domingo, 10 de junho de 2012

PORTUGAL - O ALEMANHA - 1 - INJUSTO


As escrituras sagradas do futebol condenam o herege, o incrédulo: Portugal não acreditou que podia derrotar a Alemanha. Essa é a imagem mais nítida da estreia lusa no Euro2012.

Só a perder, no período de desespero, Portugal entregou a alma ao infinito, usou o desespero como teoria para arquitetar a crença e esteve perto, tão perto, de se reconciliar com a fé e ajoelhar à evidência do milagre.

Falar em milagre será, até, injusto e abusivo. Milagre terá ocorrido em 1986, na aparição de Carlos Manuel em Estugarda, quando as forças eram manifestamente desiguais. Aqui, em Lviv, não. Faltou outro arrojo a Portugal, outra persistência, outra negação à derrota.

É imperativo,naturalmente, falar do pontapé de Pepe à barra, como é sublinhar o desperdício inacreditável de Silvestre Varela a dois minutos do fim. Certíssimo.

Veja aqui o resumo do jogo

Uma análise justa, porém, implica reconhecer o domínio pacífico da Mannschaft ao longo de uma boa parte da querela. Um domínio interrompido aqui e ali por uma equipa de boa-vontade e, lá está, pouca fé.

O golo de Mario Gomez deve ser visto, de resto, como um castigo a quem mais rejeitou a felicidade e um prémio aos que desprezaram a derrota desde o início.

Um ressalto após o centro de Sami Khedira, aos 72 minutos, desviou Pepe da jogada e encomendou a bola à cabeça menos desejada: a de Mario Gomez. 1-0 na Arena de Lviv, Portugal absolutamente obrigado a corrigir o desaire nos próximos dois jogos.

FICHA DE JOGO E NOTAS

A essência do jogo português exige o flanqueamento do jogo, a exploração da capacidade técnica dos extremos, a colocação de Cristiano Ronaldo em constante contato com o filme do jogo. Isso raramente sucedeu.

Não fosse uma arrancada inspiradíssima de Fábio Coentrão e um cruzamento venenoso de Ronaldo, aliás, dir-se-ia que a entrada de Portugal em jogo teria sido uma epopeia de preconceito e vergonha.

Preconceito pelo despudor, pela paixão em ter a bola, por fazer amor com o jogo e usufruir disso ao máximo. Portugal foi frígido, violentado pelo medo de errar, pelo temor de fazer algo que ofendesse a outra parte.

Vergonha por não se sentir confortável, por não se sentir capaz de convencer uma audiência perscrutadora e exigente. A seleção foi uma espécie de passeio dos melancólicos, tolhidos pelo aborrecimento de não sentir o pulsar da conquista.

Os jogadores portugueses: um a um

Taticamente, é verdade, a equipa até reagiu bem ao avanço germânico. Os centrais bloquearam Gomez, Coentrão deu consistência e profundidade, o trio do meio-campo foi disfarçando a inferioridade física e Rui Patrício mostrou enorme confiança.

Até aí, tudo bem. E o resto? Uma relação exige dar e receber. Neste caso, exige ter avançados mais participativos, ousados. A nossa seleção só os teve na tal fase de desespero, ao perceber que a derrota lhe bateu com a porta e o deixou desorientado e de malas na mão.

Portugal, insistimos, foi ateu em causa própria. Clamar por ajuda etérea em eras de crise é típico de mentes pequenas. O sintoma não é compatível com a ambição ao título europeu.

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