Para conquistar um titulo de campeão nacional é preciso que todas as peças do 'puzzle' encaixem e se apresentem ao mais alto nível para derrotar a competição feroz proporcionada pelos outros candidatos à conquista do troféu. O SAPO Desporto analisou ao pormenor as revelações, as confirmações e as melhores contratações da temporada, que ajudaram Ruben Amorim a conduzir o Sporting ao 20.º troféu da I Liga.

Contratações escolhidas a dedo

O plantel da temporada passada já tinha dado muito bem conta de si, mas Amorim sentiu que era preciso algo mais para completar o grupo e colmatar alguma lacunas identificadas em 2022/23. Para isso, o Sporting contratou Mortem Hjulmand e Viktor Gyokeres, no verão, completando o rol de transferências com a chegada de Koba Koindredi no inverno.

Gyokeres chegou, viu e...venceu. O avançado sueco provou no imediato a sua importância na equipa e foi o abono de família dos leões, tendo contribuído com (muitos) golos decisivos, além de assistências. O avançado permitiu a Ruben Amorim ter mais alternativas na forma de jogar dos leões, passando de um jogo quase sempre mais curto e posicional, para uma forma de atacar mais direta, aproveitando a capacidade de Gyokeres de ganhar a profundidade para deixar os adversários mais desconfortáveis.

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Além disso, o sueco, de 25 anos, é o primeiro a pressionar os oponentes, dando mais tempo aos colegas para recuperar posições em transição defensiva e a sua capacidade física permite-lhe correr o jogo todo, sempre em alta intensidade. Esta contratação traduziu-se em golos, mas também foi benéfica noutros aspetos do futebol leonino, além de ter permitido aos adeptos verem no homem da máscara um novo ídolo e já ninguém se lembra que custou 20 milhões de euros aos cofres do leão.

Hjulmand também veio para Alvalade na mesma ótica de Gyokeres, para tentar agarra a titularidade depois de uma bela época 2022/23 no Lecce. A qualidade existente era notória, mas havia dúvidas se conseguiria impor-se numa equipa que luta por títulos. No entanto, não foi preciso muito para obter resposta, uma vez que o dinamarquês surpreendeu tudo e todos, impondo-se categoricamente e transformando-se num esteio defensivo, que faz lembrar João Palhinha.

O médio defensivo, de 24 anos, é dono de uma agressividade brutal na procura da bola e parece estar sempre no sítio certo para intercetar os ataques adversários. É um ponto de equilíbrio na construção ofensiva e tem sido o elo de ligação perfeito entre a defesa e o meio-campo. Já assumiu o papel de líder do balneário sportinguista e aparenta ter capacidade para voos ainda maiores. A par de Gyokeres, prova que por vezes mais vale qualidade do que quantidade e justifica os 18 milhões de euros investidos no seu passe.

O caso de Koba Koindredi é distinto dos anteriores. O médio com raízes na Nova Caledónia impressionou na primeira metade da época ao serviço do Estoril e ganhou um convite para integrar a turma de Ruben Amorim. Chegou já com o comboio em andamento e teve dificuldades para acompanhar o ritmo, tanto que ainda não somou muitos minutos, mas tem tido algumas oportunidades para mostrar ao treinador que pode ser uma mais-valia.

Dono de uma capacidade física impressionante, tem semelhanças a Matheus Nunes no estilo de jogo, pela capacidade de transporte de bola e a chegada fácil à área. Ainda tem muito para evoluir em termos táticos, especialmente para jogar num meio-campo a dois, mas tem mais do que capacidade para crescer e conseguir conquistar um lugar no onze leonino, até porque ainda só tem 22 anos.

As revelações que aproveitaram o espaço livre

Se todos os anos há jogadores cujo impacto na equipa já é esperado pela sua qualidade, há boas surpresas que superam as expectativas e se tornam soluções importantes. Franco Israel, Eduardo Quaresma, Geny Catamo e Francisco Trincão são os jogadores que destacamos e que consideramos encaixarem-se nestes padrões.

Começando pela baliza, Franco Israel começou a época como suplente, mas beneficiou de uma lesão de Antonio Adán para assumir a baliza leonina em definitivo a partir da primeira mão da meia final da Taça de Portugal, contra o Benfica. O uruguaio tem crescido em contexto de jogo e tem provado que é uma solução muito válida para substituir o espanhol que, aos 36 anos, já não está no auge das suas capacidades. Israel é exímio entre os postes, tendo reflexos muito rápidos, mas ainda tem que evoluir nas saídas, que é a parte do jogo em que denota menos confiança. Os minutos vão ajudá-lo a crescer, mas parece um jogador com capacidade para assumir a baliza leonina a longo prazo.

Passando para Eduardo Quaresma, o jovem defesa central retornou após um período de empréstimos a Tondela e Hoffenheim, que lhe parecem ter feito bem. Uma das coisas que Amorim considerava que lhe faltava era a maturidade competitiva e Quaresma regressou com essa lacuna colmatada, demonstrando uma maior concentração nas partidas. A velocidade e qualidades técnicas defensivas sempre estiveram presentes e o facto de ter aliado as capacidades mentais a esta vertente fizeram do central um jogador mais completo que poderá aproveitar eventuais saída de de Inácio e Diomande para se afirmar em definitivo.

Subindo no terreno Geny Catamo deve ter sido o que mais evoluiu. Chegou conotado como extremo, mas o treinador do Sporting viu-lhe potencial para desempenhar funções na ala. O moçambicano uniu o virtuosismo na hora de atacar a uma grande disciplina defensiva quando necessária e tem-se revelado muito importante na manobra da equipa. De dispensado passou a titular e foi a maior revelação da temporada leonina. 

Por fim, Francisco Trincão. Após ter brilhado no SC Braga não conseguiu vingar no Barcelona e voltou a Portugal para renascer ao serviço do Sporting. Após um período sem grande brilhantismo, o que muitas vezes lhe valeu a posição de suplente, agora parece ter desabrochado e tem sido dos elementos mais desequilibradores da frente de ataque dos leões. Aliou a capacidade de drible aos números e tem sido decisivo em muitos dos jogos, o que lhe até valeu uma chamada à Seleção Nacional (que não se confirmou por lesão). Aos 24 anos ainda tem espaço para crescer mais e, a este ritmo, ainda tem hipóteses de protagonizar mais uma transferência milionária e atingir patamares mais elevados.

As confirmações de potencial

Se uns foram surpresas, outras apenas confirmarem as primeiras impressões deixadas. Diomande, Morita e Pedro Gonçalves provaram que não foram fogo de vista e foram decisivos no sucesso leonino desta temporada.

O central costa-marfinense chegou a meio da temporada passada e não demorou a conquistar o lugar. Desde cedo provou que tinha competências acima da média, tanto pela sua imponência física, como pela velocidade e jogo defensivo. Já provou que é jogador para outro nível e depois de amadurecer e limar algumas arestas próprias da idade, relacionadas com impetuosidade e uma melhor leitura dos lances, poderá possivelmente tornar-se num dos melhor centrais do Mundo.

Já Hidemasa Morita é outro tipo de jogador. Discreto, quase não se dá por ele em campo, mas é fundamental para o equilíbrio do onze. Já se tinha complementado bem com Matheus Nunes e agora faz uma parceria diferente com Hjulmand, mas que não fica nada atrás da do ano passado. O nipónico tem muita qualidade de passe de posicionamento, tendo aprendido este ano a chegar à área com mais frequência para ganhar expressão na parte ofensiva do jogo. É um dos esteios da equipa e, aos 28 anos, parece estar no pico das suas capacidades, algo que provou especialmente este ano, sendo essencial nos planos de Amorim.

A situação de Pedro Gonçalves é especial. Na primeira temporada ao serviço do Sporting teve a melhor etapa da carreira, tanto em termos de números como de influência no jogo, mas este ano não atingiu o mesmo brilhantismo, embora seja claramente dos melhores jogadores da I Liga. Embora não tenha tido tanto impacto direto na equipa em termos de golos, em comparação com o período anteriormente referido, continua a ser dos mais irreverentes e dos que mais contribuiu para o elevado número de vitórias, ajudando a equipa com passes decisivos, golos oportunos e muito futebol. A cada ano que passa parece mais perto de sair de Portugal e já provou que tem qualidade para tal. É um dos líderes do Sporting em campo, não liderando pela palavra, mas sim pelas ações e nisso é de classe mundial.

Estes são os grandes destaques desta temporada, que fizeram do Sporting novamente campeão. Seguramente será difícil manter todas estas estrelas, mas os leões parecem ter encontrado o caminho do sucesso e quando se perdem uns, têm aparecido outros para colmatar a vaga, o que leva a crer que este projeto tem pernas para andar.