A arca do Benfica meteu água em Chaves
Depois de um dilúvio de proporções bíblicas que atrasou o apito inicial, um belo jogo de futebol entre Chaves e Benfica, com golpes, contra-golpes, golos ao cair do pano e uma equipa mais pequena (mas pouco) a agigantar-se e a tirar dois pontos ao gigante. Rafa ainda tentou ser Noé para os encarnados, mas o 2-2 final é justo para um Chaves que nunca abdicou de jogar bem
28.09.2018 ÀS 0H20
Está no Génesis. Assim em jeito de responso pelos pecados da humanidade, Deus decide inundar a terra, permitindo a Noé, homem às direitas, construir uma arca para salvar a sua família e vários exemplares dos animais terrestres. O dilúvio, diz a Bíblia, arrasou com toda a vida no planeta, salvando-se a arca de Noé e restantes ocupantes.
Não sei se a bátega que se abateu sobre Chaves poucos minutos antes da hora marcada para o Chaves-Benfica e atrasou o jogo em uma hora teve proporções bíblicas, mas acredito que no meio de todo aquele temporal, Rafa tenha chamado o seu inner Noé, disposto a salvar o Benfica da intempérie. E quase conseguia, não fosse do outro lado estar uma equipa de futebol - e chamo-lhe equipa de futebol porque bem sabemos que nem todas as equipas que andam por aí são equipas de futebol.
Mas o Chaves é e em casa também quis salvar a sua arca. E fê-lo reagindo muito bem ao primeiro golo do Benfica, que apareceu logo aos 3 minutos, numa jogada simples com Rafa, Noé Rafa, a terminar no coração da área uma bonita e eficaz jogada dos encarnados, que começou em Grimaldo, passou por Seferovic e ainda por Cervi que fez o cruzamento para o internacional português.
Depois do golo, o jogo foi do Chaves. Com calma e variando muito bem os acontecimentos, com ataque apoiado pintalgado com algumas jogadas mais diretas, valeu ao Benfica Vlachodimos, decisivo aos 10’, negando o golo a Paulinho, e aos 18’, após um cabeceamento de Eustáquio.
Sem conseguir pegar no jogo, o Benfica tentava chegar à área do Chaves em contra-ataque, aproveitando que a arca do Chaves estava toda instalada no meio-campo contrário. Mas perigo a sério só num remate de Gabriel aos 22’, com a bola a ir ao encontro do poste da baliza de Ricardo.
Depois da tempestade vem a bonança, diz-se, e em Chaves a bonança veio em forma de um belo jogo de futebol, dividido, com duas equipas com vontade de atacar. E a 2.ª parte, que até começou mais morna, voltou a aquecer a partir dos 60’, quando Ricardo salvou a equipa da casa em jogadas seguidas. Primeiro depois de Noé Rafa fazer tudo bem e a abrir as portas da arca a Seferovic, que não conseguiu ultrapassar as manchas do guarda-redes do Chaves. Nem ali, nem no canto que se seguiu.
E, já que estamos numa de frases feitas, quem não marca, sofre e aos 75 minutos, num livre direto, o Chaves empatou, com uma bomba de Ghazaryan, bomba para a qual os encarnados não estariam preparados - não fosse assim e talvez tivessem colocado mais do que dois homens na barreira.
O jogo em Chaves sempre esteve aberto, mas com o empate da equipa da casa mais aberto se tornou. A seis minutos do fim, o Benfica voltou a colocar-se na frente, de novo por Rafa, o Noé, mais uma vez a levar a humanidade benfiquista às costas, desta vez com ajuda de um passe a rasgar linhas de Rúben Dias.
Só que estava escrito não no Antigo Testamento mas na história deste jogo que a arca do Benfica meteria água, mesmo com tanto esforço de Rafa para manter o casco seco.
Não terá ajudado a expulsão de Conti, que deixou os encarnados muito expostos para os últimos minutos de jogo. Mas também há mérito do Chaves, que não desesperou à procura do empate que, diga-se, é merecido. Mantendo a sua ideia de jogo, de ataque apoiado, com Stephen Eustáquio como organizador-mor, já estava um 4 ao lado dos 90 quando o carrossel da frente fez a bola viajar até aparecer espaço para Ghazaryan voltar a tentar o seu pontapé-canhão. Que desta vez foi cruzado, sem hipóteses para Vlachodimos.
São dois pontos que foram na enxurrada, em vésperas do clássico com o FC Porto. Não é uma desgraça bíblica para o Benfica, mas o evangelho poderia ser melhor.