da noite. Nova perda de bola do Pizzi, seguida de demasiada cerimónia do Fejsa para aliviar a bola, resultou em mais uma boa ocasião, com o remate do Dembelé a ser desviado no limite para canto pelo Lindelöf. E a outra grande ocasião surgiu num lance em que o Lindelöf e o Ederson hesitaram e o Guerreiro conseguiu fazer o cruzamento sobre a linha de fundo, com a bola a passar ao longo de toda a baliza a poucos centímetros do golo, sem que o Aubameyang a conseguisse desviar.


Na segunda parte colocámos mais um médio, substituindo o Carrillo pelo Filipe Augusto, e mais uma vez nos primeiros minutos demos a ideia de querer ir para cima do adversário. Desta vez fomos felizes porque fomos recompensados com um golo logo aos quarenta e oito minutos. Canto da direita marcado pelo Pizzi, o Luisão ganhou nas alturas e o Mitroglou falhou o primeiro desvio, mas a bola acabou por ficar à sua frente quase em cima da linha de golo para que a empurrasse para lá da linha. Foi o primeiro remate do Benfica à baliza, e acabou por ser o último remate que fizemos no jogo. A partir daí o Dortmund voltou a tomar completamente conta do jogo, e a ordem do nosso lado era apenas segurar a vantagem. E foi bem difícil fazê-lo, porque o Dortmund foi bastante mais incisivo do que tinha feito na primeira parte. Apesar de termos mais um médio em campo, estranhamente o Weigl teve mais espaço para jogar, e isso paga-se. Foi uma segunda parte a cerrar fileiras contra os ataques sucessivos do Dortmund e a ver o Ederson resolver aquilo que por vezes parecia não ter solução. A resposta do Dortmund ao golo foi forte e imediata: minutos depois, e num curto espaço de tempo, o Ederson com uma mancha tirou o golo ao Dembelé, que viu a bola cair-lhe à frente depois de um disparate da nossa defesa, pouco expedita a aliviá-la, ao Reus, que surgiu solto na direita a rematar cruzado, e ao Piszczek, com uma excelente defesa a um remate de fora da área. Pelo meio, o Aubameyang voltou a atirar por cima quando ficou isolado após um passe a meias entre o Bartra e o árbitro do jogo. E logo a seguir, penálti para o Dortmund por mão do Fejsa, em mais um lance em que achei que a nossa defesa foi pouco lesta a atacar a segunda bola. O Aubameyang tentou marcar para o meio da baliza mas o Ederson esperou, não caiu e defendeu o remate com alguma facilidade. Depois desta fase de verdadeiro bombardeamento à nossa baliza o jogo acalmou um pouco. O Dortmund continuou a dominá-lo, mas acertámos melhor as marcações e a nossa defesa ia dando conta do recado com maior eficácia, com o Ederson a ter apenas trabalho na saída a cruzamentos. Ainda assim, a cereja no topo da grande exibição do nosso guarda-redes ainda estava para vir. Foi já perto do final, quando fez uma defesa do outro mundo a um remate de ressaca de fora da área que ainda fez a bola tabelar no Jiménez e desviar a direcção, e assim assegurou a vantagem para o jogo da segunda mão.


Depois do que já escrevi seria até desnecessário escrever que o Ederson foi o homem do jogo. Por todos os motivos já descritos. Foi um verdadeiro gigante na baliza e o principal responsável pela vitória. Gostei do jogo dos nossos centrais, com particular destaque para o Luisão no seu jogo 500 pelo Benfica. Se o Dortmund praticamente não criou perigo nos pontapés de canto de que dispôs foi porque o Luisão cortou praticamente todas essas bolas. Teve ainda desarmes fundamentais e esteve directamente ligado ao lance do golo. Bom jogo do Nélson Semedo, que durante diversos períodos do jogo parecia ser o único jogador capaz de sair para o ataque com a bola controlada e que conseguiu manter quase sempre sob controlo dois dos adversários mais perigosos, primeiro o Reus e depois o Dembelé (apenas por uma vez deixou o Reus solto). O Fejsa fez uma primeira parte atípica, pouco decidido e parecendo entrar a quase todos os lances de forma demasiado macia, mas melhorou na segunda parte apesar do penálti cometido. O Pizzi fez um jogo simplesmente desastroso e o Rafa um jogo inexistente - foi presa muito fácil para os centrais do Dortmund e a única coisa que o distingue do Pizzi é que ao menos não fez nada de prejudicial, enquanto que os erros do Pizzi quase que resultaram em golos sofridos.

Foi uma vitória 'injusta'? Talvez, mas tem piada que eu nunca vejo essas preocupações com injustiças quando o Benfica perde pontos na situação inversa. Vão lá ver os números dos jogos do Benfica contra o Setúbal ou contra o Marítimo, por exemplo. O domínio do Benfica nesses jogos foi ainda mais evidente, mas a crítica foi unânime nos elogios às equipas que nos venceram e à justiça dessas vitórias. Claro que também temos que ter em conta que o Dortmund é um adversário fácil - anteontem vi na SportTV um comentador a afirmar, sem se rir, que este Dortmund era mais fraco do que aquele que jogou em Outubro contra o Sporting. Dortmund esse que nessa altura tinha onze jogadores lesionados (metade do onze inicial de hoje não esteve no jogo de Outubro) sendo obrigado até a fazer alinhar jogadores que não estavam nas melhores condições físicas (e que saíram naturalmente lesionados). Mas este Dortmund é mais fraco do que esse, obviamente. Não estou a querer fazer qualquer tipo de comparação entre Benfica e Sporting; cada jogo é um jogo e o Sporting não é para aqui chamado. Apenas me irrita a constante necessidade que parece haver em desvalorizar antecipadamente os nossos adversários. Enfim, este jogo está ganho, daqui a três semanas voltamos a pensar no Dortmund. Agora o importante é o jogo que se segue, uma visita sempre complicada a Braga. Onde o herói deste jogo não estará disponível mas espero que, para nosso bem, não tenhamos assim tanta necessidade de um guarda-redes inspirado nesse jogo.

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