quarta-feira, 26 de junho de 2024

EURO 2024 PORTUGAL - 0 GEORGIA - 2

 Portugal falhou o pleno na fase de grupos, e agora vai defrontar a Eslovénia nos oitavos de final do Euro 2024

Geórgia 2-0 Portugal: Chumbaram todos
A desilusão dos jogadores de Portugal após o primeiro golo da Geórgia FRIEDEMANN VOGEL

Portugal fechou a fase de grupos do Euro 2024 com uma derrota diante da Geórgia por 2-0 em Gelsenkirschen, esta quarta-feira. A seleção nacional, que já tinha assegurado o primeiro lugar do grupo na ronda anterior, termina com seis pontos, e vai defrontar a Eslovénia nos oitavos de final.

Os golos de Kvaratskhelia e Mikautadze colocam a Geórgia, estreante em Europeus, nos oitavos de final. Um feito inédito para o país.

FOTOS: As melhores imagens do Portugal-Geórgia

A revolução falhada de Martínez

Na revolução operada por Roberto Martínez na equipa titular (só restaram Cristiano Ronaldo e Diogo Costa do jogo com a Turquia), a cada soldado foi dada a missão de provar o seu valor e lançar a sua candidatura a uma eventual promoção no onze. Isto porque, contrariamente a outros campeonatos, a matemática para Portugal ficou fechada logo à segunda jornada. Logo, vencer para ser, à par da Espanha, a única seleção a ganhar todos os jogos da fase de grupos era o objetivo.

Era ganhar ritmo e confiança, jogar à-vontade, mas não à-vontadinha como entendeu António Silva logo no segundo minuto de jogo. Passe disparatado para Mikautadze, uns metros de corrida e bola na hora certa para bilhar a estrela maior da Geórgia. Khvicha Kvaratskhelia correu isolado, bateu cruzado e deixou Diogo Costa frustrado. Primeiro golo do avançado do Nápoles neste Euro 2024, o seu 16.º em 33 jogos pela Geórgia.

Nem o forte calor que se fazia sentir em Gelsenkischen à hora do jogo - 31 graus no abafado Veltins Arena - podia servir de desculpas para a lentidão de processos de Portugal. Tudo a duas velocidades, parado e devagar, sem vontade, sem fome de vencer. Toques para trás e para o lado, ninguém a tentar desmarcar-se nas costas dos centrais para quebrar a densa barreira defensiva georgiana. Só aos 42 minutos Diogo Dalot tentou esse movimento, que ninguém respeitou.

O pontapé na monotonia do jogo português foi dado por Cristiano Ronaldo, num livre que Mamardashvili sacudiu com os punhos.

Taticamente pouco se podia destacar de Portugal. Os passes falhados, mesmo sem qualquer pressão, eram o espelho de uma equipa desconcentrada, desligada do jogo. Emocionalmente a equipa também não estava bem. Cristiano Ronaldo, que fartou-se de esbracejar, a pedir todas as bolas, viu amarelo por protesto, num lance onde pedia penálti. Pedro Neto viu amarelo por simulação.

A Geórgia, obrigada a vencer para se apurar, corria mais, lutava mais, metia o pé, pressionava, empurrava, metia mais o físico. Portugal não estava a gostar, até porque o árbitro suíço Sandro Schaerer não estava com ouvidos para queixas portuguesas. Era para jogar.

Com dificuldades em entrar na área, os remates de longe eram uma solução. João Palinha testou a pontaria duas vezes, aos 23 e 43 minutos para fora e para defesa de Mamardashvili. João Neves e João Félix também tentaram, com o mesmo desfecho.

Os solados portugueses pediam uma pausa na batalha de Gelsenkirschen, que chegou com o intervalo. Eram precisas ideias novas, estratégias diferentes para bater os que estavam no outro lado da barricada. O comandante Roberto Martinez deu-lhes um voto de confiança, excepto para João Palhinha, rendido por Ruben Neves.

De 3-4-3 para 4-3-3 mas... tudo na mesma

A conversa ao intervalo parecia fazer efeito, com Portugal a criar duas oportunidades logo a abrir, por Cristiano Ronaldo e Danilo em dois lances de bola parada, mas os remates foram desviados pela floresta de pernas. A melhor oportunidade de Portugal saiu dos pés de Diogo Dalot aos 54 minutos, num remate em arco em zona central, com GPS para golo, não fosse a monstruosa intervenção de Mamardashvili. Provavelmente, a defesa deste Europeu.

Antes deste lance, tinha havido uma queda na área lusa, num lance entre Gonçalo Inácio e Lochosvilli. O VAR avisou o árbitro que, após rever o lance no monitor, marcou grande penalidade para a Geórgia. Mikautadze não tremeu e atirou colocado, para o fundo das redes. A estirada de Diogo Costa não foi suficiente.

Diga-se, aliás, que o 2-0 dos georgianos podia ter chegado mais cedo, os 50, num remate falhado de Kvaratskhelia, após corte falhado de Gonçalo Inácio na área lusa. Incrível!

Aos 60 minutos, Roberto Martínez disse, 'já chega' e trocou Cristiano Ronaldo e António Silva (erro de casting) por Nelson Semedo e Gonçalo Ramos. Portugal desfazia o 3-4-3 (na verdade, António Silva, Gonçalo Inácio e Danilo formavam o trio de centrais, Diogo Dalot e Pedro Neto eram os alas, no apoio a Ronaldo, João Félix e Francisco Conceição), passava para o 4-3-3, na tentava de resgatar algo do jogo, nem que fosse apenas o orgulho de lutar por algo diferente.

Cristiano Ronaldo saia sem marcar na fase de grupos, algo que aconteceu pela 1.ª vez em 11 fases finais de provas de seleções.

15 minutos depois, novas mexidas, com as saídas de Pedro Neto e João Neves e as entradas de Diogo Jota e Matheus Nunes. A verdade é que o problema não se resolvia com a mera de troca de jogadores. Era mental. Os georgianos quiseram ganhar o jogo desde o primeiro minuto, Portugal entrou a ver no que dava, sem qualquer preocupação com o resultado.

Depois do 2-0, os homens do francês Willy Sagnol acantonaram-se ainda mais perto da baliza de Mamardashvili, para defender as trincheiras com unhas e dentes. O resultado colocava-os nuns oitavos de final e nada iriam fazer para estragar esse momento.

Nos minutos finais, Diogo Jota falhou um golo cantado, Mamardashvili voltou a brilhar a remate de Dalot, e a Geórgia quase que terminava com o 3-0, em dois lances de contra-ataque.

Portugal, que já tinha assegurado o primeiro lugar do Grupo F na ronda anterior, vai defrontar a Eslovénia no dia 01 de julho em Frankfurt, em jogo dos oitavos de final. Já a Geórgia, que faz história ao estar nos oitavos de final de um Europeu logo na sua estreia, medirá forças com a Espanha.

domingo, 23 de junho de 2024

EURO 2024 PORTUGAL - 3 TURQUIA - 0

 Com o triunfo frente à Turquia, a seleção nacional garante o acesso aos oitavos-de-final e assegura o primeiro lugar do Grupo F.

Portugal 3-0 Turquia: Calculadora? Não, obrigado
Os jogadores portugueses celebram o golo de Bruno Fernandes. (Photo by OZAN KOSE / AFP) AFP or licensors

Dois jogos, seis pontos. Depois da dúvida provocada pela vitória sofrida no primeiro encontro, a seleção portuguesa não só garantiu frente à Turquia a qualificação para os oitavos-de-final, como assegurou o primeiro lugar do grupo. Um dado relevante, uma vez que, em teoria, consegue evitar um adversário mais sonante na próxima fase do Euro.

Depois de uma entrada impetuosa da Turquia, que apesar de tudo raramente fez estremecer a muralha lusa, Portugal conseguiu colocar em campo a sua supremacia qualitativa e com a ajuda preciosa de uma sequência de erros defensivos cometidos pelo adversário. Um dado que em nada retira mérito à seleção, que soube aproveitar com mestria as ofertas da Turquia.

Bernardo Silva abriu o marcador, Samet Akaydin marcou na própria baliza e Bruno Fernandes, já na segunda parte, encostou para o fundo das redes uma bola oferecida de bandeja por Ronaldo.

A título individual, destaque para a enorme exibição de Pepe, que aos 41 anos continua a mostrar não os ter. Um jogo soberbo do experiente defesa, que aos 83 minutos recebeu uma merecida ovação aquando da sua substituição. Uma decisão de Martínez que ilustra bem a importância de Pepe, cuja gestão física exige-se criteriosa e muito bem medida. Tal como aconteceu.

Venham de lá os 'oitavos', mas antes, na próxima quarta-feira, há duelo com a Geórgia.

FOTOS: Veja as melhores imagens do jogo

A vitória da razão sobre a emoção

E de repente, qual teletransporte, estávamos em Istambul. Foi a sensação com que qualquer português presente no Signal Iduna Park ficou no início do fervoroso Portugal-Turquia.

Até para os mais apaixonados por futebol, chegava a ser incómodo o ensurdecedor apoio turco, em clara maioria populacional e sonora nas bancadas do Estádio do Dortmund, mais do que habituado a estas andanças.

Empurrados pelos cânticos quase bélicos, a Turquia cedo se aproximou da baliza de Diogo Costa e com perigo. Apesar disso, logo aos 2 minutos, o ímpeto turco, um tanto ou quanto descontrolado taticamente - como já se previa - permitiu um contra-ataque rápido após uma perda de bola em zona proibida.

O aviso foi deixado por Ronaldo, mas sem perigo. O mesmo não se pode dizer do que aconteceu 5 minutos depois, agora na baliza de Diogo Costa. Kerem Akturkoglu esteve muito perto de abrir o marcador, mas Rúben Dias disse presente com um corte 'in extremis'.

Portugal mostrava alguma dificuldade em segurar a bola, muito por causa da pressão exercida pela Turquia, muito forte nos duelos e quase sempre a ganhar as segundas bolas. Apesar do gigante coração, à seleção turca faltava, aqui e ali, maior discernimento e sobretudo equilíbrio sempre que perdia a bola.

O exemplo mais flagrante coincidiu, aos 22 minutos, com o golo de Portugal. Tudo começou em Rafael Leão, um dos melhores até então, que soube ver a tempo e horas a desmarcação de Nuno Mendes. Ao lateral bastou levantar a cabeça e encontrar Bernardo Silva -  feliz só e abandonado no meio da área -, ele que foi tão criticado no jogo com a Chéquia. De frente para a baliza, o médio do City atirou sem hipóteses para Altay Bayındır.

Quase sem tempo para digerir o golo sofrido, que afetou notoriamente a equipa turca, Portugal lançou-se para o ataque à boleia de Cancelo. O passe para Ronaldo, que se desmarcava, não chegou ao destinatário, mas teve o efeito desejado. E tudo porque Samet Akaydin decidiu atrasar a bola para o guarda-redes sem levantar a cabeça. A bola, essa, acabou no fundo das redes, apesar do esforço inglório de Altay Bayindir, que tudo tentou para evitar o segundo golo. Uma trapalhada descomunal do defesa central turco que se representava um duro golpe para as ambições turcas, já melindradas com o primeiro golo encaixado.

Foi o sexto autogolo neste Euro 2024, num registo que caminha a passos largos para ultrapassar o registo recorde de 11 golos marcados na própria baliza, no Euro 2020.

A vencer por 2-0, a seleção assentou o seu jogo, mais tranquila, menos titubeante no processo ofensivo, mas nem por isso se poupou a um calafrio. Mais uma vez por intermédio de Akturkoglu, a Turquia esteve perto de reduzir a desvantagem. O extremo passou habilmente pela defensiva portuguesa, mas no momento chave perdeu o duelo com Diogo Costa, que após um remate rasteiro defendeu para canto.

Ao fim dos primeiros 45 minutos, apenas uma má notícia para Portugal. O amarelo para Rafael Leão por simulação, o segundo neste Europeu e pelo mesmo motivo do primeiro, que deixa o avançado do AC Milan fora do jogo com a Geórgia. A seleção nacional ia para o intervalo a vencer, e de forma justa, depois de resistir à fortíssima entrada em campo da Turquia, sabendo aproveitar as falhas defensivas e a pouca estabilidade emocional turca, muita crítica da arbitragem na maioria dos lances disputados.

A vencer por 2-0, Martínez lançou para o jogo Rúben Neves, para o lugar de Palhinha, e Pedro Neto, para o lugar do já amarelado Rafael Leão. De forma quase antagónica relativamente ao início da primeira parte, a segunda metade começou claramente com ascendente de Portugal, muito tranquilo e sem se expor a sobressaltos. Por outro lado, à Turquia continuava a faltar-lhe sobretudo discernimento, com uma série de erros não forçados. Nos primeiros 10 minutos um remate de muito longe de Yusuf Yazici foi o melhor que a Turquia conseguiu, o que se revelava obviamente insuficiente para a desejada reviravolta.

A tranquilidade de um lado e a falta dela do outro, deixavam evidente o desfecho da partida. E se dúvidas houvesse, a trapalhada de Zeki Çelik, com uma tentativa de corte completamente falhada, dissipou-as. Na cara do golo ficou Cristiano Ronaldo, que abdicou do rebuçado para que Bruno Fernandes adoçasse o pé.

Assim foi. O lance, de tão estranho pela tamanha facilidade com que tudo aconteceu, chegou a parecer precedido de fora-de-jogo. Mas não. Tudo limpo e estava feito o terceiro, dez minutos depois de ter arrancado a segunda parte. Com ele, moldava-se o marcador final com uma machadada quase definitiva nas aspirações turcas, suficientemente abaladas para vislumbrar qualquer reação.

E de facto, o decurso do jogo provou isso mesmo. Uma segunda parte sem história, que até permitiu fazer uma gestão do esforço físico dos titulares, já a pensar nos próximos jogos, especialmente o dos oitavos-de-final.

Aliás, do segundo tempo, ficaram sobretudo as incursões dos adeptos mais destemidos, prontos a fazerem sprints em direção a Cristiano Ronaldo, desagradado com as evidentes fragilidades da segurança. Um deles, uma criança que não tinha mais do que 8 anos, levou no telemóvel a fotografia e no coração aquele momento, que nunca esquecerá.

Saiu sob um enorme aplauso dos adeptos turcos, que se pudessem, atrevo-me a dizer, faziam o mesmo. Porque à falta de um resultado melhor, Ronaldo era mesmo o ponto alto da tarde. E ali tão perto. Demasiado perto, percebemos agora.

*Reportagem na Alemanha com Evandro Delgado e Afonso Trindade de Araújo, enviados especiais do SAPO Desporto