Difícil
Uma vitória muito difícil num jogo contra uma equipa que veio à Luz para jogar um futebol troglodita e focado quase em exclusivo em destruir, sem qualquer tipo de ambição que não jogar para o pontinho como se toda a sua existência disso dependesse.
Tínhamos uma indisponibilidade para este jogo. O Pizzi tinha forçado o quinto amarelo contra o Marítimo e o jogador escolhido para o substituir foi o João Carvalho. Já escrevi em várias crónicas que há jogos que me dão uma má sensação logo nos minutos iniciais, e este foi mais um desses. Primeiro porque, perante uma equipa orientada pelo José Mota, um dos dinossauros do futebol português, só se poderia esperar um futebol jurássico. Ou seja, uma equipa completamente enfiada no último terço do terreno, muito pouco interessada em fazer algo mais que não destruir ou queimar tempo, com os jogadores a chutar a bola para a bancada para onde quer que estivessem virados (por algum motivo tivemos tantos pontapés de canto durante o jogo - quando os defesas estava voltados para a sua baliza, aliviavam a bola nessa direcção). Segundo, porque hoje não entrámos no jogo da forma mais entusiasmante. Eu compreendo que deva ser difícil e até frustrante tentar jogar futebol contra uma equipa que se apresenta em campo com a disposição descrita, mas faltou intensidade ao nosso futebol. Faltaram acelerações, movimentações sem bola e até mesmo agressividade. E um futebol mais mastigado e previsível facilitou a tarefa ao adversário. Foram poucas as ocasiões que conseguimos criar durante a primeira parte, e foram até poucos os remates que fizemos, com ou sem perigo. Os maiores safanões no jogo foram quase sempre dados pelo Rafa, que na direita conseguia quase sempre ganhar muito facilmente em velocidade ao adversário directo. Infelizmente, quando optou pelo remate não o fez na melhor direcção, e quando tentava servir alguém havia pouca presença dentro da área, e no meio da floresta de pernas avense havia sempre alguém pronto para aliviar para onde estivesse virado. Estes jogos têm o perigo acrescido de que na menor das ocasiões para fazer a bola chegar perto da nossa área (uma bola parada, normalmente) o adversário desloca a horda de destruidores da sua área para a nossa e pode criar perigo, e de facto ainda apanhámos um susto quando um desses lances resultou numa enorme confusão junto da nossa baliza - acabou por ser assinalado um fora de jogo, mas nem sequer percebi se foi logo ao matulão que primeiro ganhou a bola nas alturas ou se foi posteriormente.
A segunda parte, apesar de começar praticamente com o Zivkovic a desperdiçar a melhor ocasião de golo até à altura, rematando ao lado uma bola que tinha sobrado dentro da área, parecia trazer mais do mesmo. As coisas só começaram realmente a mudar quando o nosso treinador, ainda antes de se completar uma hora de jogo, fez a alteração que se impunha: troca do João Carvalho pelo Jiménez. A partir desse momento passámos a ser muito mais perigosos, e as ocasiões de perigo começaram a suceder-se junto da baliza do Aves. Tal como na primeira parte, também passámos por um enorme susto quase na única vez que o Aves passou do meio campo, com o Paulo Machado a rematar para as nuvens quando estava solto na marca de penálti (este é Super dragão, por isso provavelmente não o vão acusar de estar a facilitar). Mas todos os caminhos do jogo apontavam para a baliza do Aves, onde o Adriano ia alternando momentos brilhantes com ataques de dores súbitas que obrigavam a intervenção médica. E ao minuto setenta e dois, numa altura em que a equipa já parecia começar a acusar algum nervosismo com a manutenção do nulo no marcador, finalmente conseguimos derrubar a muralha defensiva do Aves. Depois de mais uma intervenção brilhante do Adriano, a um bom remate do Fejsa de fora da área (nesta fase o Aves estava tão recuado que até o Fejsa e o Jardel apareciam a jogar junto da área adversária) a bola sobrou para o Cervi na esquerda, que de imediato assistiu para o Jonas, em posição frontal, se limitar a empurrar a bola para a baliza. E para acabar de vez com todas as dúvidas, quatro minutos depois chegou o segundo golo. Desta vez foi o Rúben Dias a aproveitar o ressalto de mais uma boa defesa do Adriano, desta vez a um remate do Jiménez na sequência de um pontapé de canto. Obviamente que o jogo estava nesta altura mais do que decidido. De uma equipa que só vinha para defender pouco se poderia esperar depois de se apanhar a perder por dois golos. Quem ainda não tinha acabado era o Adriano, que com mais uma defesa incrível ainda conseguiu 'roubar' o terceiro golo ao Jardel já perto do final do jogo, após mais um pontapé de canto marcado pelo Cervi (eu já estava a gritar golo).
Não havendo exibições propriamente de encher o olho, eu destacaria alguns dos suspeitos do costume. O Rafa, Zivkovic e o Cervi, por terem sido jogadores que tentaram sempre acelerar o jogo e jogar um futebol mais incisivo, em direcção à baliza adversária - mesmo que por vezes, ao tentarem fazer isto, tenham caído em alguns exageros individuais. O Fejsa foi o pêndulo do costume e fiquei bastante irritado com o amarelo que viu já no período de compensações. Também quero mencionar o Jiménez, porque a sua entrada voltou a ser bastante importante para resolver uma situação complicada. A nossa equipa passou a ser bastante mais perigosa com ele em campo, e mais uma vez esteve directamente envolvido nas jogadas dos golos. Por último, umas palavras sobre o João Carvalho. Voltou a ter uma oportunidade depois de ter desiludido no Restelo, e na minha opinião voltou a não a aproveitar. Para mim não está em causa a qualidade dele, porque sei que a tem. Mas se quer um lugar no plantel do Benfica precisa de conseguir jogar com outra atitude. Sobretudo de jogar com muito mais confiança e não ter medo de arriscar. Não pode é passar a maior parte do tempo a esconder-se do jogo e a disputar cada lance como que a medo.
Está ultrapassado mais um adversário que vendeu cara a derrota. Com mais sofrimento do que aquilo que provavelmente a maior parte de nós esperaria, mas nunca ninguém disse que o caminho seria fácil. Temos que continuar a fazer a nossa parte e a não dar tréguas aos nossos adversários. Tenho a sensação de que nunca se conjugaram tantos esforços dos nossos inimigos dentro e fora do campo para nos derrotar. Só dando o nosso melhor como clube, só fazendo de todos um, poderemos fazer-lhes frente.
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