domingo, 17 de junho de 2012

PORTUGAL - 2 HOLANDA - 1 - JUSTO

A Bola de Ouro, as chaves para o Paraíso, sete virgens. Ofereça-se a Cristiano Ronaldo o que o homem desejar. Genial, diabólico, português! Dois golos soberbos, assistências deslumbrantes, comprometimento budista com a causa maior. Portugal está nos quartos-de-final do Euro2012 e tem o melhor jogador do torneio na linha da frente.

Cristiano Ronaldo, senhores. Tão criticado há quatro dias, venerado nesta crónica. A reação às palavras duras foi perfeita, exemplar. Não só pelos golos, insistimos, mas pela nobreza de virtudes e intenções colocada nos 90 minutos do jogo.

Frio, assassino, ao disparar o passe sublime de João Pereira no primeiro golo; tranquilo, genial, ao segurar a bola vinda de Nani, a saudar o pobre Stekelenburg e a acometer a nação laranja de um desmaio coletivo sem precedentes no segundo. Ronaldo chegou atrasado ao Euro2012 e com vontade de compensar todo o inconveniente causado pelo atraso.

Uma história bonita, uma narrativa heroica escrita pelo punho de Paulo Bento e companhia.

Nem é bom lembrar o sofrimento imposto pela Holanda nos primeiros 15 minutos; diabo leve para terras de ninguém o golo madrugador de Van der Vaart e abençoe as duas oportunidades falhadas pelos orange boys no final.

Venha daí a Rep. Checa, algoz inclemente no Euro-96.

Ronaldo, já se percebeu, foi brilhante. Sim, totalmente. E o que escrever do enorme João Moutinho, do insustentável Nani, dos graníticos Pepe e Bruno Alves? O conjunto nacional foi mais equipa do que nunca, teve altruísmo, dignidade, ambição.

O período seguinte ao golo holandês é, por exemplo, um massacre. Antes de Ronaldo empatar, a Seleção Nacional falhou uma, duas, três vezes oportunidades mais do que claras. Tudo corrigido a tempo, tudo metido num canto escuro deste texto, para disso nos olvidarmos.

Não há passado que torture, memória seletiva que apunhale, registo histórico que nos estremeça. Portugal só tem de se preocupar em amar o presente, dele fazer parceiro até ao limite.

Tão ao limite como a existência alienada de Keith Richards, tão ao limite como a carreira dos seus Stones. Um presente com futuro assegurado, pois.

Um a um: a análise aos portugueses

Desde cedo se percebeu que a Holanda ousava ser gigante e esquecia o barro que calçava nos pés. A qualidade de Van Persie, Van der Vaart, Sneijder e Robben não ecoava na defesa.

Os banais Mathijsen e Vlaar nunca lidaram com o tempo e o espaço circundantes, os imaturos Van der Wiel e Willems soçobravam numa fragilidade comovente diante da dimensão plena de Cristiano Ronaldo e Nani.

Adivinhava-se um Portugal demolidor, um Portugal ganhador. A defesa funcionava, o meio-campo servia os intentos do conjunto e Hélder Postiga jogava como complemento às diatribes dos colegas de setor.

Vários contra-ataques viperinos, deambulações extraordinárias e um guarda-redes laranja a adiar até ao impossível aquilo que se anunciava em pompa e circunstância.

Até Cristiano Ronaldo se lembrar que o presente não é para adiar, é para usufruir. I can't get no Satisfaction. Queremos mais!

Entreguem-lhe o Céu e a eternidade. Ronaldo é nosso, o Euro2012 pode ser dele.

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