Fracasso
Não vou dizer que foi completamente inesperado, porque desde que o sorteio se realizou que achei que nunca seriam favas contadas conseguirmos o apuramento num único jogo, a disputar fora de portas (fomos o único cabeça de série a ter o azar de jogar fora). Depois fiquei mais desconfiado quando nos caiu na rifa o árbitro alemão que nos roubou uma Liga Europa - não que ele acabasse por ter alguma influência no resultado ontem, apenas acho que não nos dá sorte. A verdade é que, achando eu que o Jorge Jesus é apenas mais um treinador e não um iluminado com o toque de Midas, sendo que o que o diferencia é que temos que pagar muito mais por ele do que pagaríamos por qualquer outro treinador da mesma valia, nunca achei que fôssemos fazer algum tipo de brilharete na Champions, mesmo com os milhões investidos. Ainda me recordo demasiado bem de todas as outras carreiras feitas nesta prova sob o comando dele para ter qualquer tipo de ilusões. Mas também não esperava cair logo no primeiro jogo e nem sequer lá chegarmos.
Nem vou dizer que a culpa é exclusiva do treinador, porque de há algum tempo a esta parte que tenho a má sensação de que existe uma falta de ambição e uma espécie de espírito conformista e até derrotista instalado na nossa equipa, personificado nalguns elementos específicos do plantel - não vou nomeá-los, mas julgo que quem partilhar desta minha opinião os saberá identificar com alguma facilidade. A forma escandalosa como o último campeonato foi entregue de mão beijada ao Porto, com uma transfiguração do dia para a noite da primeira volta para a segunda não pode ser uma coisa da responsabilidade exclusiva do Bruno Lage. Já vejo futebol há alguns anos e nunca vi uma equipa soçobrar de forma tão descarada. A sensação com que fiquei foi a de que houve ali muita gente a puxar para baixo, ou no mínimo sem vontade de dar aos braços quando a água começou a chegar ao queixo. Por isso mesmo, apesar dos milhões gastos, enquanto certos elementos se mantiverem no plantel vou continuar sempre a olhar para a nossa equipa com alguma desconfiança. Quanto ao jogo, foram mais ou menos uns noventa minutos típicos do campeonato português. Uma equipa completamente enfiada na sua área a defender com unhas e dentes e a tentar surpreender se possível no contra-ataque, e o Benfica com uma posse de bola avassaladora. Infelizmente, tudo o resto foi também típico do Benfica dos últimos meses. Sinceramente, não vi nada de diferente em relação aos tempos do Bruno Lage ou do Veríssimo. Muita posse de bola inconsequente, muito afunilar do jogo - os dois extremos com o 'pé trocado' (Pedrinho e Everton) vinham sempre para dentro, e nenhum dos laterais deve ter ganho uma única vez a linha de fundo, pois optavam quase sempre por cruzamentos assim que chegavam perto da projecção da esquina da área, que saíam quase todos directos para os defesas - não que o poderio aéreo do Seferovic pudesse propriamente ser uma ameaça caso os cruzamentos fossem bem medidos, já que numa das poucas vezes em que a bola saiu com conta, peso e medida, do pé do Everton, o Seferovic encarregou-se de nem sequer acertar na baliza quando estava sozinho quase em cima da pequena área. Foi tudo um cenário demasiado familiar. Desperdício em barda das ocasiões criadas, e depois o habitual desacerto na defesa a permitir que o adversário (seja qual for) marque em cada meia oportunidade que cria. Num contra-ataque em que um jogador adversário ganhou a linha de fundo pelo lado do André Almeida, o Vertonghen acabou por fazer autogolo quando faltava já menos de meia hora para o final, e a partir daí foi o descalabro a que estamos habituados. A equipa perdeu a cabeça e do banco também não veio grande lucidez - por exemplo, o Taarabt já tinha rebentado há muito e depois de uma boa primeira parte passou a segunda a acumular disparates sem que se mexesse no meio campo - e as substituições foram aliás também típicas da época passada, ou seja, a perder mandam-se avançados lá para dentro: Darwin, Vinícius e Rafa. Para fazer as coisas ainda piores, deu-se o golpe que se calhar muita gente quase adivinhava: o dispensado Zivkovic foi lançado em jogo pelo PAOK, e oito minutos depois de ter entrado foi por ali fora e face a uma fraca oposição do Grimaldo flectiu para o meio e marcou, com o Vlachodimos a parecer-me mal batido. Faltavam treze minutos para acabar e acho que ninguém ficou com quaisquer ilusões sobre o desfecho da eliminatória. Ainda reduzimos nos descontos, com o Rafa a mostrar que apesar de ser baixinho consegue ser mais eficaz de cabeça do que o Seferovic, mas depois veio o apito final e com ele o primeiro grande fracasso da época.
Objectivamente, o maior investimento que já fizemos, no qual se inclui o treinador mais caro da nossa história, resultaram numa derrota num estádio onde mesmo com público nunca tínhamos perdido e numa eliminação que é desastrosa em termos desportivos e financeiros. Como não quero deixar dúvidas sobre a minha opinião, repito que detesto o Jorge Jesus e que por mim nunca mais voltaria a pôr os pés no Benfica. Não acho que seja a solução para os nossos problemas, mas agora que o mal está feito e ele veio mesmo, para bem do Benfica espero que seja bem sucedido. Mas tenho a convicção de que algo mais terá que mudar naquele balneário, porque senão será difícil qualquer treinador ter sucesso. E se não é para mudar, então era escusado estar a gastar tanto num treinador para termos os mesmos resultados que teríamos com o Lage ou qualquer outro. Para já, o primeiro teste foi um rotundo fracasso, talvez mesmo o maior fracasso desportivo do Benfica dos últimos anos. Não é o cartão de visita ideal para o regresso do 'filho pródigo' que me tentaram vender.
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