Apatia
Três pontos somados graças a uma vitória sem grande brilho contra o Feirense, num jogo que não terá deixado a maior parte dos benfiquistas que a ele assistiram minimamente satisfeita com a qualidade do futebol produzido. Salva-se o facto de termos conseguido somar três pontos a jogar mal, mas é incompreensível a aparente apatia da nossa equipa (que contagia as bancadas) depois de chegar à vantagem.
Para falar a verdade, o que seria apropriado sobre este jogo era deixar a página quase em branco. Não gosto de criticar o Benfica, e normalmente acho que se é para falar mal, mais vale ficar calado. E o que é que houve de bom neste jogo sobre o qual poderia escrever? O que já referi no início: conquistámos três pontos. Isso, e os primeiros onze minutos de jogo, período durante o qual jogámos um futebol agradável e interessante. Porquê só durante onze minutos? Porque foi nessa altura que se deu aquele acontecimento fatídico que esta época significa sempre um golpe brutal na equipa da qual ela raramente consegue recuperar: marcámos um golo. Até aí o Benfica tinha exclusivamente ao seu meio campo (que era o contrário do habitual, já que numa daquelas 'jogadas psicológicas' que para mim não passam de falta de etiqueta, o Feirense escolheu o campo ao contrário da tradição na Luz) um Feirense que aos trinta segundos de jogo já tinha a equipa médica em campo e aos cinco tinha o guarda-redes a ser avisado pelo árbitro por perda de tempo na reposição da bola em jogo. O principal dinamismo ao jogo do Benfica era dado pela ala esquerda, onde o Grimaldo e o Diogo Gonçalves combinavam muito bem e em velocidade, rasgando por diversas vezes a defesa do Feirense. Foi numa dessas jogadas pelo lado esquerdo (desta vez depois de um grande passe do Rúben Dias) que o Benfica quase marcou, depois de um passe atrasado do Diogo Gonçalves ter permitido um remate enrolado do Jonas, que o guarda-redes defendeu para canto. Na sequência desse canto, depois de alguns ressaltos a bola sobrou para o Jonas fazer o toque final para a baliza. E a seguir a isto, fechou-se a loja. A equipa foi perdendo progressivamente intensidade e agressividade, deixámos incompreensivelmente de jogar pela esquerda e passámos a preferir a direita, onde o Salvio e o André Almeida faziam uma dupla aterradora, e desaparecemos no ataque. Até porque a ausência de alguém que pudesse criar jogo no centro era por demais notória. Optarmos por dois médios de cariz defensivo num jogo em casa contra o Feirense é uma estratégia que apenas o nosso treinador poderá explicar. Eu passei o jogo todo a tentar perceber exactamente qual era o papel do Filipe Augusto na nossa táctica. Recuperador de bolas certamente que não, porque foram raríssimas as vezes em que ele se empenhou nessa tarefa, ou estava sequer na zona correcta do campo para o fazer, e era o Fejsa quem tinha que se multiplicar para acorrer a todos os fogos em várias zonas do terreno. Criador de jogo também não, porque o que eu o vi fazer mais frequentemente era, quando a equipa tinha posse de bola, recuar até junto dos centrais para receber a bola e imediatamente devolvê-la para os mesmos, ou fazer passes curtos laterais. Uma ou outra vez, arriscava um passe mais longo para uma das alas. Nem estou a referir-me à qualidade ou não da exibição dele, estou apenas a tentar compreender qual é a sua função em campo nesta táctica. O Feirense foi ganhando confiança e posse de bola, e progressivamente conseguiu instalar-se no nosso meio campo, embora apenas por uma vez tenha obrigado o Svilar a empenhar-se, num remate que ainda desviou num jogador nosso. A falta de crença dos nossos jogadores ficou, para mim, bem expressa num pontapé de canto, no qual o guarda-redes e um defesa do Feirense, sem nenhum jogador do Benfica por perto, disputaram a bola, embrulharam-se, e deixaram-na solta no interior da área. Ficaram cinco jogadores do Benfica parados a olhar para ela, e nem um havia perto da pequena área. Mesmo sobre o intervalo, o Feirense voltou a repetir a proeza de deixar uma bola solta na área, e desta vez o Jonas estava no sítio certo mas atirou para a bancada.
Certamente que a segunda parte seria melhor, certo? Errado. Mais do mesmo. Uma produção ofensiva e uma qualidade de jogo inadmissíveis para um jogo do Benfica em casa, ainda para mais contra o Feirense. De positivo o facto do Feirense praticamente não conseguir criar perigo - uma vez mais, apenas por uma vez o Svilar foi obrigado a intervir com maior dificuldade (e foi uma grande defesa) mas é normal que isto tenha acontecido. É que o Feirense não tem mesmo capacidade para fazer muito mais, e nem jogou especialmente bem esta noite. O Benfica é que jogou mesmo muito abaixo daquilo que se exige. De tal forma que conseguimos, por comparação, fazer com que parecesse que o Feirense estava a jogar bem. Nunca abdicámos dos dois médios mais defensivos - o Filipe Augusto incrivelmente fez o jogo todo - e as alterações que foram sendo feitas a partir do banco pouco melhoravam o nosso jogo. O Pizzi foi o primeiro a entrar, mas substituiu o Salvio e foi jogar encostado à ala, o que significou que passou a estar sob a influência malévola da brutal exibição do André Almeida esta noite. Ajudou-nos a ter um pouco mais de posse de bola no meio campo adversário, e deu-nos a ilusão de que numa ou noutra situação até era possível que saísse alguma jogada perigosa dali, mas ficou-se mais pelas ameaças do que pelos efeitos práticos. O Jiménez rendeu o Seferovic, mas apesar de estar um pouco mais mexido (pareceu-me que ainda durante a primeira parte o suíço fartou-se de andar a fazer diagonais à espera que alguém lhe metesse uma bola longa para as costas da defesa, para depois invariavelmente ver os colegas voltarem-se para trás ou para o lado e fazerem um passe curto para um colega) regra geral apenas contribuiu para aumentar a confusão no ataque. Durante este mau período na segunda parte, ainda assim o Benfica conseguiu ter duas grandes situações para marcar o golo da tranquilidade, em que viu jogadores ficarem isolados em frente ao guarda-redes. Na primeira foi o Salvio, desmarcado pelo Seferovic, e na segunda o Diogo Gonçalves, depois de uma combinação com o Grimaldo. Em ambos os casos, o guarda-redes do Feirense conseguiu a defesa. Perto do final, finalmente uma substituição que teve algum impacto no jogo: a troca do Jonas pelo Krovinovic. Depois disto, acho que nos dez minutos finais, finalmente com um criador de jogo na zona central, consegui ver mais mobilidade e imprevisibilidade no ataque do que tinha visto em mais de uma hora. Vi até uma jogada com princípio, meio e fim, que finalizou com o Krovinovic a servir o Jiménez na área para que ele atirasse à malha lateral.
Para destacar alguém no Benfica só mesmo o Fejsa e a dupla de centrais - o que é exemplificativo da falta de inspiração ofensiva da nossa equipa esta noite. O Grimaldo e o Diogo Gonçalves começaram muito bem no jogo e estiveram bem a espaços, mas à medida que a nossa equipa se foi deixando adormecer cometeram erros de excessos de individualismo que resultaram em perdas de bola, em especial na segunda parte. O André Almeida teve uma exibição tenebrosa, o que me deixa a perguntar se por acaso o Alex Pinto não estará já pronto para uma oportunidade. Pior do que isto não faz de certeza
Foram três pontos conquistados num jogo digno de uma boa luta pela manutenção. Chegámos à vantagem e depois foi jogar pelo seguro que não está tempo para grandes correrias. Isto foi manifestamente pouco para aquilo que se espera e se exige do Benfica - acho que só me recordo de ver exibições deste calibre na época do Trapattoni, e nessa altura não tínhamos o plantel que temos hoje. Temos que jogar muito mais e muito melhor. Não foi por acaso que, à saída do estádio, o ambiente entre os benfiquistas não era muito diferente do que seria se tivéssemos empatado o jogo. Estamos preocupados, e o jogo de hoje deu-nos motivos para nos sentirmos assim.
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