Uma noite que serviu para coroar um menino da formação que finalmente pôde atuar na verdadeira posição em que cresceu como jogador: a de ponta de lança.

A passada noite de terça-feira foi a noite de Gonçalo Ramos, jovem que na temporada passada jogava na sombra e nas costas de Darwin Nuñez, e que agora é a principal referência ofensiva do Benfica.

O filme do jogo é fácil de relatar. Dois cabeceamentos certeiros do ponta de lança de 21 anos e uma movimentação 'à meia volta' dentro da grande área digna de um número 9. Pelo meio, ficou o 'despercebido' remate de fora da área de Enzo Fernández que ajudou ao pesadelo dos dinamarqueses.

Schimdt disse que Gonçalo Ramos "podia ter feito mais um ou dois golos" e o próprio jogador confessou que "só em sonhos poderia ser melhor do que isto".

O verdadeiro sonho parece estar no play-off da Liga dos Campeões, que está cada vez mais ao alcance do Benfica. Tudo vai ficar decidido na segunda mão, a realizar-se na próxima terça-feira, dia 9 de agosto, pelas 18h45. Os encarnados levam para a Dinamarca uma vantagem de três golos.

VEJA AS MELHORES IMAGENS DO BENFICA 4-1 MIDTJYLLAND

O Jogo: Correu tudo bem, excepto na 'Panenka'

Esta foi a primeira aparição oficial do novo Benfica de Roger Schmidt  na temporada 2022/23. Em causa estava o duelo com o Midtjylland naquela que era a primeira mão da terceira pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões. O resultado deu sequência ao registo vitorioso apresentado na pré-época, mas com um senão: o golo sofrido de penálti já na segunda parte e cobrado à 'Panenka'.

No 4-1, ficaram assim registados os três golos de Gonçalo Ramos e um de Enzo Fernández para as águias, com Pione Sisto a reduzir para os dinamarqueses.

Num duelo com mais de 53 mil espetadores - a perfazer uma casa bem composta nesta altura do ano - o árbitro espanhol Hernández Hernández esperou que o relógio apontasse as 20h horas e apitou para o início do encontro com a bola a sair aos pés dos visitantes.

Schmidt apostou num onze que já se esperava e com o 4-3-3 bem consolidado. Gilberto manteve o lugar a lateral direito e o trio de meio campo voltou a mostrar a versatilidade a que nos tem habituado. Florentino com Enzo Fernández mais atrás e João Mário com um papel mais ativo junto dos homens da frente.

Refira-se, contudo, que esta nem foi propriamente a noite de João Mário brilhar, mas Enzo Fernández apareceu com tudo na hora de olhar para a baliza - esta é uma das vantagens de um novo modelo que é capaz de dotar os jogadores do Benfica com várias orientações posicionais em simultâneo. Rafa e Neres deambulavam e desequilibravam as alas com Gonçalo Ramos a ser o 9 puro (quem o viu no ano passado...).

O técnico Henrik Jensen apostou no habitual 3-4-3 com claras fragilidades defensivas e com apenas um único jogador a causar algumas dores de cabeça: o número 7 Pione Sisto que por vezes causou dificuldades a Gilberto e que ainda teve a 'ousadia' de reduzir o marcador com um penalti à 'Panenka'.

Mas abrindo o filme dos 90 minutos, o Benfica mostrou logo ao que vinha. Depois de um aquecimento inicial, Enzo Fernández ensaiou a primeira oportunidade logo aos 15 minutos, mas o guardião Olafsson defendeu o remate do argentino.

Indefensável foi o cabeceamento de Gonçalo Ramos logo no minuto seguinte. David Neres estava completamente endiabrado e ofereceu a bola para a cabeça do jovem ponta de lança português que só teve de encostar para o fundo das redes. Estava feito o primeiro e desatado o nó da eliminatória aos 16 minutos.

Neres queria passar da assistência para o golo, mas Olafsson negou aquele que poderia ser o 2-0 com um voo para canto aos 18 minutos.

Passava pouco tempo da meia-hora do encontro e Gonçalo Ramos decidiu não só bisar como repetir a papel-químico o lance do primeiro golo. Neres assistiu e o cabeceamento voltou a ser certeiro para o fundo das redes. Era assim o 2-0 aos 33 minutos.

O hat-trick só não surgiu três minutos depois porque Rafa, praticamente isolado, não mediu a intensidade do passe na assistência para o goleador da noite.

Nos minutos seguintes entrou a via-aberta para remates de fora da área. Grimaldo ensaiou a repetição do golo que marcou frente ao Newcastle, mas desta vez encontrou oposição à altura na baliza. Enzo Fernández não se deixou ficar e conseguiu mesmo levar o míssil a bom porto. Na sequência de um pontapé de canto cobrado à esquerda por João Mário, foi só rematar com classe e potência para o fundo das redes. Era o 3-0 da tranquilidade aos 40 minutos e que fechava a contagem no regresso aos balneários.

Depois do intervalo ainda houve tempo para mais. Henrik Jensen fez entrar Chilufya para o lugar de Dreyer, mas a tendência continuava igual.

Gonçalo Ramos mostrou - pela primeira vez - a pontaria desacertada e falhou um golo que parecia fácil aos 47 minutos. Dez minutos depois, voltava a fazer das suas, mas a finalização voltava a trair aquela que seria uma jogada de génio.

Aos 59 minutos, Neres atirou com estrondo à barra de Olafsson - ainda agora deve estar a tremer, tal foi a intensidade do remate - mas o 4-0 acabou mesmo por chegar. Era o hat-trick de Gonçalo Ramos numa jogada em que 'à meia-volta' atirou sem piedade para aquela que já se tornava numa noite de sonho.

O técnico da equipa dinamarquesa promoveu mais três entradas, mas já pouco havia a fazer. A réstia de esperança surgiu na grande penalidade cometida por Morato sobre Paulinho e convertida à 'Panenka' por Pione Sisto aos 77 minutos.

Henrique Araújo, Yaremchuk e Chiquinho foram chamados a jogo para as saídas de Rafa, Gonçalo Ramos e David Neres. Do outro lado, Kouakou foi a última entrada.

Ao cair do pano, Yaremchuk ainda tentou entrar na lista dos marcadores, mas já não havia tempo para mais. O Benfica está assim bem encaminhado para seguir para o play-off de acesso à Liga dos Campeões.

Momento-Chave: A primeira cabeçada de Ramos

Quando se enfrenta um adversário teoricamente inferior, é de esperar uma muralha defensiva sólida como uma das principais armas. Mas, para isso, esteve lá Gonçalo Ramos para desatar rapidamente o nó antes que as coisas se complicassem.

O momento-chave do encontro foi assim o 1-0 do número 88 dos encarnados quando, depois de uma jogada de mestre de David Neres, atirou de cabeça para o fundo das redes do Midtjylland. O cronómetro apontava para os 16 minutos e já um sábio dizia que... estava aberto o ketchup.

Os Melhores: Terça de Ramos com companhia de Neres

Gonçalo Ramos tem de ser inevitavelmente eleito como o homem do jogo. O jovem ponta de lança português esteve a um nível superlativo e deixou água na boca para aquela que pode ser a posição 9 do Benfica nesta época. Foi assim um hat-trick com dois cabeceamentos e bom movimentos dentro da grande área. Schmidt tem razão quando diz que Gonçalo Ramos ainda poderia ter feito mais golos, mas a continuar neste momento de forma, basta esperar pelo próximo jogo.

David Neres consegue finalmente honrar a camisola número 7 depois da saída de Cebolinha. Um jogador que, tal como Pablo Sarabia na temporada passada, pode ser mais uma raridade que nunca se vai perceber como veio cá parar. Pelo menos até agora tem mostrado atributos acima da média. Nesta primeira mão foi claramente uma dor de cabeça para a defesa visitante e foram várias as vezes que deixou as bancadas em êxtase. Gonçalo Ramos só lhe tem de agradecer pelos dois golos marcados.

Seja o melhor treinador de bancada!

Subscreva a newsletter do SAPO Desporto.
 

Do lado do Midtjylland, quem se sobressaiu mais foi mesmo Pione Sisto. O extremo dinamarquês não só marcou o único golo dos visitantes como também foi das poucas amostras de virtuosismo ofensivo.

Os 'Menos Bons': João Mário, Morato e mais alguns

Não querendo ser injusto, mas esta não foi a noite de maior inspiração do médio internacional português. Verdade seja dita que fez a assistência para o 3-0 de Enzo Fernandéz, mas com o protagonismo da linha mais ofensiva e do seu companheiro de meio-campo, acabou por tornar-se num dos elementos que não deu tanto nas vistas.

Gilberto e Rafa também não estiveram ao nível dos endiabrados da noite. O lateral-direito brasileiro preocupou-se em travar Sisto enquanto Rafa viveu na sombra do espetáculo de Neres.

Noite ainda pior teve Morato. O jovem central encarnado cometeu a grande penalidade que permitiu ao Midtjylland reduzir o marcador para 4-1.